Você é um acaso?

O universo joga dados com a sua vida?

Você acredita em acaso? Eu não. Um dos preceitos básicos da filosofia oriental Seicho-no-ie diz que tudo no universo funciona em PERFEITA harmonia, por mais que não consigamos perceber. Assim como no pensamento cristão há também a idéia de que não cai um fio de cabelo da nossa cabeça, sem que o PAI o permita:

Por acaso não é verdade que dois passarinhos são vendidos por algumas moedinhas? Porém nenhum deles cai no chão se o Pai de vocês não deixar que isso aconteça. Quanto a vocês, até os fios dos seus cabelos estão todos contados. Portanto, não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos passarinhos. Mateus 10:29, 30

Na ausência de um propósito claro para esta vida louca, a saída para todas as religiôes e filosofias é contar com um propósito maior para tudo isso. E mais, para esse propósito valer e surtir algum efeito, é preciso que nenhum de nós saibamos qual é esse propósito. É mole ou quer mais? Mas para a felicidade dos futuros habitantes deste planeta existe um conceito que está se firmando gradativamente no pensamento contemporâneo – é o da EVOLUÇÃO. Tanto a ciência como muitas filosofias já assumem como sendo a evolução um dos claros propósitos da vida.

Você há de convir comigo, na medida em que vivemos e o tempo vai passando, todos passamos por mudanças enormes. Vejo que a mudança é tão parte de nós e da nossa natureza quanto respirar ou comer. Um ser humano não vive bem num ritmo monótono. A idéia de metamorfose ambulante do Raul Seixas continua atual. Porque a própria mudança tende a nos levar para uma situação de maior progresso do que a situação anterior. Por mais que não percebamos o progresso.

Não, qualquer coincidência não será mera coincidência. Neste universo infinito, encontrar um planeta de clima agradável, cheio de água com algumas ilhas gigantescas chamadas de continentes, habitadas por seres falantes, pensantes, fabricantes, convivendo numa sociedade econômica que não só permite que essa sociedade sobreviva mas que incentiva a livre iniciativa, é coincidência? Isso não seria como acreditar em Papai Noel? Defendo muito o bom senso como resolução para as questões da vida, e como não acredito que tudo isso a que a civilização humana chegou em termos de avanço e progresso seja algo meramente casual, logo me forço a cogitar um plano maior e inteligente para fundamentar a complexidade da existência.

Crer em Deus ou no Acaso surte o mesmíssimo efeito, com a pequena diferença de que os que creem no segundo conceito se sentem um pouquinho mais espertos…

Você gosta de matemática? Talvez não porque ela é mal apresentada aos alunos, mas talvez você lembra daquelas expressõezinhas onde no final, depois de somar, subtrair, dividir ou multiplicar, respeitando algumas regrinhas, você obtem o valor exato de X. Talvez você se acostumou com isso e acha absolutamente normal encontrar um valor ausente através de um pouco de método e lógica, mas eu ainda acho essa linguagem fantástica. E é a mesma matemática absurda que permite a criação de computadores, submarinos, naves espaciais, satélites, etc, essa que é a verdadeira linguagem universal por ser compreendida em todos os cantos desse planeta; essa que é uma linguagem divina já que permite ao homem continuar o dom do criador que é o exercício infindo da criação; Será mesmo que essa linguagem não é nada mais do que uma descoberta casual do homem? Não estou dizendo que é na matemática que estão as respostas aos conflitos existenciais do homem, mas atento para algo que já existia antes do homem, e permanecerá mesmo após a sua extinção. A matemática e a lógica transcendem a existência humana.

Outra coisa: Você tem alguma deficiência física? Talvez não, mas conhece alguém que tem, certamente. Tal deficiência pode vir quem sabe de uma anomalia, um desencontro genético. Ou de um infeliz acidente. Será? Não seria uma tremenda infelicidade do portador da deficiência ser obrigado a viver o resto de seus dias em tal condição? Mas por outro, já vi deficientes físicos mal sucedidos e outros (muito) bem sucedidos. Será que aquela deficiência não foi de alguma forma provocada para fazer o indivíduo superar a si mesmo e dessa forma, evoluir? Diante de acidentes fatais, nossa incompreensão da causa do fato nos leva, de forma simplista, a concluirmos que é a vontade de Deus. Mas por mais simplista que seja essa sentença, acredito que ela está mais próxima de uma realidade do que a mera aceitação do fato como um fruto do acaso.

Uma das questões que mais me intriga atualmente é a questão da COMPAIXÃO x IMPIEDADE em relação ao gênero humano. Até onde devemos nos compadecer pelo drama alheio, e até que ponto devemos entender que aquele indivíduo, como um ser espiritual, atraiu aquela situação de aflição? E mais, que aquela situação de aflição vai levá-lo a um estágio de compreensão e desenvolvimento melhor do que o anterior??? Existem vítimas? Deus em sua grandeza e magnitude permitiria a existência de vítimas do maldoso acaso?

Veja o caso da menina Eloá, que comoveu a população. Afora questões como de quem é a responsabilidade por tudo ter acabado como acabou, acredito muito que ela mesmo atraiu aquele fim. Não fiquei acompanhando o caso o tempo todo, mas assisti a uma reportagem que mostrava a negociação com o sequestrador. Em algumas falas este se referia a Eloá como sua namorada e ao fundo se escutava Eloá aos berros: “EX-namorada, EX-namorada!!!”. Corajosa, para uma menina de 15 anos. Mesmo diante de uma arma na mão de um indivíduo enlouquecido, ela preferiu defender sua posição de EX…-namorada. Atitude semelhante a Sócrates preferindo beber o veneno a ter que negar suas idéias. Semelhante a Jesus defendendo a verdade e pagando com a própria morte e semelhante também a Tiradentes dando a vida pela República.

Podem me chamar de vendido e o que for, mas eu diante de uma arma faria tudo que me mandassem, o que é comportamento comum diante de situações de risco. Aceitamos qualquer humilhação, contando com a possibilidade de sair vivos e ilesos. Isso é instinto. Mas Eloá, quem sabe por não se dar conta do risco que corria, preferiu defender sua “liberdade” do que levar a situação passivamente. Devido a muitos fatores, mas também a sua irredutibilidade, deu no que deu. A sociedade, viciada em achar culpados, fica especulando se foi culpa da polícia, dos pais, da imprensa, de Deus. Mas sob o ponto de vista no qual os fatos nos vêm de acordo com a forma como conduzimos nossa própria existência, as perguntas seriam outras.

Acredito muito num plano maior para isso tudo. O ditado NADA É POR ACASO tem um quê de romantismo, contudo, não, não é possível que esse mundo seja conduzido por acasos. As pessoas se acostumaram com o mundo como ele é, assim como aceitam os fatos incompreensíveis da vida como fatalismo, mas me nego a isso. Acho o mundo fantástico e grandioso, até mesmo a nossa natureza limitada porém livre, que nos força a superar nossos próprios limites, tanto como indivíduos, como coletividade. E torço para que essa mesma coletividade não demore muito para compreender, finalmente, a grandeza da vida e a inteligência divina sob a qual vivemos imersos.