Há um bom tempo comentei sobre essa visão recente, que as pessoas têm expressado bastante, sobre passar a acumular experiências, em vez de tranqueiras objetos materiais nos cantos da casa.
Não sou daquele apaixonado por viagens. Quando ouço alguém dizer que se ganhasse muito dinheiro, iria conhecer o mundo inteiro, fico quieto, ou digo que é o melhor a se fazer mesmo. Mas a verdade é que, se EU ganhasse muito dinheiro, iria conhecer ALGUNS LUGARES apenas, e iria voltar pra casa rapidinho.
Entretanto, tenho uma teoria sobre o gosto generalizado que as pessoas manifestam por viagens.
Em 2012 fiz duas pequenas viagens. Coisa rara na vida de alguém que nunca viaja.
E passei a entender melhor o porquê de as pessoas idolatrarem as viagens.
SIM! Ir a lugares diferentes é MUITO interessante. Sua visão de mundo se expande e se tiver alguma sensibilidade, e algum interesse, se encantará com as várias pessoas e coisas diferentes que encontrará, e com a história dos lugares por onde andará.
Mas não é só pelos lugares visitados que as viagens seduzem.
Quando você viaja, você não pega numa vassoura pra varrer o chão, não lava uma louça, nem arrumar a cama você precisa. Talvez nem precise preparar sua comida, afinal, é preciso aproveitar para conhecer os lugares, e nada melhor para conhecer lugares do que comer a comida local. Então, quando se viaja, praticamente só come-se fora, e come-se BEM. MUITO BEM! Sem contar os cafés-da-manhã divinos que praticamente todos os hotéis e pousadas oferecem.
Até eu, que não sou muito dado ao paladar, pois qualquer comida sempre tá bom, estou até agora com saudade do suflê de queijo do café-da-manhã da pousada onde me hospedei em Urubici, SC, recentemente. Quentinho, feito na hora pela dona da pousada. Parecia um pão de queijo derretido. Delícia!
Então a viagem terminou, e voltei pra casa. E qual foi a primeira atividade que fiz? Varrer a calçada que estava cheia de pedras e ciscos que meus bichos (gatos e cachorro) juntaram durante 5 dias. E a segunda? Ver meus emails e lembrar dos tantos compromissos que fingi que não existiam durante 5 dias.
Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar. Érico Veríssimo
Cheguei a cogitar a possibilidade de que, se pudesse, realmente viajaria mais. Porque quando você viaja, está tirando férias de si mesmo, e de sua própria vida, com sua rotina sem graça, com seus draminhas novelescos e compromissinhos chatos.
Mas se for viajar…
…seja um VIAJANTE, não um turista. PelamordeDeus!
Como dito acima, eu raramente viajo, mas quando viajo, MERGULHO na atmosfera do lugar. Observo TUDO, montanhas, o chão, as plantas diferentes, o CHEIRO do lugar, os insetos, os tipos de casas e arquitetura local, o biotipo das pessoas, o sotaque, a comida, enfim, TUDO. Não que eu queira me orgulhar disso, mas esse é o espírito do viajante, o cara que chega nos lugares de modo reverente, e sobretudo, curioso. Não vejo outra postura mais adequada.
O turista não. O turista faz como fizeram umas pessoas que chegaram junto conosco no topo do Morro da Igreja, aquele da foto acima. Da estrada normal até o topo do morro, são uns 15 km, numa subida pavimentada, porém bem íngreme. Dá trabalho chegar lá. Leva tempo. Nós subimos numa fila, com uma caminhonete a frente, e outros dois veículos de passeio atrás.
Chegamos e estacionamos todos juntos.
Eu, naturalmente, me encantei com o lugar. Estar pisando num ponto de terra acima das nuvens é bastante curioso. E lá fui eu fotografar tudo, plantinhas, flores, a paisagem, eu e a esposa. Depois pretendia desligar o celular (com o qual fotografei) e adotar uma postura mais contemplativa e SENTIR BEM o astral do topo do morro sem a preocupação de fotografar. Eu e a esposa andamos bastante por ali, meio que demos a volta naquele espaço em cerca de dez minutos, o que para mim ainda estava no começo da visita. Nessa volta, acabei passando de volta próximo ao meu carro estacionado e… eis que ele estava lá, estacionado sozinho.
Cadê aquele pessoal que estacionou junto conosco?
Foram embora 🙁
Senti um misto de desgosto e lamento por eles. Quanta pressa. Quanta ansiedade. Tanto trabalho pra chegar lá, fotografar um pouquinho, para logo voltar para… sei lá, bater outro recorde de menor tempo num outro ponto turístico, para então voltar pra hospedagem para… sei lá, assistir televisão.
Esse é o turista padrão. Aquele que vai porque os outros foram, e pra mostrar que foi; não para ir lá porque sente curiosidade de ir, e para sentir o lugar em todo o seu esplendor.
Ficamos mais uns 20 minutos ali e só fui embora porque era meio dia e o sol estava muito forte, porque se dependesse de mim, ainda ficaria mais uma horinha ali sentindo o clima do lugar.
[…] ninguém esclarecido quer ser associado a essa figura (o turista) – cujo modo de vida, definiu David Foster Wallace, é “se impor sobre lugares que, em todas as formas não econômicas, seriam melhores sem a sua presença”. Michel Laub
Agnódice
27 de maio de 2014 as 20:31
Gosto de ler o que você escreve, é sempre diferente de tudo o que já li e, confesso mudou meu modo de “ver as coisas”.
Quando puder vou conhecer Urubici; já gostei do lugar só de ler o que vc escreveu.
Roseli Andreolli
17 de julho de 2016 as 9:25
Amei me fez refletir.