Existe um conceito “criado” (destacado, na verdade) por Nassim Taleb, chamado “Skin in the Game“.
Na língua portuguesa esta situação é bem descrita pela expressão já bem antiga “arriscando a própria pele“.
Há uma versão vulgar e contrária a esta expressão, que é “tirar o ** da reta“.
E outra bem conhecida: “Pimenta nos olhos dos outros, é refresco“.
Tem também a muito precisa lei do conselho, de Alex Castro:
(ou “acho que você deve mandar seu chefe tomar no c*”):
a contundência de um conselho é inversamente proporcional às consequências práticas que recairão sobre o aconselhador.
Thomas Sowell descreveu esta situação de forma mais sofisticada ao dizer que “É muito fácil estar errado, e continuar errado, quando os custos de se estar errado são pagos pelos outros.”
Todas as teorias de salvação do mundo desabam imediatamente se você testá-las por este critério do skin in the game.
Alguns exemplos:
As pessoas mais propensas a defender veementemente a distribuição de renda costumam ser intelectuais bem posicionados na sociedade. Ganham, portanto, um bom salário, certamente acima de 80% da população, que tanto querem ajudar. Por uma dificuldade natural com lógica e estatísticas, este tipo de pessoa dificilmente se dá conta, mas ela seria a pessoa exata cuja renda poderia ser distribuída.
Entretanto, esta pessoa é a menos propensa a distribuir a própria renda.
As pessoas mais engajadas na campanha #FiqueEmCasa, em tempos de pandemia, costumam ser agentes públicos que estão com seu emprego e salários garantidos. Na medida em que a arrecadação diminui e governadores e prefeitos avisem que os salários vão atrasar, o engajamento no fique em casa desmoronará imediatamente. Prefeitos foram os primeiros a isolarem cidades, mas na hora de isentar o cidadão dos impostos para auxiliá-los a passar por este período, passam a bola pro governo federal.
Outro exemplo, porque eles são muitos: Os jovens que tanto defendem o meio ambiente, fazem parte da geração mais consumista que já pisou neste planeta. Para defender o que defendem, precisariam reduzir seu consumo, incluindo aí o consumo de energia – transporte, ar-condicionado – a níveis drásticos, mas o conforto proporcionado por esse estilo de vida é tão atraente e tão corruptível, que poucos realmente se mobilizam para tal redução.
As pessoas muito raramente estarão dispostas a pagar o preço das teses que defendem.
Elas querem que os outros façam, que os outros comecem.
Se os outros não fazem, nem começam, continuam a cometer os erros que tanto criticam.
Não adianta falar
Esse conceito de arriscar a própria pele, ou a variação sentindo na pele, fundamenta outro entendimento, agora sobre a questão do aconselhamento.
Temos por costume aconselhar aos outros sobre nossas experiências. O que quase nunca surte qualquer efeito uma vez que raramente somos ouvidos; quando ouvidos, nossos conselhos raramente são seguidos.
As pessoas possuem uma certa teimosia, uma certa insistência em seguir uma visão particular das coisas completamente descolada da realidade, a qual possui grande probabilidade de não dar certo.
Como diz a sabedoria popular, elas precisam fazer, errar e quebrar a cara pra aprender.
Nós de modo geral precisamos sentir na pele as consequências de nossos erros, para efetivamente – e espera-se – definitivamente aprendermos que certas coisas não se faz; que certas coisas não funcionam.
Já escrevi sobre isso, de forma irônica, aqui: Não adianta falar.
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