Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo Estado de Alagoas, já foi presidente do Brasil.

Tenho 33 anos de idade e para os mais velhos que eu, isso não é novidade alguma.

Mas para os mais jovens, é. Eu tinha 11 anos de idade quando Collor sofreu o impeachment, e tenho uma vaga lembrança de sua passagem pelo Planalto, embora me lembre bem, também, do auê que foram as eleições de 89, que o levaram ao poder. Mas nossa ampla população jovem, com menos de 30 anos, não têm em sua memória esse episódio tragicômico que foi o impedimento do primeiro presidente eleito por votação direta após a ditadura militar.

Brasil. Brasilia - Df. Pauta: Saida do presidente da republica Fernando Collor de Mello e sua esposa Rosane Collor de Mello do Palácio do Planalto. Brasilia, 02/10/1992. Foto: Arnildo Schulz/CB. Ed. Politica. Saida do presidente da republica Fernando Collor de Mello e sua esposa Rosane Collorr de Mello deixam o Palácio do planalto.15 abr. 2002. Gabarito, p. 12.

Saída do presidente da republica Fernando Collor de Mello e sua esposa Rosane Collor de Mello do Palácio do Planalto. Brasilia, 02/10/1992. Foto: Arnildo Schulz/CB. Ed. Politica.

Aliás, minha idade também não me permitiu acompanhar com maior noção a transição traumática da ditadura para a democracia, pois além do impeachment do primeiro presidente eleito democraticamente, tivemos antes, também, a morte súbita do primeiro presidente civil, Tancredo Neves, eleito por um colégio eleitoral; fora a morte desastrosa do então deputado Dr. Ulisses Guimarães, um dos líderes do processo de redemocratização do país.

Um assunto puxa outro, mas quero falar aqui do Collor.

Lembro que ele tinha uma personalidade exibicionista, praticava esportes publicamente e se não me engano, chegou a pilotar um caça da Força Aérea. Suas aparições públicas eram marcadas por sua postura sempre muito séria e altiva.

Encontrei, por acaso, alguns vídeos no youtube daquela época e entrevistas recentes do agora Senador Collor.

Esses vídeos demonstram que nada aconteceu por acaso, que seu afastamento do poder teve seus vários motivos, mas demonstram sobretudo que Fernando Collor foi uma peça fundamental, importante e corajosa para que o Brasil, bem ou mal, chegasse onde está agora.

O impeachment

Não sou analista político, nem nada do tipo, mas me interesso por história e por política. E vendo os vídeos que compartilho ao longo deste post, entendo melhor por que Collor foi afastado do poder de forma tão truculenta.

E o menor dos motivos de seu afastamento foi a corrupção, algo que grassa o poder desde que Cabral pisou nessa terra. Haviam motivações maiores, embora aparentemente muito menos importantes.

Collor era, e continua sendo, um sujeito EXTREMAMENTE inteligente. Aliada a essa inteligência, vem sua inigualável eloquência e capacidade para debate. Ouça qualquer de suas falas, antigas ou atuais e você perceberá sem muito esforço que o Senador Collor é o político mais inteligente e eloquente que temos no cenário político atual. Nenhum político iguala sua fala refinada, de vocabulário rico, elegante, objetiva e corajosa.

Aqui temos seu último pronunciamento em cadeia nacional, tentando explicar à população o que estava acontecendo:

E aqui temos uma fala atual do agora Senador Collor (repare o sanguenozóio do menino):

Mas sua chegada ao poder foi abrupta. De família rica e com tradição na política, ele teve muitas facilidades para se tornar prefeito de Maceió, depois governador e por fim, deputado federal. Chegou à presidência aos 40 anos de idade, mais por inteligência, por um poder de comunicação extraordinário dirigido ao povo e por senso de oportunidade, do que por traquejo político.

E essa falta de experiência política lhe custou o cargo. Tendo chegado de forma tão épica ao poder, sentiu-se o dono do pedaço, e não soube, ou certamente nem fez questão, de dialogar com o congresso, de cuja instituição todo governante precisa do apoio. Uma vez que esse congresso viu o chefe da nação, ainda muito jovem* lhe virar as costas, as raposas velhas não admitiriam que tal cenário se mantivesse.

E por mais de 400 votos a favor do impeachment, de fato, não admitiram.

O resto é história.

* (Ulisses Guimarães, à época calejado na política, se referia a Collor como “rapaz”; hoje não duvido que usaria o termo “moleque”)

Medidas impopulares

Não bastasse sua falta de ginga política, se viu obrigado a tomar a mais impopular das medidas, para tentar controlar a inflação. Simplesmente barrou o acesso do povo ao seu próprio dinheiro em suas contas corrente e poupança, para que as pessoas gastassem menos e, por consequência, os preços caíssem.

Foi uma medida que não funcionou quanto ao seu objetivo imediato, que era domar a inflação, e que portanto, prejudicou a popularidade do presidente que prometeu caçar marajás e acabou caçando os trocados do povo para cumprir uma promessa mais urgente: o controle da inflação.

Em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, o próprio Collor comenta que Aloízio Mercadante, petista, comentou na época do controle da poupança dos brasileiros, que essa era a medida dos sonhos que os petistas adorariam tomar caso o Lula tivesse vencido a eleição de 89, mas que não saberiam se ele, o Lula, conseguiria se manter no poder depois da medida tomada.

Fernando Collor, não se manteve. Mas teve a coragem de cometer um erro que precisava ser cometido para ser percebido como um erro e servir de aprendizado aos economistas da ocasião, e que se ele não cometesse, outros o cometeriam depois. Quem sabe, Fernando Henrique, quem sabe, Lula.

Aécio Neves, em debate para esta campanha eleitoral de 2014, respondeu à candidata Dilma que se não fosse FHC, não haveria Lula.

Falta a história complementar que se não fosse Collor, não haveria nem FHC, nem Lula.

Briga de irmãos

Parte marcante do processo de queda de Collor foi a participação de seu irmão Pedro Collor fazendo terríveis denúncias a respeito do envolvimento de seu irmão presidente com o tesoureiro da campanha de 89, Paulo César Farias. Há muitos aspectos curiosos desse episódio, mas para mim, o mais marcante é o modo como uma briga de irmãos chegou a abalar toda a estrutura política de uma nação como o Brasil. Isso comprova o que Collor afirma na entrevista acima: que a democracia brasileira não é forte, muito pelo contrário, ela era, na época, extremamente frágil, estando a mercê de quaisquer influências, seja por uma disputa de poder entre Executivo e Legislativo, seja pela disputa familiar de poder entre irmãos.

Este episódio revela, por fim, que um homem, por mais hábil que seja com as palavras, jamais vai conduzir as relações políticas de uma nação com êxito, se não consegue nem conduzir as relações políticas de sua família.

O julgamento

No vídeo abaixo, Collor não consegue conter sua indignação diante do que tem como uma profunda injustiça cometida contra ele, a ponto de não deixar a jornalista Sônia Bridge terminar suas falas. Embora pudesse estar com toda a razão, percebe-se sua falta de maturidade ao lidar publicamente com o assunto.

Em 1994, o STF arquivou o processo que movia contra Collor, por falta de provas.

O que se pode afirmar, é que corrupção, maior ou menor, é algo que havia na política antes de Collor, houve durante seu governo, e continuou por lá até hoje. E vai seguir por um bom tempo ainda, infelizmente.

Se a questão é corrupção, perceba que por muito mais, muito, muito, MUITO mais, Lula foi poupado.

Ainda em 92, os políticos que denunciavam picuinhas da vida financeira de Collor na CPI instalada contra a presidência e que depois votaram faceiros a favor do impeachment, usaram da mais absoluta falta de vergonha na cara, durante esses atos, porque julgaram alguém por atos que eles mesmos cometiam, e seguem cometendo o tempo todo, certamente, em maior intensidade.

O que definitivamente afastou Collor do poder foi sua imaturidade política, sua inexperiência em negociações e alguma provável intransigência na lida com outros políticos, o que lhe arrumou poderosos inimigos no congresso, e ainda, sua vontade maior de interpretar o papel de presidente da república através de aparições públicas exibicionistas, ao invés de, de fato, exercer tal papel de modo discreto.

Mas nada que o tempo não possa resolver, restabelecendo a harmonia perdida:

Ex-presidentes: Muy amigos

Ex-presidentes: Muy amigos

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Saiba mais: Fernando Collor de Mello na wikipedia.