O problema do pensamento contemporâneo é que ele confere muita autoridade para conceitos absolutamente equivocados. Como esta frase abaixo de Simone de Beauvoir, por exemplo.
Não se nasce mulher: torna-se.
Com base nos conhecimentos espiritualistas, entendo que todos já nascem homens ou mulheres, PORÉM de modo independente do órgão genital que trazem em seus corpos. É só ver como seres geneticamente machos passam a se comportar de modo completamente feminino depois de certa idade (quando a sexualidade se manifesta) e opostamente, como seres geneticamente fêmeas se comportam como “homens” depois de certa idade.
Não me parece algo que surja assim, voluntariamente, como se ali pelos 12 ou 13 anos de idade o menino pare e formalize: “Então tá, quando eu crescer, vou ser homem”.
Não é algo que o indivíduo escolha deliberadamente para tornar-se, como quem escolhe uma profissão.
O pensamento contemporâneo acredita que conceitos de masculino e feminino são construções sociais. Certamente são. Contudo, eu já vejo que esses conceitos transcendem a existência material.
É algo que fica na alma.
O problema é admitir isso com base na filosofia existencialista, que a meu ver, é outro equívoco grotesco do panorama intelectual contemporâneo, já que prega que a essência espiritual do homem se constrói após a formação e nascimento do corpo. Para o existencialista, a alma não existe antes do nascimento, é algo que, se existe, se forma junto ao desenvolvimento da personalidade do indivíduo.
É uma visão amplamente aceita, que fundamenta muito do ceticismo contemporâneo quanto a manifestações espirituais, porém também amplamente equivocada, dadas as inúmeras manifestações espirituais que ocorrem o tempo todo mundo afora e que o paradigma materialista, por não saber lidar com elas, rotula insegura e preguiçosamente como anomalias.
Quando as anomalias ocorrem com muita frequência e por todo o mundo, então não são anomalias, são fenômenos desconhecidos.
Ari
09 de janeiro de 2014 as 22:57
Caro Ronaud,
Quando paro para pensar (filosofar, viajar), percebo que todos nós nos deparamos com a busca por justificativas deste “existir” e se isto está ocorrendo conforme os meus sistemas de escolha adotados até agora. Daí vem as opções por mudar, moldar nosso existir. Por que não mudar de ideia, voltar atrás? Buscar a mudança comportamental, para que possa alcançar o que é realmente vital para o nosso progresso espiritual.
Muitas escolhas já vem de processos complexos de crescimento durante a vida. Não assim deliberadamente.
Acredito que sexualidade é uma coisa, imposição biológica de ser homem ou mulher é outra. Ou seja, você pode ser macho com todos os atributos que tem direito e ter uma orientação sexual divergindo tal imposição. Como pode ser também um homem másculo com uma mente feminina ou vice-versa. Disso fica a questão tão insistente: o homem nasce assim ou torna-se assim? Ser sexualmente diferente é algo da existência ou da essência?
Eu acho que torna-se. Aliás no que quiser ser. É essencial gostar de mulheres só por que a natureza me deu um pênis? assim como: é essencial gostar de homens por que possuo uma vagina?
Como você definiu muito bem: existencialistas basicamente acreditavam que a existência vem primeiro que a essência. Com base nesta definição fica a questão: No que se refere a sexualidade, o homem está fadado a moldar-se a cada instante de sua vida, independente de qualquer imposição biológica ou definição preestabelecida sobre seu ser, ficando à mercê de suas próprias inclinações?
Ao meu ver, não vejo como sendo um ato deliberadamente escolhido, mas adaptativo a fenômenos em que expõe-se durante a sua vida. Deliberam sim, mas antes há uma razão pra isso. Adaptação é o fenômeno maior em um mundo regido pelo Ego. O homem compreende, elabora, vivencia a realidade que vive e logo percebe que vive em um mar de possibilidades diante das quais, com sua liberdade de escolha, pode optar pelas que mais aproximam da busca principal.
Esta busca seria a tal essência?
Então os existencialistas estavam certos?
Os espíritas em contraponto com os existencialistas afirmam que a essência não só precede a existência, como continua depois depois de ter sofrido modificações durante a existência, sendo o espírito, frequentemente atualizado em cada existência através da reencarnação.
É polêmico!
Ronaud Pereira
10 de janeiro de 2014 as 12:54
Acho que em termos de humanidade, tudo é muito gradual e flexível. O gênero me parece sim uma construção social, daqui, mundana. Gênero este que uma alma (ou espírito) ainda “jovem” pode absorver em suas primeiras vivências e depois carregar consigo para vidas futuras, ou então, adaptar-se à sexualidade de um novo corpo.
No excelente livro Vida antes da Vida, em que o autor investiga lembranças espontâneas de vidas passadas em crianças, há uma certa estatística a qual não lembro precisamente, em que a maior parte das crianças que renascem num sexo biológico diferente do sexo de sua vida anterior, se adapta bem à nova realidade. Mas uma minoria tem essa dificuldade e passa a se tornar, então, homossexual. Pelo que entendi, esse trânsito entre sexos e a necessária adaptação à novas realidades corporais também fazem parte da evolução do espírito.
Para finalizar, não sou lá um GRANDE estudioso, mas de tudo que já li sobre espiritualismo (que também não é pouca coisa) me é absolutamente IMPOSSÍVEL admitir o existencialismo completamente. O homem até pode ser livre para construir a si mesmo durante seu desenvolvimento, mas ele já traz uma forte carga emocional de outras vidas.
Para mim, a questão da reencarnação e das vidas sucessivas já não me desperta nenhuma dúvida. É uma questão que no meu entendimento, passou da crença para a verificação. Porque uma vez que se lê sobre terapia de regressão a vidas passadas e os estudos sobre lembranças espontâneas de crianças, só não acredita se não quiser.
E tem muita gente que não quer.
Um abraço
😉