Nossos pais eram, de forma geral tão corajosos e batalhadores, que os filhos, não raro se sentem indignos de ter recebido tudo de mão beijada. Outros já acham mais do que normal ganhar um carro sem que movessem uma palha para merecer algo, como a própria Bottan lembrou.
Um dos problemas, ou desvios de noção recorrentes dessa situação é que muito jovem por aí entende que na vida, basta estudar, fazer faculdade, e seguir sua vida belo e formoso. Alguns conseguem trilhar bem esse caminho porque está em sua natureza. Outros (eu, por exemplo) já não se sentem bem com essa receita pronta… Antigamente o conceito de uma universidade era o de que formava profissionais. Hoje, em especial as particulares, só o que fazem é formar suas fortunas.
De forma geral a zona de conforto que os pais criaram para os filhos (eu trabalho para dar uma vida melhor aos meus filhos / Eu trabalho para dar aos meus filhos tudo que eu não tive), enfim, essa zona de conforto, ou o conforto propriamente dito, acaba por, inevitavelmente, “estragar” os filhos, deixando-os mimados, com o sentimento de hesitação, dúvida, fragilidade. A pessoa em situação confortável tende a medir demais as consequências do que “pretende” fazer e… não faz nada. Fica estagnada.
T. Harv Eker cita em seu livro Os Segredos da Mente Milionária:
Ele (o conforto) faz com que a pessoa sinta aconchego e segurança, no entanto não lhe permite crescer. Para isso, ela (o indivíduo) tem que ampliar a sua zona de conforto. Alguém só consegue se expandir verdadeiramente se estiver fora dessa área.
Neale Donald Walsch também afirma:
A vida começa ao fim de sua zona de conforto.
Vida é ação, atitude, enfrentamento. Tudo que fica parado, estraga. Seja a água parada, os aparelhos eletrônicos, ou seres vivos.
Falar é fácil, não?
Ninguém gosta de passar por dificuldades. Entretanto é inegável que foram elas que motivaram nossos pais a encararem coisas que não temos coragem de encarar. Coragem temos, o que não temos é motivação. Já temos praticamente tudo que precisamos para viver bem. Encarar desafios pra quê? Deixamos a desejar com nossas auto-descobertas. Temos um potencial oculto como o de qualquer pessoa bem sucedida. Mas o medo, o receio de trilhar o próprio caminho, de fazer a diferença, nos impede de bem utilizar todo esse potencial. Dessa forma vamos seguindo, cada qual fazendo sua faculdadezinha para sermos apenas mais um. Ser diferente, seu autêntico, enfrentar as opiniões medíocres e expectativas dos outros, enfim, cansa, dá trabalho, é arriscado.
É claro que não dá pra generalizar e a culpa também não é dos pais. Eles nos ensinaram o que sabiam, e cada um tem o que precisa da vida. E o espírito verdadeiramente forte vai tocando sua vida sem se prender a uma educação possivelmente desviada. Contudo é sempre bom ter consciência de que se ousarmos ao menos um pouquinho mais não será o fim de mundo.
O que não mata, fortalece!
pacheco
31 de outubro de 2009 as 16:08
Muito lúcido o seu artigo, parabéns, Ronaud.
Ana Maria Mantzos
03 de novembro de 2009 as 15:30
Também ajo desta forma com meus filhos, e já há algum tempo vejo o mal que isso causou. Não é questão de dar-lhes tudo o que eles precisam materialmente, mas de ficar poupando-os de outras situações que possam trazer cansaço, frustração ou outras coisas do gênero. Notei que estou impedindo que eles cresçam! Agora, estou “matutando” em como diminuir um pouco o estrago, enquanto eles ainda são jovens e vivem comigo.