Sempre acontece de nos depararmos com relatos sentimentais envolvendo conflitos ou dificuldades nos relacionamentos. Nesses relatos, quase sempre encontramos o ato de “sofrer por amor” lembrado em tom solene, como se fosse algo vital e o fato mais digno pelo qual um ser humano pode passar.

Credo!

Como eu já disse aqui, já fui um romântico incurável que encontrou a cura milagrosa. Graças a Deus e também graças a ter quebrado a cara algumas vezes, superei esse péssimo hábito de idealizar pessoas e relacionamentos como se fossem quebra-cabeças divinos e perfeitos na busca incansável do encontro final, mágico e florido.

Novelas e filmes românticos estragam as pessoas. Levam-nas a crer que o maior objetivo que alguém pode encontrar na vida é… encontrar um par perfeito. Encontrar o parceiro ideal se tornou o Santo Graal da sociedade, ao menos para a parcela solteira com planos para deixar de sê-lo. Já começam errado, afinal poucos têm a decência de sequer perguntar se está pronta para SER o par perfeito de alguém.

Encontrar uma boa companhia é sim, digno e prazeroso. É até… biológico, ou seja, sentimos essa necessidade fisicamente. Mas ter isso como uma finalidade para a vida é reduzi-la. Novelas e filmes levam a crer que o bom é quando o casal finalmente se acerta e começam a ter filhos. O horror!!!

E depois? Pois é, depois a vida continua, e normalmente sem tanta graça (as novelas não acabam logo após o acerto final entre o casal à toa 😉 ). Essa é uma amostra de que o importante na vida é justamente a trajetória, a aventura, a viagem em si, e não o destino final, a chegada.

Chego a cogitar que a vida é A Vida enquanto as coisas estão erradas. Enquanto algo nos move para resolvermos as coisas. Depois que tudo se ajeita, perde-se a graça e precisamos de outro motivo para nos mobilizarmos e… vivermos. Observe que toda história de ficção, e também as reais, apresentam o mesmo script: Começa com tudo estando bem. Então algo dá errado. Daí surge um herói que faz com que tudo volte a ficar bem. Perceba que enquanto tudo está bem, não há história.

Enfim, sofrer por amor não é legal, não é bonito, não te faz melhor. O que te faz melhor é justamente SUPERAR o sofrimento.

Fora isso, sofrimentos sentimentais não passam de perda de tempo e energia. Sofrer por amor não é digno porque nenhum, ou muito poucos seres humanos merecem que alguém sofra por eles. Não acho que o amor verdadeiro possa pressupor qualquer sacrifício. Se alguém “te faz” sofrer, já está provando que não lhe merece. O sujeito que sabe que está causando sofrimento sentimental e não faz nada a respeito não passa de um sem-vergonha adorando se sentir desejado. E, partindo disto, tenha certeza, não fará nada para mudar a situação tão cedo, enquanto estiver se sentindo num pedestal como objeto de adoração. E particularmente não acho que alguém valha tanto assim de qualquer forma. O sujeito pode ser maravilhoso em muitos aspectos, mas todos tem o lado humano, defeituoso, miserável em espírito, mesmo, que faz com que o eventual “encanto” nunca seja total. Aliás, creio que salvo raríssimas exceções, o encanto sempre se desfaz.

Veja bem. Todos podem ser considerados especiais. Eu mesmo conheço algumas desses pessoas muito especiais. Mas acho que ninguém é preponderantemente insubstituível. Sempre haverá alguém melhor que nós. Por esse mesmo motivo é que penso que sofrer por amor está mais para um ego ferido do que para um coração machucado. Quase sempre sofremos porque alguém ou alguma situação não correspondeu às nossas expectativas. Não aconteceu do jeito que queríamos. Porque se olharmos para os lados, veremos chover oportunidades para encontrar pessoas com quem sorrirmos e celebrarmos nossos instantes nesta vida.

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