A sociedade vive mergulhada numa ilusão tão grande sobre esse tal de amor, que nós não temos a dimensão da quantia de tempo, dinheiro e energia gastos em relacionamentos que em sua maioria, só nos devolvem, de fato, uma vida pesada, cheia de responsabilidades e dores de cabeça.
Entorpecidos pelas fantasias de uma cultura do romantismo, e esperançosos de que as promessas dessa cultura preencham nosso vazio emocional, perdemos a lucidez necessária para perceber o óbvio, que…
O amor não existe
Em tese, existem três tipos de amor: O romântico (ou paixão), o amor fraternal, e o respeito pela dignidade humana.
Particularmente, depois de transitar da crença no primeiro para o segundo, agora estou chegando à transição entre uma crença desgastada no amor fraternal e, motivado pelo fato de que o ser humano é um ser preponderantemente egoísta, estou dando meus primeiros passos na convicção última que a única consideração que alguém merece é o respeito humanitário. Porque a maioria dos seres humanos nem vivos mereciam estar.
A conclusão libertadora é que, no final das contas, praticamente ninguém vale a pena, e praticamente ninguém merece que fiquemos o tempo todo tentando agradar, especialmente se não há a devida retribuição; porque somente mentes infantis acreditam em amor incondicional.
A maioria das pessoas segue na vida convictas de que elas precisam de alguém ao lado para se sentirem bem, completas e “aceitas” (cruz-credo), o que é um grande equívoco. Toda essa convicção nada mais é que uma sensação que sobrevive em cima de alguns fatores muito inconstantes:
Biologia: o efêmero prazer sensual, um suborno da natureza para procriarmos;
Emoção: o vazio de uma autoestima baixa; um profundo sentimento de ausência de estima por si mesmo(a) e de validação como ser existente.
Cultura: uma cultura que pressiona as pessoas para aderirem a relacionamentos “estáveis” e de longo prazo, seja por cobranças familiares, seja por influência das artes midiáticas como filmes e novelas. Ninguém se dá por satisfeito sem que nos vejam cair na mesma armadilha que caíram.
(e às vezes, há um 4º item: um rostinho lindo… e mentiroso)
Quando estamos em idade de procriação – hormônios em ebulição – e encontramos alguém que num primeiro momento nos preencha o vazio da sensação de sermos estimados e importantes, surge o amor romântico, na forma de uma estupenda, e estúpida, paixão.
Sobrevivência
Com o tempo veremos que as pessoas são basicamente narcisistas e só pensam em si mesmas e no próprio bem-estar. As pessoas não nos amam, amam nosso amor por elas; amam o que podemos fazer por elas. E verdade seja dita, nós também não amamos as pessoas, amamos a disposição delas por nós.
O amor é um jogo; uma competição. E o encerramento desta competição está no casamento, no qual normalmente os dois saem perdendo.
E não é nossa culpa. É culpa da natureza das coisas, o mundo é inóspito, cruel, duro e rude. Nossa sobrevivência é prioridade de origem biológica. Amor não enche a barriga de ninguém, diz o ditado. Então é óbvio que as pessoas priorizarão sua sobrevivência e o próprio bem-estar a despeito de qualquer ilusão de paixão e amor perfeito.
As questões materiais de sobrevivência e comodismo já decidiram o infeliz destino de mais casamentos do que supõe nossa ingênua crença no poder do amor, de decidir o futuro dos relacionamentos.
As mulheres, pela natureza frágil de sua constituição, sempre se viam ainda mais sujeitas ao interesse pela sobrevivência. Ficaram sempre com aquele homem que as convence (pelo valor social) de que oferecerão melhores condições de vida.
Que nenhuma mulher seja culpada por isso; a culpa é da Criação Divina, que nos legou esta realidade limitada, estúpida e injusta.
As pessoas são basicamente egoístas, desprovidas de talento, e têm, portanto, uma propensão a muito pouco oferecer, e de muito precisar.
Quando você “luta por amor”, está basicamente lutando para assumir compromissos, obrigações e responsabilidades que vão te preencher a maior parte do tempo, em troca de breves e – no decorrer dos anos – cada vez mais raros momentos de prazer.
Quando você “luta por amor”, está basicamente lutando por alguém que no médio e longo prazo vai basicamente te sugar a energia vital. O mundo está muito mais povoado por vampiros do que supõe nosso ingênuo ceticismo quanto a lendas e folclores.
No instável balanço dos relacionamentos, ou você estará com alguém fraco que lhe puxará pra baixo e para trás, ou estará – na verdade, tentará estar e não conseguirá – com alguém forte que lhe fará sentir desprezível.
As almas não se entendem
Há uma frase atribuída a Manuel Bandeira:
As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Cada um de nós possui um jeito próprio de fazer as coisas, ou de não fazê-las, uma personalidade toda própria, com gostos, visões, posturas, amizades, famílias. Se relacionar com alguém significa colocar praticamente em conflito de guerra o nosso mundo particular contra o mundo particular de outra pessoa. Muito raramente estes mundos combinam e se afeiçoam, mas a tendência é inversa.
Tem que estar MUITO A FIM.
Com o passar dos anos, no entanto, esta disposição diminui drasticamente.
De modo que concluo, salvo raríssimas exceções, que NINGUÉM VALE A PENA.
Uma pessoa tem que ser muito maravilhosa pra pagar minha paz de espírito.
Talvez…
TALVEZ, você tenha a graça de encontrar alguém que lhe ajude a puxar a carroça da vida lado a lado. O caminho vai ficar menos pesado.
O amor não existe, só há provas de amor. Pierre Reverdy
Ainda assim vale lembrar que no final das contas somos todos burros puxando carroças.
Em termos de relacionamentos, estamos todos, uns mais, outros menos, absolutamente f…
Estar sozinho neste mundo é às vezes visto com desprezo, como fracasso pessoal. A pessoa sozinha é, na verdade, alguém que está deixando de se incomodar com outra pessoa muito provavelmente dispensável, e está na verdade poupando-se diante de uma existência que basicamente não vale a pena. Uma pessoa sozinha é basicamente uma pessoa em paz; caso não esteja vivendo a infelicidade de acreditar na desgraçada ilusão de que PRECISA de alguém.
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As Exceções
Tudo que falei acima vale como tendências amplas, claramente observáveis na ampla maioria dos relacionamentos. Praticamente todo mundo tem um problema de relacionamento. Essa ampla maioria permanece junta por questões de procriação, insegurança emocional e principalmente, por comodismo material. Elas preferem estar mal acompanhadas, do que sós. Nunca é demais lembrar que o sábio ditado sugere o oposto:
Antes SÓ do que MAL acompanhado.
Ditado pra se pôr grande num quadro e pendurar na parede da sala.
Mas existem exceções, CLARO. Há uns felizardos que encontram pares que realmente vem somar, agregar, ajudar a tocar essa vida dura e difícil. Que feliz aconchego devem sentir. Eu não sei o que é isso. Mas não desacredito, sei que existe, e fico feliz por isso.
Ainda que no final das contas não seja amor, e sim, um mútuo amparo emocional, motivado pela insegurança diante de uma existência inóspita.
Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra. Rainer Maria Rilke
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