Algumas verdades sobre marketing digital

Marketing Digital é Furada?

Marketing Digital é Furada?

Decidi expor aqui o que vivi, tentando atuar no Marketing digital entre 2019/2020 enquanto assistia este vídeo super honesto do Caio Rodrigo, sobre dropshipping, uma honestidade rara nesse meio do Marketing Digital, onde reina a enganação.

E ao pesquisar no Google um título adequado a este texto, vi na imagem acima que a desconfiança das pessoas sobre a eficácia do Marketing Digital não é exclusividade minha. Será que Marketing Digital é furada?

Eu passei o ano passado inteiro (2019) tentando vingar nesse ramo, especialmente no marketing de afiliados.

Depois de muitas tentativas frustradas no segmento de afiliados, flertei com o dropshipping mas não tive energia pra recomeçar; até porque já vendi itens chineses no Mercado Livre e a cotação muito alta do dólar aliada a demora da Receita Federal para liberar as mercadorias e eventualmente cobrar impostos injustos sobre a compra desanimam demais.

Até tentei nessas últimas semanas iniciar uma conta de vendedor na Amazon pra tentar fazer dropshipping nacional, mas o meu azar é tamanho que as duas contas que criei foram suspensas sabe-se lá porque.

Depois de um ano comprando cursos e mais cursos, uma dezena de livros e assistindo centenas de vídeos no youtube tentando encontrar a informação chave que me levaria as vendas ilimitadas, e não tendo sucesso nessa tarefa, cheguei a uma conclusão mais plausível sobre a utilidade do Marketing Digital:

Marketing Digital é fundamental PARA QUEM JÁ TEM UM PRODUTO ou serviço, que seja realmente necessário para as pessoas e tenha uma demanda constante e estável, e quer usar a internet para ampliar as vendas.

Ponto.

Marketing digital é furada?

Nem sempre.

Se você fabrica um produto seu, ou tem bom acesso à revenda de produtos reais e úteis para as pessoas, com boa comissão e pouca concorrência, então o marketing digital não é furada. Ao contrário, as técnicas de marketing no ambiente digital podem ajudá-lo(a) a escalar suas vendas.

Mas às vezes é.

Pois pra quem não tem um produto e parte pro Marketing de Afiliados vendendo infoprodutos, ou Dropshipping vendendo produtos de procedência duvidosa, ou seja, tentando vender produtos dos outros, com comissão baixa e concorrência alta, será somente perda de tempo e energia, para a maioria.

Uns poucos acertam a veia do ouro, é verdade, e ganham muito dinheiro; não duvido nem um pouco do quanto o mundo digital pode remunerar bem as pessoas, porque eu mesmo já tive uma boa fase com o Adsense. Mas a maioria perde tempo e energia focando em algo que, como o Caio Rodrigo disse – e que já me incomodava há tempos – não tem solidez, você não tá construindo uma estrutura, um negócio; você fica na mão de agentes externos e do nada pode quebrar por decisões de terceiros. O tempo vai passar, você provavelmente não vai conseguir vingar, e vai ficar se questionando que b… que eu estou fazendo da minha vida.

Ou vai acontecer, como já vi acontecendo com alguns players, o mesmo que aconteceu comigo com o Adsense. Você vai começar, vai dar uma acertada, vai ganhar um bom dinheiro, mas com o tempo, suas vendas vão cair – porque na internet os assuntos vem e vão como as ondas – e você vai acabar fazendo várias tentativas, mas nunca mais vai alcançar o mesmo sucesso.

Marketing de Afiliados é furada?

O Mercado de Afiliados é pior… como eu disse, alguns afiliados acertam a veia do ouro, mas encontrar essa forma certa de realizar vendas recorrentes é tão nebuloso, que a maioria vai só perder tempo e dinheiro; quem ganha são os produtores. Faça as contas:

Vamos supor um Produtor cujos afiliados venderam 100 cursos em uma semana, de 200 reais cada um, com comissão de 50%, ou seja, a cada venda ele fica com 100 reais e paga 100 reais de comissão para o afiliado que vendeu. Com estas 100 vendas, o produtor vai embolsar 10.000 reais (100 x 200/2). Os outros 10.000 reais vão se pulverizar entre dezenas de afiliados, cada um vendendo um ou 2 cursos. Enquanto um fatura Dez Mil, os trouxas faturaram 200, 300, e terão gasto metade disso em tráfego pago ou gerando conteúdo orgânico.

E tem mais. A plataforma da Hotmart é um negócio chato de lidar, lenta, confusa, pouco funcional, sempre mudando (pra pior). Cada vez que você confere um produto e quer voltar para a pesquisa, tem que refazer a busca. Encontrar bons produtos pra vender é algo incerto. Para os afiliados, a ampla maioria dos 10 mil produtos da plataforma não serve: ou são mal feitos, ou redundantes, ou estão abandonados pelos produtores porque a ideia não foi validada pelo mercado, ou pagam uma comissão pífia. Desses 10 mil produtos, menos de 100 prestam. Desses 100 produtos, os muito bons exigem solicitação de afiliação, que raramente é aceita, você tem que ficar escrevendo emailzinho se apresentando pra produtor te aceitar. Muitos desses produtos tem regras rígidas sobre anúncios, alguns não permitem anunciar o nome do produto, nem do produtor (comento isso no próximo parágrafo). Os produtos maisoumenos liberam afiliação instantânea, mas ou tem qualidade mediana, baixa procura/demanda, ou tem uma concorrência gigantesca.

(Eu começo a rir quando vejo produtor proibindo afiliado de anunciar palavras-chave com o nome do produto, ou com o nome dele, o produtor. Alguns não permitem usar o nome deles sequer em páginas de venda. Parece piada de mau gosto, mas é pior. Eles querem o fundo de funil (as pessoas querendo comprar) só pra eles, o que até pode ser legítimo, mas continuam aceitando afiliados para os trouxas iniciantes ficarem divulgando o produto em topo de funil (pessoas que estão conhecendo o produto ainda e dificilmente compram, pois ainda vão formar a ideia da compra).

E aqui volto ao ponto defendido pelo Caio Rodrigo:

Como é que se constrói uma empresa sólida e um posicionamento profissional sério sobre uma base incerta de produtos e uma demanda inconstante? E aqui chegamos a algo muito importante e amplamente verificável: O mercado de afiliados é tão incerto, muda tanto o tempo todo, que todos os afiliados que tiveram a sorte/competência de vender bem durante um período, acabam criando seus próprios cursos. É insustentável viver de afiliação por tempo prolongado. E mais: Muitos experts em Mercado de Afiliados fazem cursos próprios porque sabem que a ampla maioria das pessoas é leiga demais para conseguir algo. Eles jamais formariam concorrentes em número suficiente para comprometer o próprio negócio.

E aqui volto ao ponto que defendo: Para ter sucesso prolongado no marketing digital, é fundamental ter seu próprio produto ou serviço. O marketing será, como em qualquer empresa normal, o setor de vendas, e não o coração da empresa.

Mentiras

Tem uma peculiaridade do segmento de infoprodutos do Marketing Digital com o qual tenho uma dificuldade imensa de lidar. Dependendo o nicho, você tem que ficar fazendo promessas mentirosas, utilizando de “gatilhos mentais”, de falsos lançamentos, como se as “vagas” estivessem esgotadas pra gerar sensação de escassez nos troux… digo, compradores (quando, por ser digital, o número de vagas pra um curso é ilimitado).

Sinceramente, boa parte do marketing digital voltado pra infoprodutos é baseado em mentiras e manipulação da mente das pessoas através de técnicas psicológicas, chamadas no segmento de “gatilhos mentais”.

Infoprodutos são basicamente Cursos. Alguns cursos são muito bons e completos, é verdade. Mas muitos cursos são oferecidos como a solução para os problemas das pessoas, através de promessas milagrosas, se prevalecendo muitas vezes da fragilidade emocional delas. Elas são convencidas que se comprarem o curso, vão automaticamente ter seus problemas resolvidos.

Ora, o curso vai apenas oferecer informações, mas para solucionar seus problemas, a pessoa vai ter que agir, estudar, trabalhar, fazer alguma coisa para a qual talvez ela não tenha coragem, disposição, habilidades técnicas, e talvez terá que investir um dinheiro que não tem, enfim. Isso é óbvio para pessoas lúcidas e experientes, mas não é tão óbvio para uma maioria de pessoas ingênuas. Elas acabam se iludindo que o curso/ebook é a própria solução.

A mentirada no segmento de capsulas de suplementos é ainda pior. Quando o inmetro bater vai ter nego sendo preso. Eles chegam a prometer a cura de doenças ainda verificadamente incuráveis, como a calvície ou a diabetes.

Por isso não consegui vingar, é complicado mentir para as pessoas pra arrancar dinheiro delas.

Dependência e Instabilidade

No segmento de Afiliados ou Dropshipping você fica na mão de terceiros em muitas frentes:

1 – Produtor/Fabricante que mudam as coisas o tempo todo;

2 – No caso do dropshipping, intermediários como Mercado Livre, Amazon, e outros, que vivem mudando as regras de exibição dos seus produtos;

3 – No caso do segmento de Afiliados, Hotmart e outras plataformas que também vivem mudando regras e tecnicidades de seu funcionamento.

3 – Plataformas de anúncio (Meta Ads e Google Ads) que vivem bloqueando contas e sugando seus lucros em anúncios caríssimos e muito pouco efetivos.

É como se estivesse sobre areia movediça, você não consegue se estabilizar, muito menos construir uma estrutura de negócio. Por isso é importante você ter um produto bem resolvido, para então poder se dedicar a correr atrás da inconstância e das eternas instabilidades do ambiente digital.

Aí vem a pergunta que me faço desde que meu auge com o Adsense se implodiu:

Vale a pena apostar a vida em algo tão instável e inconstante?

Você consegue construir uma casa sobre areia movediça?

Marketing Digital é Pirâmide?

Essa é uma pergunta muito comum dos mais desconfiados.

Na verdade o Marketing Digital não é uma pirâmide.

É como eu falei acima, se você tem um produto real, por exemplo, você fabrica sofás, então o Marketing Digital vai te ajudar a vender mais sofás, porque as pessoas sabem o que é um sofá, elas sabem que precisam de sofás, e as pessoas compram sofás desde sempre.

A pirâmide está no nicho de “ganhar dinheiro” com Marketing Digital (e não vendendo sofás). Porque ele depende sempre de novas pessoas comprando cursos sobre ganhar dinheiro de forma fácil, online, sem sair de casa. Muitas compram o curso, mentorias, consultorias, mas não têm um produto. Aí o que fazem? Acabam criando outros cursos com as mesmas promessas: como ganhar dinheiro de forma fácil, online, sem sair de casa.

E como vivemos num país pobre, de gente desesperada pra subir na vida, sempre haverá novos trouxas para sustentar a pirâmide.

Quando você compra um curso de Marketing Digital para aprender a vender um produto de fora desse nicho, certamente vai ajudá-lo. Mas se você compra esse curso e decide fazer um curso sobre ganhar dinheiro com Marketing Digital, sem ter um produto, então você entrou pra pirâmide.

Não é Pirâmide, mas é um Cassino

Tráfego Pago

Dentro desse esquema todo, tem a particularidade do tráfego pago.

Tráfego pago é quando você paga para um anúncio de seu produto aparecer para as pessoas, seja através do FaceAds, onde seu anúncio aparece no Facebook, Instagram e Whatsapp, seja através do Google Ads, onde seu anúncio aparece em blogs e sites, nas buscas do Google e no Youtube.

Eu entrei no ramo querendo me especializar em tráfego pago, isto é, pagar para anunciar produtos nas redes sociais, para assim, vendê-los. Não cheguei a perder dinheiro, depois de um ano, as poucas vendas que consegui empataram o dinheiro que botei na compra de cursos e tráfego pago.

Mas no final das contas, vi que não compensa tanto quanto alardeiam (pois alardeiam justamente para vender cursos sobre tráfego pago).

O que acontece é que o custo por clique no mercado brasileiro é caríssimo. Em certas circunstâncias esse custo é baixo, mas quase sempre você paga mais de um Real por clique. O anúncio de certos produtos no Google Ads é de 2 reais, 3 e até mais; sem garantia de que vai vender, é apenas um anúncio. O Caio Calderaro sugere pagar de 3 a 5 Reais por clique. Mas presumindo um custo de 1 real por clique, se a taxa de conversão é de 1~2%, isso significa que você vai de 50 a 100 cliques até que UMA venda ocorra, pagando cerca de 50 a 100 reais (ou muito mais) por esses cliques. Então a comissão / lucro desse produto tem que ser no mínimo o dobro desse valor. E sem garantia nenhuma sobre esses números. Já me aconteceu muito de anunciar, anunciar e o dinheiro indo pelo ralo e nada de vender. De repente as vendas param, e há tantos fatores pelos quais isso pode estar acontecendo, que em certos casos é quase impossível saber por que as vendas pararam.

E nesse sentido, digo com todas as letras, que Marketing Digital para Afiliados usando tráfego pago se assemelha muito a um Cassino.

Você bota dinheiro lá (e não é pouco) e você pode fazer o melhor dos anúncios. Se tiver sorte, vai vender bem… mas as chances são sempre contra o jogador e a favor do cassino (no caso, Facebook Ads e Google Ads) de forma que a tendência é que você, o anunciante (ou jogador) saia perdendo no final.

É simplesmente inviável, e no médio prazo se torna até nojento lidar com um negócio tão aleatório, nebuloso e imprevisível assim, no qual você não consegue regularidade nas vendas e não tem a menor projeção média de um lucro. Não há previsibilidade, você precisa ter MUITO dinheiro pra queimar até encontrar um padrão que eventualmente funcione e retorne algum lucro.

Diferente de um Uber por exemplo, no qual já tive experiência, e você consegue chegar, por exemplo, numa estimativa de que a cada 50 reais de gasolina voltam 150, e descontando o gasto, são 100 de lucro. É pouco? É. Mas você tem ideia do que está fazendo, e se sente bem menos trouxa.

No marketing de afiliados, você bota 50 e nem Deus sabe o que vai acontecer.

É ou não é um cassino?

Conclusão

Se marketing digital é furada, dependerá da situação. O marketing digital poderá ser uma excelente ferramenta de vendas, para quem tem um bom produto, ou poderá ser uma terrível perda de tempo, energia e dinheiro, para quem depender de produtos dos outros.

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Texto de 26 de Maio de 2020.