Realidadezinha

Realidadezinha

Você pode não concordar comigo, mas não canso de observar como o romantismo, essa roupagem rosa do idealismo, costuma estragar as pessoas. Segundo a Wikipedia:

O termo romântico refere-se, assim, ao movimento estético ou, em um sentido mais lato, à tendência idealista ou poética de alguém que carece de sentido objetivo.

A realidade, olhe por si mesmo, não é nada romântica. Ela é comum, repetitiva, entediante, medíocre. O que uma maioria vive é só isso mesmo, um medíocre (desas)sossego. E os que se esforçam para ver a vida de forma romântica e idealizada, tendem a se dar mal, porque cedo ou tarde, vão se deparar com a irreparável, irregular e imperfeita realidade. Eu sou um desses, ou melhor, fui.

É preciso ser muito poeta para conseguir enxergar o belo e o singular no comum e cotidiano. E é bom ter esses olhos. A vida fica mais rica. Mais repleta de significados. Nada substitui ou paga esse olhar que vê o lado bom das coisas. Desde que você esteja ciente que logo vai acordar do sonho e se deparar com as responsabilidades desta vida dura e crua. É bom sonhar, desde que com os pés no chão.

Não vamos dizer que a mídia é responsável por fazer com que as pessoas esperem da vida situações perfeitinhas e irreais. O que a mídia faz é apenas atender às ânsias comuns, provenientes de uma constatação diária de que não, a vida não é (sempre) uma maravilha. E quando o é, é por curtos períodos. Um filme holywoodiano, daqueles, com final feliz, ou uma novela, nada mais são do que mais uma forma de escape, para realmente fugirmos um pouco da responsabilidade e da pressão de existir. A mídia simplesmente atende a demanda. Precisamos sonhar um pouco, para não enlouquecermos.

Já por outro lado, observo em minhas relações, pessoas próximas que são absolutamente práticas. Não esperam muito do mundo, e se colocam como agentes de sua própria vida. Aceitam o mundo como é e fazem o que podem pra mudar. Se entregam aos prazeres comuns da vida e se contentam com isso. Simplesmente não questionam.

Já os românticos, idealistas (pleonasmo?), enxergam fugas onde os outros veem prazeres. Não que estejam errados. O que é a vida senão uma infindável fuga de si mesmo, uma contínua distração? Mas costumam enxergar as coisas por seus defeitos, e em como DEVERIAM SER, ao invés de entender que tudo é do jeito que deveria ser e pronto! E essa postura cansa, desgasta, destrói o indivíduo por dentro. Quando extremada, essa postura faz o indivíduo querer morrer, fugir, sumir, faz sentir saudades do que nunca viu, viver em um mundinho só seu.

A esta altura, eu paro e pergunto pra você: Ser ou não ser? Ser romântico e idealista, arriscando a frustração certa em troca de uma VISÃO NOBRE E ELEVADA? Ser prático e objetivo, se atendo e se contentando com o possível?

Bom, o idealismo, isto é, a propensão por se orientar por ideais, em razoável medida é bom por nos fazer ver que tudo pode ser melhorado. Já senso prático em demasia nos torna acomodados. Como sempre o equilíbrio vem como a melhor resposta para a busca por uma orientação na vida.

E o romantismo nos relacionamentos?

Aí é que a coisa pega. Eu era o típico romântico incurável que conseguiu a cura impossível e milagrosa. Idealizava certa pessoa como se fosse perfeita para mim, como se fosse a salvação deste tímido rapaz, como se fosse o fim almejado de uma busca solitária e infindável. Ela era o anjo da minha vida, a flor do meu jardim, ela era a minha multidão enquanto almejava ser o seu recanto, blá blá blá.

Que coisa mais tosca.

E eu pergunto: Adiantou alguma coisa???

Não!

Foi quase um tempo perdido. Só não foi completo tempo perdido porque aprendi que mulheres são tão humanas como são os homens, por mais que elas se esforcem em parecer obras de arte se enchendo dos mais belos adornos e dos mais envolventes perfumes. São seres humanos. Isso é óbvio pra você? Pois pra mim, na época, não era. Que bom saber disso. Hoje vivo um relacionamento equilibrado, pautado por um profundo respeito, por ternura e é claro, amor. Mas não a idealizo e deixo claro que ela não deve esperar muito de mim além do que me comprometo e me esforço para oferecer. Aprendi a lição!

O romântico enxerga na outra pessoa o que almeja ser. Se você é apaixonada por um cara divertido, certamente é VOCÊ que quer ser divertida, e por se sentir incapaz de tal feito, inconscientemente, deseja possuir para si a qualidade divertida de seu parceiro (lembrando que isso não é regra, mas tendência).

É o que me leva a perguntar: Você quer encontrar a sua alma gêmea, não quer? Praticamente todos querem. Mas e o que você tem feito parar SE TORNAR a merecida alma gêmea desse alguém especial pelo qual espera? Observe que a própria definição “alguém especial” se refere ao que todo mundo almeja ser: ALGUÉM ESPECIAL! Esse raciocínio é o que me faz pensar que muito antes de esperar por alguém que vá preencher o seu vazio, muito melhor será que você o preencha por conta, tratando de se desenvolver como pessoa em seus gostos e talentos. Muito melhor que querer se apossar das virtudes alheias, é desenvolver suas próprias virtudes.

O romantismo é como um viés intelectual da paixão, que é algo mais físico. Assim como muitos especialistas afirmam que a paixão é uma doença, também o romantismo não é visto pela sociedade como algo positivo. No dicionário está em uma de suas definições em tom pejorativo:

(ro.man.tis.mo) sm.

1. Movimento artístico, literário e filosófico que se originou na Europa no séc. XVIII, caracterizado por ser uma reação ao neoclassicismo, e por dar livre curso à imaginação e às emoções.
2. Qualidade de romântico ou romanesco.
3. Pej. Comportamento do que não tem senso prático ou de realidade porque se deixa levar pelo devaneio e pela imaginação: Seu romantismo o fazia sofrer constantes decepções.

[Var.: romanticismo]

(i.de:a. lis.mo) sm.

1. Propensão a orientar-se por ideais; IDEALIDADE
2. Fil. Doutrina ou postura que reduz o ser ao pensamento, ao espírito, à consciência, às ideias, considerados estes a base de solução dos problemas filosóficos.
3. Estét. Doutrina, no âmbito da arte, que sustenta ser a representação fictícia (de pessoa, objeto, sensação etc.) mais satisfatória para o espírito do que a realidade objetiva.
4. Fil. Teoria segundo a qual o mundo material só pode ser compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva.

[F.: ideal – + -ismo.]

Concluindo: A cada dia vejo menos vantagem quando ouço alguém dizer que quer encontrar alguém romântico e carinhoso. Carinhoso até vai. Sensibilidade e ternura são, ao meu ver, os reais temperos de um relacionamento equilibrado. Mas o romântico, seja homem, seja mulher, tende a ser alguém desprovido de um senso objetivo da realidade. Um pouquinho até vai. Flores, presentinhos, gentilezas… Mas se for demais, saia correndo enquanto for tempo, como fez – acertadamente – a moça por quem eu era apaixonado 🙂

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Ps.: A foto que ilustra este texto tem a origem neste interessante site, com releituras das principais personagens dos contos de fadas. Vale o click: www.fallenprincesses.com