Um artigo do Obvious (o site foi encerrado), sobre o Carnaval me chamou a atenção por ser um texto contundente, mas ainda, um tanto pessimista, porque expõe apenas o lado podre do Carnaval. Conforme comentei no texto anterior, o Carnaval realmente oferece um prato cheio de razões para não se gostar dele. Contudo, como alguém que odiava o Carnaval e que está numa fase catártica da vida em que procura renovar seus próprios conceitos re-enxergando tudo que há com bons olhos, porque, como minha própria personalidade contraditória, não consigo acreditar que qualquer coisa seja exclusivamente boa ou ruim, insisto…
Acho que o Carnaval é um momento para se esquecer das dificuldades e curtir um pouco o fato de se estar vivo, com saúde e com um coração que bate forte no peito. Num mundo onde o povo é submisso às religiões, ao governo, ao trabalho/dinheiro e à própria condição humana, pode certamente tirar alguns poucos dias do ano para extravasar e sentir-se livre da responsabilidade de fazer parte de uma sociedade “onipressora”.
Há carnavais e carnavais. Há carnavais como o comentado pela autora do texto, acompanhada do namorado ao som de Chico Buarque ou o de seu leitor Pablo, acompanhado dos bons amigos ao som de bons sambas, ou ainda a autêntica folia do povão que gosta de se misturar nas ruas, beber muito e sujar tudo. O que torna tudo uma mera questão de escolhermos onde e de que forma vamos nos divertir. Será que só porque não gosto de algo, esse algo é ruim e deveria deixar de existir? Até porque se o Carnaval de rua fosse ruim MESMO, não seria ansiosamente aguardado ano após ano por milhares e milhares de pessoas. Será que TODAS estão inexoravelmente ERRADAS?
…é entre você e a diversão!
Por definição popular, Carnaval é momento de se esquecer as coisas ruins e vivenciar um pouco de alegria e leveza, portanto, o Carnaval deveria ser uma simples questão de escolhermos onde e de que forma vamos nos divertir. Pois suponho que qualquer sujeito minimamente equilibrado goste de se divertir. Agora, fingir que o Carnaval não existe me soa tão esquisito quanto se esbaldar na rua. Fazer como eu fazia, há alguns anos atrás, ficando em casa fingindo que nada está acontecendo e torcendo para o feriado acabar, também não é nada legal… Porque o que eu queria era mesmo estar na rua curtindo, e desconfio profundamente que, senão todos, boa parte dos que dizem que não gostam de Carnaval, no fundo, também gostariam de se sentir mais seguros e espontâneos e se jogar com tudo na farra.
Dizer que “não gosta de carnaval” soa um tanto rancoroso para com a vida, porque quando lembro de conhecidos que dizem que não gostam de Carnaval, logo me vem a mente pessoas tímidas, com dificuldade de expressão corporal, principalmente de dançar, mas muito inteligentes, que têm dificuldade de se soltar porque certamente levam demais em conta o que os outros vão pensar. Quem não gosta, ou não consegue se divertir expressando-se “sem medo de ser feliz” é, na verdade, como eu era, uma pessoa problemática, que, é lógico, encontrava toda uma série de razões para justificar o seu comportamento, como: “Carnaval é coisa de vagabundo”, “Carnaval é coisa de bêbado”, “Carnaval é coisa do diabo”, “Carnaval é coisa de pobre”, “Carnaval é coisa de gente vulgar”, “Carnaval é coisa de gente promíscua”, “Carnaval tem muita muvuca pro meu gosto… ( …sofisticado e refinado )”, etc.
Isso me lembra aquela cena do filme Titanic em que Jack leva Rose até o porão do Navio onde ficava a 43ª classe e começaram a dançar divertidamente naquela “festa de pobre”. Mas uma festa tão divertida que fez a personagem se sentir tão mais viva como nunca havia se sentido em toda a sua vida aristocrática. Achamos a cena linda, no filme, mas na vida real, talvez corrêssemos de uma ocasião semelhante envolvendo gente simples mas autêntica e divertida.
Carnaval é muito 8 ou 80, eu sei. Fica difícil mesmo de encontrar um meio termo, mas insisto, devemos esquecer o Carnaval dos outros e criar e curtir o nosso próprio Carnaval, procurando o nosso canto, criando o nosso clima, os nossos amigos, e celebrando sim o fato de estarmos vivos (e o próprio feriadão, por que não? 🙂 ). Do contrário, como acontecia comigo mesmo, você está morto e, além de não saber, jura que é mais vivo que os outros.
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