…se a timidez não precisa de cura?
O jornalista Stephen Kanitz escreveu um ótimo texto sobre timidez e achei interessante expor minha opinião sobre o assunto – a opinião de um ex-tímido crônico. Hoje sou um tímido normal 😉
Sempre fui tímido e anti-social. Nestes últimos 6 anos de minha vida, tenho “melhorado” muito sob estes aspectos, com grande progresso, mas já não vejo isso como um grande avanço. Ser considerado “normal” numa sociedade doente que vive em função das aparências não é lá grande vantagem.
Num grupo de amigos eles fazem tanta questão de falar, e falar, e falar… que já nem faço questão de tomar-lhes o prazer. Não conseguiria mesmo se quisesse. Conseguir espaço para falar no meio de gente carente de atenção se torna quase uma guerra. Você precisa criar estratégias para se impôr, o que é cansativo e te faz perder a concentração no que pretende dizer. É broxante. É melhor deixar as crianças se divertirem, se expressarem e se auto-afirmarem.
Mas via de regra, por terem pouco a dizer, repetem-se cansativamente… Tendo sempre sido bastante anti-social, antes me recriminava por isso. Hoje vejo que é uma consequência da constatação de que as pessoas, de forma geral e com raras exceções, são cansativas, entediantes e vazias. Carentes, querem ganhar a atenção, porém nem sempre têm conteúdo para retribuir. Se você se preza e se tem em alta conta, ser anti-social é praticamente uma reação lógica 😉 quase um mecanismo de defesa, não por medo, mas por inteligência.
É claro que timidez excessiva é prejudicial, como era para mim. Porém em doses equilibradas, te preserva de muito mais situações incômodas, desconfortáveis e constrangedoras, do que expõe a situações positivas e prazerosas. Não vejo mais a timidez e a ausência de sociabilidade como algo preponderantemente negativo que precisa de cura. Cada um é do jeito que é, oras… Se a companhia de pessoas me é desconfortável e me força a desempenhar um determinado personagem só para agradá-las, isto é, para atender as expectativas dos outros, Deus que me livre, é melhor ficar sossegado em seu canto, sozinho, e em paz!
Sobre esse assunto um tanto cômico, sempre lembro da observação de algum pensador que disse que “escrever é uma ótima forma de falar sem ser interrompido” 😉 Convenhamos, conversar com gente que não sabe respeitar seu momento de falar, para dizer suas vaziedades é deprimente. Você começa a se perguntar o que está fazendo ali com ela.
Por outro lado… É maravilhoso e muito prazeroso conversar com pessoas que sabem a hora de ouvir, sabem a hora de falar e muito além disso, que sabem O QUE falar. É um dos maiores prazeres da vida conversar com gente inteligente e razoável. Não é???
unknow
23 de julho de 2010 as 4:10
Eu queria pelo menos conseguir sair de casa.
Pri
30 de setembro de 2010 as 9:42
gostei do texto, eu acredito q o silêncio seja meu mecanismo de defesa tbém, as vezes fico pensando se me acham esquisita, mais eu nao poderia ser diferente, criar um personagem, e realmente falar demais é falar quase sempre nada
Rosémille Alencar
04 de dezembro de 2010 as 20:17
Nossa agora me lembrei da sensação boa que tenho quando aguém que eu penso que nem sabe da minha existência me chama pelo nome….Me passa uma sensação inexplicável.
Acho que ajudaria as pessoas tímidas.
Como reza a tradição belo texto Ronaud.
ronaud
04 de dezembro de 2010 as 21:03
Rosémille, tudo bem? Por acaso essa “sensação inexplicável” não seria uma sensação de valor? Sugiro a leitura do livro Como fazer amigos e influenciar pessoas (https://www.ronaud.com/livros/resenha-e-critica-do-livro-como-fazer-amigos-e-influenciar-pessoas/). Com ele você entenderia muitas coisas. Acho que iria gostar. Um abraço!!!
Rosémille Alencar
05 de dezembro de 2010 as 22:28
Opa obrigada pela dica Ronaud e pela definição do que seria….
Vou ler o livro e depois lhe falo.Abraço
Giovana
06 de janeiro de 2011 as 11:59
Oi, Ronaud! Depois de ler este texto, até me sinto um pouco melhor por ser tímida. Me conta: O que tu fizeste para superar a timidez?
ronaud
06 de janeiro de 2011 as 17:43
Oi Giovana,
Na verdade, como dito no texto, eu não superei a timidez, mas passei a ver, sobretudo, que ela não é algo tão ruim como se diz. Dessa forma pode-se aprender a lidar melhor com ela. Algumas sugestões podem ser adotadas, como valorizar menos a opinião dos outros e mais a sua e o seu bem estar. Aprender a dançar o básico, para não ficar isolada em festas. Expandir seus gostos musicais para se sentir a vontade em qualquer ocasião. Manter-se bem informada para ter o que conversar. Escolher e estudar temas de interesse geral como futebol, política ou religião também vale. Enfim, essas coisas. E boa sorte!
Bruno Hermsdorff
29 de março de 2011 as 16:57
Bom, achei interessante seu post.. eu tinha timidez crônica na adolescência, isso me fez criar problemas físicos de origem psicológica bem graves. O que me impedia realmente de sair de casa. Tive todos os problemas de timidos, Li um livro “a vantagem do tímido” me fez ver de outra forma quem eu era. Fiz psicoterapia também o que me ajudou muito, entrei na faculdade, conheci garotas, perdi o medo de apresentar um trabalho ou conversar, na verdade tornei-me alguém bem interessante, exatamente pelo meu modo de ver as coisas!
Depois de quase 4 anos vivendo meu eu verdadeiro, voltaram as crises existênciais, os medos, receios. Tem tempo que não “converso” com uma garota, não saio mais, eu sou chato quando estou com meus amigos.
Acho que a timidez tem haver com um controle sobre você, tem vez que esta tão sobre controle que tudo é natural, mas quando se perde o controle, retomar tudo de novo esta sendo muito dificil. Hj já estou com quase 25 anos, mesmo ficando com algumas garotas, ainda não tive nenhum namoro estável, estou sem emprego também.
A timidez é um mecanismo de defesa sim , socialmente falando. O problema é quando nós nos colocamos em modo de defesa, os timidos sabem fazer isso muito bem.