Esta é a segunda parte de um texto publicado em novembro de 2013 – Como ser mais seguro (sugiro que clique e leia para conhecer a introdução da mensagem que segue).
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Há um fator preponderante a respeito da segurança psicológica que, ao meu ver, abarca toda essa questão da autoestima. Eu diria que esse fator são os outros. Muitos de nós são tão vulneráveis à opinião dos outros que um elogio ou uma crítica alheia pode mudar completamente o que sentimos a nosso respeito. Quem é seguro não depende de aprovação e reconhecimento constante, pois acredita, acima de tudo, em si mesmo; está satisfeito consigo mesmo; basta a si mesmo.
Quando uma pessoa tem uma autoestima alta, o seu relacionamento com os demais torna-se mais seguro, já que ela reconhece sua importância e tem noção de seu valor diante do grupo. Mesmo que alguém a critique de algum modo, ela está segura de sua integridade física e de suas competências, então essas críticas não a abalam tanto. Porque entendem que uma opinião alheia sobre si mesmo é apenas uma possível consideração sobre seu valor pessoal, e não uma certificação oficial e definitiva sobre o que ela é e quanto vale como indivíduo.
A única pessoa no mundo que tem direito de certificar o seu valor, oficial e definitivamente, é você mesmo(a).
Mas…
…como não se importar com o que os outros dizem?
Aprenda a não se importar com os outros
Aqui está a grande chave de uma vida mais segura e livre. Confesso ter sentido uma felicidadezinha ao ter atentado para a importância desta questão como fundamento da segurança emocional. Como se enfim eu tivesse descoberto o grande ingresso para uma vida mais leve e mais minha.
Como não se importar com o que os outros pensam e falam? Difícil não? Tenho uma dificuldade particular com essa questão (Já falei disso aqui: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). Sofro muito de ressaca moral. Vivo com remorso de coisas que faço ou digo, e olha que, socialmente, falo muito pouco.
O fato é que sempre que sentimos arrependimento por ter dito algo, ou quando evitamos falar certas coisas, estamos dando mais poder á opinião do outro do que à nossa própria opinião.
É claro que amamos certas pessoas, e como quem ama quer o bem, estaremos sempre tomando cuidados para não atingir essas pessoas. É normal, mas essa postura de se ficar medindo as palavras com os outros tem de ter um limite.
E o limite, tanto com as pessoas que amamos, como com as pessoas de nosso convívio social, é o nosso bem estar.
Evite ao máximo comprometer seu bem estar tendo que medir palavras diante dos outros. Por isso o caminho da segurança, isto é, desse bem estar íntimo, é não depender da aprovação, reconhecimento e amor do outro, como se fosse o principal alimento de subsistência. Quando a pessoa sabe o valor que tem, e a correção do que disse, e se concentra nessas características próprias mesmo em meio a tempestades sociais, ela pára de se comportar como o cachorrinho carente que faz qualquer peripécia por alguns afagos de seu dono.
Dona de si mesma, ela pára de se preocupar com o que as outras pessoas vão pensar a seu respeito. Aceita o fato de que não existe unanimidade! Sempre haverá aqueles que gostam e que não gostam dela, ou do que ela disse. Percebeu que é melhor ter a consciência leve e limpa, sendo fiel a seus valores, mesmo que isso implique em desagradar ao outro. Em vez de se preocupar com o que estão pensando a respeito dela, continua investindo em seus projetos pessoais, valorizando-se a cada dia mais.
Como ela sabe do valor que tem, assume naturalmente que as pessoas, de modo geral, gostam dela.
Ela está consciente que tem um valor fixo, que ela mesma agregou para si, e que não depende dos outros concordarem ou não, de entenderem ou não.
Ela segue tranquila, integra, estável, inabalável, apegada ao que construiu de bom em si mesma.
Os outros, na verdade, não estão nem aí para você
Esta é a situação mais provável, sempre!
A verdade é que você não é o centro do universo. A maioria das pessoas ao redor estão na verdade muito ocupadas cuidando de suas próprias vidas para ficar cuidando da sua.
Você pode ficar achando que disse algo realmente estupido naquela festa, ou talvez está convencido que a espinha em seu nariz é tão feia que todos estão reparando, ou que todos estão falando sobre o erro que você cometeu na semana passada… Mas a verdade é que eles provavelmente nunca mais na vida se lembrarão desses episódios.
Perceba que quem mais se importa com você, é você mesmo, e que você é o único responsável por suas próprias ações e sentimentos. Você não pode controlar outras pessoas, mas você pode controlar como você reage e o que sente sobre elas. Neste caso, a sugestão é perceber que elas não estão nem um pouco preocupadas com você.
Mas quando os outros demonstram se importar?
Aceite a ideia de que você está o tempo todo sujeito a julgamentos alheios, quer você se preocupe, quer não.
Aceite que você não vai conseguir agradar a todos o tempo todo. Nem se quisesse. Não tente ser perfeito, não vai conseguir.
Se você agir, vão falar porque você agiu. Se você não agir, vão falar porque você não fez nada.
Não importa o que os outros pensam porque eles vão pensar de qualquer maneira. Paulo Coelho
Aceite que…
O que os outros pensam, é apenas o que eles pensam.
O que os outros dizem, é apenas o que eles dizem.
Não tenho controle sobre o que pensam, nem sobre o que dizem de mim.
Portanto não posso me sujeitar à opinião dos outros, e me anular caso não gostem de mim.
Porque só eu sei a verdade sobre mim.
Estaria me aprisionando em mim mesmo, para não ofendê-los.
Tenho direito de ser o que eu puder ser, até onde eu puder ser.
O grande compromisso que tenho com a vida é ser fiel à minha verdade e aos meus valores, que são o que realmente importa, sejam quais forem.
Se os outros não gostarem, realmente, será um problema deles.
Ninguém pode fazer com que te sintas inferior sem o teu consentimento. Eleanor Roosevelt
O maior reconhecimento tem de vir de si próprio porque aí você vira um servo da sua alma e da sua vocação, e não da opinião de terceiros. Roberto Shinyashiki, psiquiatra
O prejuízo de viver dentro de modelos é que todos se tornam parecidos e as singularidades de cada um desaparecem. Para se viver de forma satisfatória, o mais possível em sintonia com os próprios desejos, as pessoas devem ter coragem. A preocupação com o que os outros pensam é a forma mais fácil de ter uma vida limitada e medíocre. Regina Navarro Lins, sexóloga
Meu Deus, o que os outros vão pensar?
No excelente livro Desejo de Status, de Alain de Botton, o qual recomendo fortemente junto a QUALQUER outro livro do autor (muito embora esteja difícil de encontrá-lo), encontrei os trechos abaixo, os quais acabam apoiando bastante o texto citado inicialmente aqui, especialmente em relação à importância que damos às opiniões alheias. Eis os trechos:
Quando começamos a analisar as opiniões dos outros, propuseram os filósofos há muito tempo, fazemos uma descoberta triste que ao mesmo tempo, curiosamente, é um alívio: as opiniões da maioria da população sobre a maioria dos temas são permeadas por uma confusão extraordinária e pelo erro. Chamfort, ecoando a atitude misantropa de gerações de filósofos antes e depois dele, colocou a questão com simplicidade: “A opinião pública é a pior de todas as opiniões.”
O motivo para essa falha de opinião está na relutância do público em submeter seus pensamentos aos rigores do exame racional e no fato de que essas opiniões estão baseadas na intuição, na emoção e nos costumes. “Pode-se estar certo de que toda idéia que geralmente é sustentada, toda noção aceita, será uma idiotice, porque foi capaz de atrair a maioria”, observou Chamfort, acrescentando que o que é lisonjeiramente chamado bom senso é em geral pouco ou nenhum senso, pois sofre de simplificação, falta de lógica, preconceito e superficialidade: “Os costumes mais absurdos e as cerimônias mais ridículas são desculpadas em toda parte apelando à expressão, ‘mas esta é a tradição’ “.
[…]
“Aos poucos nos tornaremos indiferentes ao que se passa pela cabeça dos outros, quando adquirirmos um conhecimento adequado da natureza superficial e fútil de seus pensamentos, da estreiteza de sua visão, da insignificância de seus sentimentos, da perversidade de suas opiniões e da quantidade de erros que cometem… Devemos então ver que quem quer que relacione muito valor à opinião os outros confere a eles honra demais”, afirmou Arthur Schopenhauer, um modelo importante da misantropia filosófica.
Os trechos acima se relacionam fortemente com o que Nelson Rodrigues quis dizer ao concluir que “toda unanimidade é burra”. O fato é que, salvo pouquíssimas exceções, a maioria das pessoas já cometeu tantas faltas na vida, e mantem opiniões tão infundadas na cabeça, que não poderiam jamais dar qualquer pitaco a respeito da vida alheia.
Mas sabemos que é mais fácil apontar para o outro do que olhar para si mesmo.
É mais fácil julgar, do que entender.
E pelo mesmo motivo, não nos é razoável atribuir tanta autoridade às bem intencionadas opiniões dos outros.
Os outros
Em 2011, eu havia compilado um texto com frases e pensamentos do Gasparetto sobre como lidar e conviver com os outros. É esse texto aqui. Hoje vejo como naquela ocasião, acabei atentando para um assunto que viria a se concluir somente hoje, com esse texto sobre segurança.
Mais pela importância do conteúdo do que pela improvável qualidade da escrita, eu diria que este texto aqui e aquele de 2011 são os mais importantes deste site.
Acho que a insegurança emocional é o fator fundamental que define não só a saúde física e psicológica de uma pessoa, como também, seu sucesso ou insucesso na vida.
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