Tenha a SANTA paciência!
Segundo o dicionário Aulete, paciência é:
[…]
2. Virtude que consiste em suportar os males e incômodos sem reclamar, sem se revoltar ou irritar; RESIGNAÇÃO: uma paciência de santo.
3. Virtude de saber esperar com calma: As horas passavam, e ele não perdia a paciência.
4. Qualidade ou comportamento de quem não desiste nem desanima; PERSEVERANÇA: Esses cálculos exigem paciência.
[…]
De onde podemos concluir que ter paciência é uma virtude. É a virtude suprema, de caráter divino, de tão difícil que é a sua prática.
É a qualidade íntima, natural ou desenvolvida, que permite suportar placidamente o indesejável; o que exige firmeza de espírito.
Qualidade que permite saber esperar tranquilamente pelo desaparecimento do indesejável; o que exige confiança, no bem e na justiça divina, isto é, exige esperança.
E uma qualidade que nos incita a insistir no espírito de fortaleza e na confiança de que tudo vai dar certo, isto é, nos exige perseverança.
Ai que lindo
Fácil, não? Falar sobre paciência é fácil, lindo e inspirador. E é assim até o primeiro pernilongo começar a rodear nosso ouvido.
Impaciência significa ego contrariado. O ego gosta das coisas perfeitinhas, bonitinhas, arrumadinhas, planejadinhas, etc. Nosso ego é um FRESCO paranoico e birrento. E na primeira contrariedade começa a ter chiliques.
O que alivia um pouco nossa situação é que ninguém é 100% impaciente ou 100% paciente. Todos temos paciência de Jó para algumas áreas da vida, o que quase sempre se expressa através de nossos talentos naturais e profissionais, e temos uma impaciência desgastante para outras áreas.
Mas também não nos enganemos com os muito pacientes. Quase sempre o são porque vivem aquela vidinha dentro de uma zona de conforto tal que exige muito pouco deles. Quando eu era adolescente e não trabalhava e não namorava, me achava um cara bem paciente. Hoje em dia explosões de raiva são comuns por aqui. Hoje afirmo categoricamente que não sou nada paciente e que preciso resolver isso. Só se conhece a (im)paciência de alguém quando a testamos. E isso só acontece em certas situações e durante certas fases da vida.
Recentemente, após alguns incidentes bastante reprováveis da minha parte, voltei a estudar um pouco sobre a paciência, tentando encontrar formas efetivas de manifestá-la mais em meu dia a dia. Gente boca-aberta muito calma me dá nos nervos 🙂 mas mesmo sendo bem impaciente, também sempre achei o fim da picada o tipo do sujeito nervosinho e irritadinho. E bem no fim, em algumas situações me torno exatamente um deles 🙁
A paciência com os outros é amor. A paciência consigo mesmo é esperança. A paciência com Deus é fé.
Lições da paciência
Nesse estudo particular sobre esta virtude impossível – a paciência – acabei relendo pela TERCEIRA vez o livro O Poder da Paciência, já resenhado aqui. E só nessa terceira leitura que consegui extrair algumas lições realmente sólidas. E percebi que não basta conhecer conceitos como resignação, esperança ou perseverança. É preciso compreender que a paciência é uma arma para diversos inimigos, e que como uma arma complexa, exige o conhecimento de vários de seus aspectos menores, para se poder utilizá-la efetivamente no combate. Há situações da sua vida onde precisará da paciência sob o sentido da compreensão, da força e da resignação, em outras situações, precisará dela sob o sentido da fé e da confiança de que tudo AINDA dará certo, e em outras situações ainda, precisará da paciência sob o sentido da motivação, do ânimo e da persistência.
Quem ama aceita, quem aceita é paciente.
E as lições que passo a resumir a seguir, elucidam melhor alguns desses aspectos menores dessa arma tão poderosa, a paciência:
Consciência
Ter e desenvolver a própria consciência, e a noção de que somos seres imperfeitos, convivendo com outros seres imperfeitos, num mundo imperfeito, ajuda bastante a encarar os fatos e incômodos diários sob um viés mais suave. Esperar menos, de si, dos outros e do mundo, ajuda bastante. E entender-se como um ser em constante aprendizado também. Relaxa!
Se você refletir, verá que a consciência de si mesmo, ou seja, o auto-conhecimento do que somos exatamente, assim como a consciência da realidade das coisas, sem expectativas demasiadas, ou muito reduzidas, são condições pessoais que se relacionam profundamente com todos os próximos itens.
Impermanência
Incorporar a noção de que tudo pode piorar a qualquer momento e de que SIM, tudo poderá MELHORAR a qualquer momento, nos estimula a esperança, ao mesmo tempo em que nos alerta, nos lembra e assim nos prepara para a condição imperfeita com a qual convivemos diariamente.
Esperar é normal
Embora você não queira acreditar, ainda vai esperar muito nessa vida. Então é melhor já preparar o espírito. Até porque a vida já é uma longa espera pela morte certa. Warren Buffet também diz que algumas coisas realmente levam tempo. Por exemplo, não é possível criar um bebê em um mês engravidando nove mulheres.
Força
A paciência nos fortalece. Quanto mais vencemos a vida, mais competentes para vencê-la nos sentimos. Quanto mais resolvemos os problemas e superamos as dificuldades, melhor nos sentiremos intimamente. Fugir do que nos impacienta é uma estratégia válida para um reequilíbrio momentâneo, mas mais cedo ou mais tarde, teremos que enfrentar – e matar – nossos monstros interiores.
Pressa
Por que tanta pressa? Quer chegar mais cedo ao cemitério? Pois em última instância é só isso mesmo que você vai conseguir com essa agonia toda de chegar não sabe direito onde. Aprenda a sossegar.
Tédio
“Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse a si próprio de não ser muito bom poeta para extrair suas próprias riquezas.” – Rainer Maria Rilke
Concentração
A irritação a impaciência demasiada nos coloca em desequilíbrio, o qual ocorre quando perdemos nosso centro de gravidade. E o melhor ato para recuperar esse centro é a concentração. Técnicas como uma simples meditação já são o suficiente.
Perspectiva
Quando estiver diante de uma situação difícil, pergunte-se: Qual a importância disso no esquema geral da minha vida? Vale todo o estresse que estou passando ou não é pra tanto? O filósofo Espinoza costumava analisar os fatos “sob o ponto de vista da eternidade” 🙂 sob o qual praticamente todos os dramas humanos não têm a menor importância.
Tendemos a saber intuitivamente que, leve mais tempo ou menos tempo, as coisas acabam se ajeitando. Então muitas vezes o melhor é se distrair, esperar o tempo passar com desprendimento, fazer o que for possível, até que tudo se ajeite espontaneamente.
O lutador Junior Cigano comentou em entrevista à Marília Gabriela que costuma se visualizar como vencedor após os combates desde muito antes deles acontecerem. Não é vencedor à toa. Saber enxergar o fim do caminho ajuda a enfrentar melhor as pedras que encontraremos no meio do trajeto.
Controle
Há coisas na vida, e elas são maioria, as quais você não pode controlar, por mais que queira. Aliás, você não pode controlar praticamente nada a não ser a SI MESMO(A), e olhe lá… Então por que essa paranoia toda em relação a como os outros deveriam fazer as coisas? Ou a como as coisas deveriam ter acontecido? Cuide com o verbo DEVERIA. Quanto mais reconhecermos a nossa completa falta de controle sobre os outros, mais pacientes nos tornaremos, porque reduziremos nossas expectativas sobre suas maneiras de ser e começaremos a direcionar nossa paciência para a pessoa certa: nós mesmos. M. J. Ryan diz:
Hoje consigo perceber que, quando somos racionais, podemos ver que existem muitas maneiras de fazer as coisas. As pessoas ao nosso redor são diferentes de nós, graças a Deus, e portanto é óbvio que irão agir de maneira diferente. De maneira DIFERENTE, e não melhor ou pior. Quanto menos tempo gastarmos julgando-as, mais felizes ficaremos. Além disso, é sinal de respeito e valorização deixar que as pessoas ajam como querem e em seus próprios ritmos. Mostramos assim que sabemos que elas são capazes e que apreciamos suas habilidades.
Se você está há tempos tentando mudar os outros, e teve pouco sucesso, é sinal que passou esse tempo todo tentando mudar a pessoa errada, que, lamento informar, sempre foi você.
Desapego
Profundamente relacionado ao item anterior, desapegar-se de alguns desejos, principalmente os que mais nos tomam a atenção, ao invés de persistirmos ainda mais neles, pode ser a melhor solução. Há coisas nessa vida que realmente não são pra nós e precisamos ter a lucidez e a humildade de compreender e aceitar isso. Não se pode ganhar todas, não se pode ter tudo, e muitas vezes, azar nosso, não se pode ter nem o mínimo. É a vida com seus mistérios nos atormentando o espírito. A vida, pra muita gente, é isso mesmo: Um querer muito, sem poder muito, um viver sem poder VIVER, um mero sobreviver até que as coisas melhorem, ou até que elas acabem.
Esperança
Manter uma confiança inabalável no bem ajuda muito a suportar o que não pode ser resolvido num primeiro momento. Acreditar e dizer para si mesmo que tudo vai dar certo promove uma descarga pelo corpo de uma agradável – e necessária – sensação de leveza. Uma forma de manter esse otimismo é acreditar no ditado popular que diz que o que é seu está guardado. Porque bem no fim, é exatamente assim que acontece. O que lhe pertence chegará no tempo certo, nem antes, nem depois. O segredo da paciência está em ocupar a cabeça com coisas saudáveis enquanto o momento de agir não chega.
Não se leve muito a sério OU leve as coisas mais na esportiva
Odeio quando me sugerem que devo levar as coisas mais na esportiva.
Porque sei que estão certos 🙂
Quanto mais impaciente alguém é, mais arrogante se mostra. Sempre acha que merece mais e não aceita menos que o perfeito. Pensam: “Sou muito importante para ser tratado assim”.
A autora M. J. Ryan, do livro O Poder da Paciência, resume essa questão brilhantemente:
Para todos nós, o crescimento requer uma busca de equilíbrio entre a autoestima saudável e o egocentrismo, entre a autovalorização e o reconhecimento de que o mundo não gira em torno de nós.
Podemos ser sensacionais, mas ainda assim não somos o centro do universo. E cedo ou tarde, nos confrontaremos com circunstâncias e principalmente pessoas que não estão nem aí para nós e nosso presunçoso senso de importância.
Quer saber mais? Clique e veja um ótimo texto sobre como ser paciente.
Veja também algumas dicas bem práticas para aprender a ser mais paciente.
Cassiano Ricardo Santana
07 de março de 2015 as 15:04
parabéns os textos lindos e maravilhosos e coloquei em pratica e estar dando resultados grato pela ajuda que sejas iluminado muito mais e eu seja o previlegiado de ler.