Não é difícil atualmente, encontrarmos aqui e ali, seja na internet ou na televisão, especialistas orientando as pessoas a reverem seus valores e olharem mais para si mesmas, enfim, a encontrarem a felicidade autêntica que se alcança vivendo a vida. “Viver a vida” representando quase sempre um retorno à simplicidade, à essência das coisas e também a voltarmos nossas atenções mais as pessoas, do que para “coisas”, se afastando desse mundo de aparências, cobranças e do que podemos chamar de vaziedade.

Consumismo

O consumismo é o nome de um comportamento totalmente incorporado e praticado em nossa sociedade contemporânea. Diz respeito ao consumo excessivo, ao comprar por comprar, como o exercido por pessoas que vão “fazer compras” como uma forma de prazer, relaxamento, escape. O contra-ponto a esta idéia seria o “consumo consciente” que prega que consumamos APENAS o que viermos a utilizar de fato e que prestemos atenção à procedência daquele produto, para que ao comprar, não estejamos financiando trabalho infantil, trabalho semi-escravo (ou escravo), prejuízos ao meio ambiente, etc.

Sendo o hábito comum dos habitantes da sociedade do consumo, que nada mais é do que uma consequência, ou evolução, da sociedade industrial que se iniciou na Inglaterra do século 18, atualmente, como resultado dessa “evolução” observada pelo excesso de produtos e pelo dinamismo em sua fabricação, somos obrigados, ou incentivados, a adquirir produtos padronizados, herméticos, sem vida e sem uma identidade cultural clara. Acabei de assistir a um comercial dizendo: “Está na hora de você trocar o seu televisor!”. Será?

“O sistema gira deste modo, sem fim e sem finalidade”

Jean Baudrillard

Observe também que ser considerado CONSUMIDOR lhe confere um certo status e respeito. Na posição de cliente, ou consumidor, ou detentor do poder aquisitivo, você é mais respeitado, considerado e “sempre tem razão” o que é uma grande inverdade e na verdade, um precipício moral. Te enchem de lisonjas para você permanecer com a certeza irrefletida de que está tomando a mais certa das atitudes quando vier às compras novamente.

Como é de conhecimento de todos, o maior prejudicado com toda essa abundância material sob a qual vivemos imersos atualmente é o meio ambiente e a camada menos abastada da sociedade – os mais pobres. Confesso ficar contente quando vejos iniciativas sustentáveis por parte das empresas atualmente, porém metade delas são iniciativas de fachada, e a outra metade, apesar de autêntica, é insuficiente para resgatar todo o estrago que a sociedade material contemporânea provocou e continua provocando freneticamente ao meio ambiente.

Alienação e abundância

Abundância gera descaso. Somos apegados ao que é escasso. Tudo que é raro, é caro. Em meio à escassez damos mais valor às coisas e vivemos com mais consciência. Por isso muitas vezes concluo que a pior coisa que pode acontecer a algumas pessoas é nascerem em meio à abundância. Terão sim, muitas facilidades, mas facilidade demais nos impede de conhecermos todas as nossas forças e aptidões. É na exigência da dificuldade que se revelam nossas mais profundas forças.

Penso que antigamente, a vida era tão dura e difícil, que as pessoas não tinham tempo para esse tipo de atitude. A uma maioria só restava lutar pela vida e pela sobrevivência. Passagens de frivolidade e superficialidade no passado são mais comumente associadas às cortes e às realezas, já que a riqueza e a fartura lhes permitiam tais leviandades. Atualmente as camadas mais pobres da sociedade continuam mais atentas aos itens essências da vida: trabalho, alimentação, vestuário, moradia, etc. Ser bem sucedido para esse grupo significa não deixar faltar nada do essencial.

Mas a classe média, abastada, mais se atém às aparências e ao status do que em desenvolver-se integralmente. Cresceram em poder aquisitivo, mas permanecem com a mesma essência de antes, tão preocupada com os bens materiais, e sem muito tempo – nem tampouco interesse – para dedicar-se a atividades mais nobres, como política, estudos, artes, etc. Pensar é atividade que demanda esforço, mas a classe média que trabalha 12, 13, 15 horas por dia para manter seu padrão de vida condicionado artificialmente, chega em casa tão cansada que nem cogita ler um livro ou se manter informado sobre a política do país. Acham que assistir ao Jornal Nacional basta. Suas mentes estão tão cansadas que lhes é conveniente e agradável sentar em frente à TV para assistir, anestesiados e “descansando”, preenchendo a mente com mais influências acondicionadoras. Quem sabe agora o comercial que passará entre os intervalos da novela das 8 dirá: “Está na hora de você trocar seu celular”! E assim o círculo vicioso mantem o impulso.

É um povo imenso que vive meio perdido, à deriva nesse mar de informações, sem qualquer balizamento sólido, tanto moral, quanto espiritual. Imagino que isso aconteça porque não somos orientados para saber o que fazer com nosso tempo livre. As atividades mais saudáveis e intensas costumam ser vistas como bobagens sem importância. Nossa opinião geral está tão impregnada com a idéia de que a única atividade válida é o trabalho, que nos sentimos um tanto culpados quando estamos num momento de prazer, ou desfrutando de atividades de lazer, ou cuidando da própria saúde, ou estudando através de momentos de leitura, etc. Sentimos que estamos “perdendo tempo”.

E por não saber o que fazer com o nosso tempo livre, e também por preocupação com as opiniões alheias, vamos vivendo e se alienando dos valores realmente importantes e essenciais da vida e da sociedade. Nos submetemos ao padrão consumista meio que por osmose, inconscientes do que fazemos e achando tudo absolutamente normal. Não perguntamos por que temos que consumir tanto, por que tenho que realmente de trocar minha televisão, por que devo consumir este e aquele produto e a mais importante das questões não feitas: Aonde esse tipo de atitude automática, adquirida por influência dos outros e da mídia, vai me levar, e aonde vai levar o futuro da sociedade e do planeta.

Marketing, propaganda, publicidade…

A publicidade e o marketing, aliados a alienação geral das pessoas, são considerados os maiores vilões atuais, estimuladores do consumo exagerado e da consequente devastação do meio ambiente, que ocorre de várias formas na medida em que mais matéria-prima é extraída dos meios naturais e na medida em que mais e mais lixo é gerado diariamente pelos consumidores, entre outras demandas agressoras ao equilíbrio ambiental.

Ambos promovem um desvirtuamento geral dos valores das pessoas. Não só criam necessidades sem as quais vivíamos muito bem e muito melhor integrados ao ambiente, como abusam de nossa natureza para nos motivar ao consumo. Sentimentos como Ansiedade, Preocupação, Inveja, Alienação, Compulsão, Vaidade, Desejo, Modismo, Sugestionabilidade, Insegurança (Para dizer que tem, Para ser igual, Para ser diferente), Necessidades emocionais, enfim, são facilmente manipulados através de imagens e sons para nos fazer crêr que precisamos desse e daquele produto.

Escrevi um texto tempos atrás sobre como a publicidade trata as pessoas como idiotas (clique e leia) para torná-las mais idiotas ainda. Dizem que os governantes não fazem questão de melhorar a grade de ensino nas escolas, porque eleitores mais inteligentes e informados são mais difíceis de manobrar. Tenha certeza, para a publicidade, quanto mais idiota e desprovido de pensamento crítico o consumidor for, mais fácil será manobrá-lo a comprar os produtos anunciados.

Consumo consciente

Como filho da década de 80, peguei o finalzinho de um tempo em que os produtos nos eram caros. Um brinquedo era O BRINQUEDO, com o qual passávamos horas e horas, e tendíamos a cuidar zelosamente, e com ele sonhávamos e vivíamos. Da mesma forma os adultos tinham em seus objetos verdadeiros entes que os acompanhavam por todo o seu – à época LONGO ciclo de duração – até que impossibilitados de funcionar devidamente, os descartávamos ou ainda tentávamos um último conserto, etc. Isso não existe mais. As crianças de hoje tem brinquedos à revelia, não se apegam a nada. Alternam seus jogos de vídeo-game como quem troca de roupa. Diferentemente da minha época, em que alugávamos as “fitas” de vídeo-game e as expremíamos o fim de semana inteiro até a última gota.

Produtos personalizados, raros, com vida própria, muito nossos estão voltando à moda. Por um lado é bom que as pessoas, por poucas que sejam, estejam se tornando capazes de desejar algo mais “humano” e menos padronizado. Porém o fato de ser uma “moda” demonstra que pode ser algo passageiro, e o que mais distancia as pessoas desse modo de consumo consciente é o elitismo que o rodeia, devido aos custos comparavelmente mais altos de tais produtos.

O filósofo francês Gilles Lipovetsky, um dos grandes críticos do consumismo até afirma que a sociedade pós-moderna (e contemporânea) se caracteriza pela “perda de sentido das grandes instituições morais, sociais e políticas”. Ok, mas eu questiono: Quando é que, em algum momento da história, as “grandes instituições morais, sociais e políticas” fizeram algum outro sentido que não seja o da coerção através – não de uma moral – mas de um moralismo extremamente hipócrita e desvirtuado? Falar então do “sentido da instituição política” chega a ser ridículo. Quem pode citar qualquer instituição política que tenha vigorado em qualquer época da história que pudesse ser considerada integralmente digna, pura e voltada aos interesses do cidadão comum. Faz-me rir.

Associo a situação atual mundo x consumismo sob aquele ditado que diz que a ocasião faz o ladrão. É assim que somos como sociedade e sempre fomos. Só que antigamente não havia essa fartura de produtos e a necessidade de escoá-los. Tudo isso é fruto da natureza humana, inconsciente e destrutiva.

Por isso creio que a única solução possível é, ainda e sempre, a tão falada EDUCAÇÃO. Somente disseminando a boa informação é que chegaremos a uma nova sociedade, agora com cidadãos conscientemente críticos. Ou seja, quando decidirmos pela atitude certa PORQUE É a atitude certa a se tomar, e não porque obteremos alguma vantagem ao tomá-la.

O estudo é a única forma de sair desse paradigma social, e não somente um estudo técnico qualquer, e sim um estudo amplo, técnico e moral, holístico. Somente alcançando a maioridade moral é que seremos capazes de discernir quais são as atitudes mais corretas para os novos tempos. É a leitura dos grandes clássicos da literatura universal que lhe colocará para cima, lhe permitindo uma visão de mundo muito mais ampla e lhe tornará mais consciente e crítico, de si mesmo(a), de sua posição no mundo, e DO QUÊ você realmente precisa para viver nele.

Alternativas de vida

De qualquer forma, apesar de a sociedade em peso adotar hábitos consumistas, tenho encontrado algumas idéias e posturas de gente que visa contrapor essa alienação a qual nos é imposta, e a qual nos gera prejuízos de toda ordem, resultado de toda uma mobilização de anos em busca do lucro, quase sempre em troca de saúde e de convivência familiar, sem que algum dia tenhamos refletido se realmente tal modo de vida tem algo a ver com nossa individualidade e intenções de vida. Clique nos links abaixo e conheça, vale a pena:

Ecológicas: Permacultura, Ecovilas

Políticas: Freeganismo

Bem estar: Slow Movement (em inglês)