Quando o assunto é dinheiro – se ele é ou não fundamental para a felicidade humana – em algumas ocasiões, as conclusões podem girar em torno da seguinte afirmação, já bem popular:
Se for pra chorar, prefiro chorar dentro de um Porsche, do que sentado num ponto de ônibus.
Esta frase, dita sempre de modo irônico, é muito mais profunda e definitiva, a respeito do dinheiro, do que se imagina.
Dias atrás, vi um vídeo desses que rola no Facebook, defendendo a descriminalização do aborto. Não salvei o endereço do vídeo, nem lembro do título, mas uma mensagem particular dentro da mensagem maior apoiando o aborto me chamou a atenção. Havia um comentário que afirmava que as mulheres mais pobres eram as que mais sofriam com a criminalização do aborto.
E esta é a verdade: Para todos os problemas de caráter social, o pobre sofre mais do que o rico. O negro pobre sofre mais os efeitos do racismo do que o negro rico. A mulher pobre sofre mais com o machismo do que a mulher rica. O gay pobre sofre mais com a homofobia do que o gay rico.
A falta de dinheiro é a verdadeira e mais profunda raiz de todo o mal.
Brasil
O Brasil é um país medíocre. De médio pra baixo. De ciência e indústria nulas, se destaca por vezes em alguns segmentos artísticos e esportivos, sempre de forma inconstante.
Politicamente, ainda não se fala de modo claro, mas o fato é que vivemos num sistema semi-socialista.
Nosso capitalismo é fraco e se caracteriza por um capitalismo de Estado, e como tal, não prospera efetivamente.
O fato é que nós, como brasileiros, não prosperamos. Em praticamente nenhuma área, nem no design mais básico – tipo, o brasileiro é o cara que usa a fonte comic-sans em diplomas e certificados. Por essas e muitas outras, o brasileiro não tem dinheiro suficiente para atender suas necessidades mais básicas. Simplificando:
O brasileiro não tem dinheiro.
O brasileiro comum passa a vida penando com dificuldades e limitações financeiras.
A população mais pobre ganha em média uns 1000 reais. Quem tá melhorzinho chega lá aos 1500, 2000 reais. Quem ganha 3000 reais para cima, já está dentro dos 10% mais abastados da sociedade e muitas vezes nem se dá conta do quanto privilégio detém, porque vive numa bolha social de semelhantes. Não percebe que a bolha flutua sobre uma massa de miseráveis.
E mesmo assim, a verdade é que com 3000 reais por mês você não consegue construir sua vida de forma plena.
O que se dirá de quem ganha – ou sobrevive – com apenas 1000 reais mensais.
Por exemplo: Estou reformando um imóvel. Numa ocasião fui comprar uma torneira de cozinha. Havia torneiras de 30 a 300 reais.
TREZENTOS REAIS por uma torneira. Quem ganha 3000 reais por mês, que é considerado um bom salário, se estiver construindo sua casa, vai pensar duas vezes antes de pagar dez por cento do seu rendimento numa única torneira.
Ainda no setor da construção, você conseguirá perceber claramente a escassez de dinheiro do brasileiro observando as casas das regiões mais pobres: os tijolos a vista. O brasileiro não tem dinheiro pra rebocar suas paredes, muito menos para pintá-las. Conseguir erguer as paredes de sua casa já é um grande feito.
Neste país, para prosperar minimamente e viver dignamente, podendo consumir itens de qualidade, o cidadão se vê obrigado a empreender, tornar-se empresário, ir pra guerra. Ou tornar-se servidor público, com seu nível salarial mais justo.
Do contrário, se enterrará nas areias da prisão financeira, porque o mercado brasileiro não paga o que uma pessoa precisa para viver com um nível de qualidade de vida digno.
Corrupção
Já escrevi aqui um texto no qual comento que a grande corrupção institucional no Brasil é resultado direto da pequena corrupção pessoal e diária que o brasileiro pratica.
Mas por que o brasileiro pratica essa pequena corrupção? Porque ele é bandido por natureza? Certamente que não. Porque ele é desinstruído sobre as questões éticas? Certamente, em algum nível.
Mas eu tenho uma hipótese do porquê da aparente natureza corrupta do brasileiro:
…que é a extrema dificuldade em SER brasileiro.
Ora, corrupção é ir pelo caminho mais fácil, quando o caminho correto é mais difícil.
Trilhar o caminho certo já é naturalmente difícil.
Sem dinheiro, é AINDA MAIS difícil.
Será que o traficante escolheria ser traficante se tivesse uma oportunidade semelhante, porém legal, de ter ganhos dignos? Será que o servidor público corrupto escolheria arriscar sua reputação em atos de corrupção para ter um alto padrão de vida se ele conseguisse esse mesmo padrão pelas vias legais, se empreender no Brasil não fosse tão arriscado?
Veja bem: Eu ODEIO o discurso de esquerda que atribui a opção individual pela bandidagem à desigualdade social e à cultura de ostentação.
Mas o fato é que aqui no Brasil, será praticamente impossível você ter certos bens pela via honesta.
Enfim, não quero justificar a corrupção, a qual é injustificável, e não tenho certeza sobre essa minha hipótese, e comento tudo isto para fins de reflexão.
Porém tenho tido sim esta impressão: de que o brasileiro optaria menos por atos ilícitos e corruptos se prosperar por aqui, pelas vias empresariais e legais, fosse mais viável.
Porque, convenhamos, eu sei e você também sabe:
Ser brasileiro não está fácil.
Ari
08 de agosto de 2016 as 12:36
A segunda foto realmente me preocupa muito e revela o peso do estado sobre a sociedade “livre”. Sobre salários justos, realmente é interessante. Um funcionário público ganha um salário dentro da lei, justo. Então credito que há algum problema com as leis porque de justo o salário mínimo brasileiro não tem nada. É claro que os defensores do Lulopetismo (que são muito os idiotas) irão dizer, em relação ao salário mínimo, o que aprenderam com o mestre: “Nunca antes na história deste país”, o que me dá nojo e náuseas muitas vezes. Eu fico fico pensando que muitos destes da faixa dos 1.000 reais por mês ainda defendem o maldito sapo barbudo enquanto reclamam no supermercado que seu salário dá mal pra comer.
Sobre corrupção acho que temos um sistema reflexivo em relação a sua origem. Temos um povo corruto pelas incoerências do sistema de renda para com o consumo e realmente é o povo mais pobre que sobre estes efeitos. Vejamos aqueles casos de famílias, tão pobres, que trocam seu voto por um botijão de gás. Talvez, tenhamos um sistema perfeito que se retroalimenta constantemente. Os pequenos corruptos elegem os grandes corrutos onde um precisa do outro. Educação e salário justo pra quê?
Ronaud Pereira
09 de agosto de 2016 as 0:51
Para ser honesto eu não saberia dizer “o quê” exatamente faz com que no Brasil os salários da maioria sejam tão insuficientes, exceto esta generalização do quanto nosso capitalismo seja fraco e dependente do Estado para se impulsionar. Acredito que tenha algo a ver com a questão da Ciência, tecnologia e inovação, que por aqui estão muito aquém se comparados com os países desenvolvidos. Até ideias inovadoras como o Etanol, tecnologia totalmente brasileira e inovadora, o próprio Estado brasileiro dá jeito de quebrar.