"Odeio gastar dinheiro, mas a economia precisa de mim"

“Odeio gastar dinheiro, mas a economia precisa de mim”

Tenho uma amiga que adora gastar e ao ser questionada sobre o aparente excesso de suas compras costuma dizer: “Alguém precisa movimentar a economia”.

Já discordei muito desse tipo de postura, mas aos poucos tenho começado a pensar diferente. Bem diferente!

Existe um discurso FORTE atualmente contra o consumismo, e já desde algum tempo, contra o capitalismo.

Não é difícil reconhecer que a sociedade se fundamenta num giro desenfreado – e desvirtuado – de produção e consumo, que por falta de um planejamento mais sustentável e mais humano, acaba excluindo certa parte da população mundial.

Pessoas com tendências esquerdistas, preferem acreditar que os empresários são mais ou menos com o seguinte estereótipo: Pessoas más e egoístas que tiram dos outros para si. Mas eu prefiro acreditar que empresários e empreendedores beneficiam muitas pessoas; que mesmo o empresário mais capitalista, aquele que só visa o lucro, acaba beneficiando muita gente nessa cadeia econômica da qual ele faz parte e ajuda a impulsionar. Gente essa que TEM ALGO, quando poderia ter nada.

Os benefícios vêm primeiramente com a geração de impostos, que financia o próprio governo e o salário de milhares de servidores públicos que oferecem à população seus serviços de infra-estrutura, segurança, educação e saúde. Todo o dinheiro que o governo arrecada vem de algum lugar, e esse lugar é quase sempre a conta bancária de milhões de empresários, isto é, de gente que dá a cara a tapa para organizar um sistema de produção que realmente gere valor para oferecer à sociedade em troca do dinheiro que ganham.

Segundo, porque por mais frugal que alguém seja, ainda assim precisa de vários e vários itens materiais que favorecem sua sobrevivência e lhe oferecem algum conforto: Calçados, roupas, moradia, comida, instrumentos de trabalho, transporte, etc. A produção de todos esses itens foi organizada por empresários. Perceba quanto conforto temos hoje a disposição – por mais pobre que seja – porque alguém mal e egoísta que só pensa em lucros um dia pensou em criar algo de útil pra vender.

Terceiro, com a geração de empregos. Nessa organização promovida pelo empresário para a produção de algum produto qualquer, toda uma cadeia de outras pessoas é incluída e beneficiada. Novamente, por mais frugal que alguém seja, precisa de certas coisas para sobreviver: Comida, por exemplo. Que só se pode comprar com o dinheiro ganho por algum trabalho qualquer. O sujeito pode até encontrar um lugarzinho e plantar sua própria comida. Isso se tiver predisposição para a agricultura e para a criação de animais. E poderia trocar eventuais excedentes com seus vizinhos – esperando-se que encontre outros indivíduos dispostos a encarar essa vida como ele – para trocar por alguns itens que o sujeito não tem tempo nem energia pra produzir, como roupas, por exemplo. E assim, ambos voltariam a época do escambo.

Que legal que deve ser, né? 🙁

Veja como a economia contemporânea – muito criticada por ser tão mal conduzida sim – ainda assim permite a exploração e o desenvolvimento de uma infinidade de talentos. Sei lá, imagine um contabilista, alguém que se sinta bem trabalhando com burocracia e números dentro de seu escritório limpinho com ar-condicionado, tivesse que plantar a própria comida, criar seus animais, produzir suas roupas. Acho que não ia rolar. Enfim, acredito que se o dinheiro desaparecesse do planeta de uma hora pra outra, a maioria da população mundial morreria de fome em pouco tempo, simplesmente pela inabilidade em produzir os itens básicos de sobrevivência de que precisa, a não ser aqueles que já vivem no campo e estão habituados – e tem o dom – com a lida diária da produção agrícola.

Vamos pegar como exemplo essas empresas tecnológicas como Apple, Google, Microsoft, Facebook e cia. Já parou pra pensar em quantos verdadeiros GÊNIOS você financia ao comprar um produto ou usar os serviços de empresas assim? Quantas pessoas inteligentíssimas como as que trabalham para essas empresas ficariam desocupadas – e deixariam de estar criando produtos interessantes para nós – caso as empresas deixassem de existir de uma hora pra outra?

Gastar dinheiro é ser generoso?

Levar economia muito a sério nos torna mesquinhos. E mesquinhos não só num nível pessoal e próximo, e sim mesquinhos com a sociedade, mesquinhos com a VIDA que nos oferece tanto, quando poderia não nos oferecer nada. Vivemos com a ideia equivocada de que ao gastar, mesmo que ás vezes desnecessariamente, estamos beneficiando apenas a nós mesmos.

Nem sempre.

Pare e pense na imensa cadeia de empresas e pessoas que você atinge – e ajuda – ao comprar, sei lá, digamos, um par de sapatos. Você colabora com o pessoal que fabrica borracha para as solas, com o pessoal que fabrica o couro sintético do calçado, com o pessoal que fabrica o tecido do cadarço, com quem constrói a fábrica do calçado, com quem transporta esses itens de um lugar a outro, com os vendedores que trazem esses produtos até nós, com quem trabalha na companhia elétrica que fornece energia para a fábrica de calçado e para a loja que nos vende, ufa… A cadeia de relacionamentos não tem fim e há um detalhe importante nisso tudo: Todo esse povaréu precisa de dinheiro pra viver, e esse dinheiro vem dos consumidores: eu e você.

Gastar dinheiro é muito menos egoísta do que se pensa. Com base nessa visão toda, chego a crer que minha amiga não está errada não, com seu pensamento pró-consumo.

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