Como você denominaria este curso? (clique e leia)

Alguns títulos possíveis:

Aulas práticas de machismo para mulheres

Artificialidade também se aprende

Sobrevivência para mulheres. A selva capitalista

[…]

Resumindo, para você não perder tempo, a matéria fala de um curso para mulheres. Nesse curso, elas aprendem como se portar exatamente do jeito que os homens ricos esperam que elas se portem: com delicadeza, feminilidade, dependência e… futilidade.

Não vou dizer que o mote do curso não seja um tapa de realidade. Diz a fundadora e professora:

“Não foi nossa culpa que elas fizeram isso (referindo-se ao exagero feminista de queimar sutiãs), mas precisamos resgatar a feminilidade e a tolerância se quisermos relacionamentos duradouros”

Os parênteses são meus. De fato, concordo com ela. Mulheres exigentes demais terão dificuldade de encontrar um que lhes aguente. O que lhes restará serão homens de personalidade fraca e submissos, o que, conforme demonstrou a popularidade do livro 50 Tons de Cinza, não é bem o que as mulheres desejam de modo geral.

Já falei sobre essa questão da exigência demasiada nos relacionamentos aqui, clique e leia: 1, 2, 3. Acredito mesmo que, não só mulheres, mas todos nós precisamos ser mais tolerantes e condescendentes com os defeitos e dificuldades dos nossos parceiros, sob o risco de ficarmos sozinhos.

Porém o curso vai muito além dessa visão tolerante, estimulando as mulheres a, se não se tornarem dependentes, ao menos parecerem dependentes, como por exemplo, não pedirem algo diretamente ao garçom num restaurante. Claudia Regina sentiria desgosto.

Complicado

Por um lado, o curso parece mesmo risível, nonsense, e o próprio tom debochado da jornalista revela sua visão crítica quanto a proposta do curso. Aparentemente, ele vai na contramão de tudo que as mulheres querem. Mas…

…o que as mulheres REALMENTE querem?

Será que o sonho de toda mulher é combater o machismo? Ou será que a maioria das mulheres não acha esse empreendimento audacioso e exigente demais? Será que tudo que elas não querem é uma vida confortável e estão tentando encontrar essa vida ao seu próprio modo, se adaptando a realidade em vez de confrontá-la?

Autoras feministas costumam falar como se toda e qualquer mulher pensasse como elas. Como se toda mulher DEVESSE pensar como elas. Como se as mulheres que não pensam como elas estivessem preponderantemente erradas. E que as mulheres que não pensam como elas assim o fazem por influência cultural. Como se a influência cultural tivesse retirado das mulheres a capacidade de pensar e decidir por elas mesmas e de, eventualmente, optarem por se adaptar ao mundo, em vez de tentar mudá-lo.

Ora, a demanda para esse tipo de curso, aqui criticado, de mulheres que pagam CARO para aprenderem a ser mais mulheres, e o número IMENSO de mulheres que já agem assim naturalmente, assumindo com naturalidade o papel feminino que nossa cultura reserva a elas, mostra que ser independente não é o projeto de boa parte das mulheres. Ser independente dá trabalho, exige esforço, comprometimento, dedicação, enfim, todas aquelas qualidades que já conhecemos. Mas nem toda mulher está afim de seguir por esse caminho.

Muito mais fácil é conquistar o que a ministrante do curso chama de “partidão”. Um homem rico. Não importa se ela vai ter que se sujeitar a se comportar do modo como ele espera. A verdade, é que para esse grupo de mulheres, e muitas outras, as quais já ouvi criticarem as feministas porque por causa delas as mulheres hoje precisam vender a alma no mercado de trabalho, enfim, para todo esse grupo numeroso de mulheres, se enquadrar no comportamento padrão e agir como uma menininha femininazinha delicadinha sempre à disposição do marido é um preço muito mais barato para alcançar um padrão de vida elevado, do que assumir todo aquele “trabalho, esforço, comprometimento, dedicação” necessários para alcançarem o mesmo padrão, por conta própria.

Elas merecem ser julgadas por essa escolha? Na verdade, não.

É uma opção de vida… adotada pela maioria das mulheres. Se é que isso a justifica.

E a questão não é só financeira não. É de segurança emocional mesmo. Um homem apresentável, bem colocado financeiramente sim, mas também minimamente afetuoso, sociável, seguro e independente que proporcione a ela e seus filhos conforto e segurança: Isso sim faz parte do projeto da maioria das mulheres.