Abaixo, texto de Regina Navarro, sobre esse caso comum em relacionamentos:
Quando se é trocado por outro
Geralmente, o maior medo de quem está vivendo uma relação amorosa é esse mesmo. Por isso é que há tanto controle do parceiro, e o ciúme passa a fazer parte do dia-a-dia do casal. Mas se a troca realmente acontece, o sofrimento é intenso e é difícil elaborar essa perda. A falta da pessoa amada provoca uma sensação de vazio e desamparo. Fomos ensinados a acreditar que apenas o parceiro amoroso é capaz de nos garantir não estar só, de ser amado e de ser uma pessoa importante, aumentando nossa autoestima.
Quando o parceiro prefere outra pessoa para viver ao seu lado, quem é excluído se sente profundamente desvalorizado, com a autoestima bastante comprometida. Acredita que falhou em alguma coisa e que sua falta de atrativos foi a grande responsável. Imagina que a pessoa escolhida é muito mais interessante, mais bonita, mais inteligente e melhor na cama.
É comum numa situação de rejeição serem reeditadas inconscientemente todas as rejeições sofridas desde a infância, exacerbando a dor do momento. Sem que se perceba, se chora naquela perda todas as outras anteriores. Entretanto, se a pessoa não depende tanto de apreciações externas para alimentar sua autoestima, pode ficar triste, sofrer pela perda, mas sabe que vai continuar vivendo e experimentar novas relações amorosas.
Os homens suportam menos do que as mulheres a dor de se saber trocado por outro. Além de tudo o que a mulher sofre, ele ainda tem que tolerar a censura social por não ter correspondido ao ideal masculino da nossa cultura de força, sucesso e poder. Não ter conseguido segurar a própria mulher, se reveste da dramática ideia de que não foi “macho” o suficiente, principalmente na cama. Muitos homens, desesperados, partem para agressões físicas ou entram em depressão.
Contudo, ser trocado por outro não significa que se é inferior. Em muitos casos, a troca ocorre porque a pessoa objeto da nova paixão possui algum aspecto que satisfaz inconscientemente uma exigência momentânea do outro, sem haver uma vinculação necessária com o parceiro rejeitado.
Aqui a autora discorre com precisão sobre como nos sentimos vivendo esta situação nefasta. Mas discordo dela em dois pontos:
O motivo do sofrimento
Primeiramente, ela afirma que “somos ensinados” a acreditar que apenas certa pessoa pode nos “completar”. Ora, ela fala como se qualquer outra pessoa pudesse nos satisfazer completamente: não deu com esse(a), vai com aquele(a); como se fosse fácil ir ali na esquina e encontrar outra pessoa semelhante àquela que foi embora; como se não ficássemos cada vez mais exigentes com o passar do tempo; e como se até os defeitos do ser amado que partiu não nos fossem motivo de prazer e até diversão. Acho que Martha Medeiros entende melhor dessas coisas.
As pessoas são únicas. Pessoas especiais são mais raras ainda, e perdê-las é realmente uma tragédia.
Por isso histórias de amor, que são basicamente histórias sobre o encontro, a conquista e a perda daquela pessoa única, nunca saem de moda.
Essa visão de que as pessoas são padronizadas, consumíveis, descartáveis e facilmente substituíveis é completamente insensível, equivocada e não funciona. Ou até tem seu fundo de realidade, pois é o que uma maioria vive, mas assim vivem sem conhecerem mais do que um décimo do que um sentimento intenso de amor e realização é capaz de nos proporcionar – quem sabe seja melhor não conhecê-lo, mesmo.
A mensagem que a vida costuma nos passar é clara: Se você teve a graça de ser escolhido(a) e se manter como o preferido(a) de alguém que você considera muito especial, faça de tudo ao seu alcance para manter acesa essa chama.
Não espere perder, para valorizar seu tesouro.
Veja também: Textos sobre boa vontade nos relacionamentos.
A reação à perda
Segundo: Regina Navarro afirma que ser trocado não significa inferioridade. Este dizer nada mais é que um consolo para os rejeitados. Aqui ela faz seu papel de terapeuta e diz o que os egos feridos precisam (ou querem) ouvir. Ora, pode não significar inferioridade, mas significa certamente insuficiência ou inadequação para a expectativa de quem partiu. Se estivesse bom, a pessoa que partiu ficava. Se ela se agradou ao passar por outras paragens, é porque encontrou algo mais, quem sabe, muito provavelmente, melhor.
É a realidade. A vida é uma competição e estamos bastante sujeitos a perdermos, pelo mesmo motivo que atletas perdem: por insuficiência de talento ou de esforço e ainda, por descuido.
Talvez a única ponderação válida que amenize o aspecto da inferioridade, recaia no fato de talvez a pessoa que partiu, tenha até então PARECIDO alguém de valor, mas tenha só parecido mesmo, porque era um caco que não valia nada. Nesse caso errou a pessoa rejeitada que criou expectativas demais sobre quem não fazia jus a elas. Neste caso, quem partiu nunca foi, o que aquele que ficou pensava.
Isso não significa evidentemente que devemos nos anular caso tenhamos a desgraça de viver uma situação dessas, embora desanimar da vida seja a primeira reação .
Se não for como eu quero, então não brinco mais. (Seu ego de criança)
A reação está na força para enfrentar os próprios dramas, e aceitá-los como o ponto até onde pudemos ir. Eram sonhos únicos que só seriam vividos naquele tempo, naquele lugar, com aquela pessoa (que talvez existisse mais em nossa imaginação do que na realidade), mas nunca passariam de sonhos.
Sonhos estes que NUNCA vão se realizar. Ponto final.
Só lamento.
Tocar a vida em frente não significa fingir que não se sonhou, ou desqualificar os sonhos, como alude a autora aqui citada. Significa aceitar que não vão se realizar, e admitir uma vida incompleta daqui pra frente, aceitando que não somos mesmo aquilo tudo. Que talvez não mereçamos o melhor, porque ainda não estamos preparados para ele.
É dolorido admitir-se menos do que se imaginava, mas é o primeiro passo para o crescimento. Ficar se enganando é que não vai ajudar em nada.
As perdas, sempre impiedosas, nos mostram nosso verdadeiro tamanho, e nos colocam em nosso devido lugar.
Zas
07 de janeiro de 2015 as 21:59
Eu não discordo tanto assim da autora. Somos ensinados pelo modelo de amor que é vendido desde que nascemos, que é o amor romântico dos cinemas,e dos romances, é o amor onde um PERTENCE ao outro. Um amor onde o outro é responsável pela minha felicidade e não eu. Onde as pessoas criam expectativas que normalmente são frustradas, daí vem a angústia, os medos e todas estas questões expostas.
O amor verdadeiro é o imperfeito, aquele que não está disponível nas prateleiras das locadoras de filmes, nem na disney, nem nos escritos dos romances. O amor verdadeiro é aquele que aceita as imperfeições, sem querer moldar a outra pessoa as suas convivências. E se não for com uma, pode ser com qualquer outra pessoa.
Ronaud Pereira
08 de janeiro de 2015 as 8:49
Olá 🙂
Sim, todo o seu comentário repete o discurso que ela vem fazendo rs Até parece a própria Regina Navarro falando rs
O que questiono é: Somos ensinados ou trazemos esse impulso dentro de nós?
Acredito mais nesta segunda hipótese. Desde criança sentimos ciúme dos amiguinhos especiais e competimos pela preferência de quem estimamos. E depois, por que nos sentimos tão sozinhos? Somos seres incompletos, que sofrem muito com suas carências não só afetivas como práticas. Nos sentimos felizes e consideravelmente satisfeitos dentro de um relacionamento com alguém que ajude a completar nossas carências, quando conseguimos ajudar a completar as carências do outro. Por isso esse tipo de perda nos destrói.
Por que só o amor dito romântico é falado desde sempre na literatura se haveria um outro amor, mais “verdadeiro”? Regina Navarro diz que esse amor surgiu no século XII, ela só não fala de Helena de Tróia, ou de Perséfone, que foram simplesmente raptadas rs Com tantas mulheres, tinha que ser elas… rs e que são lendas milenares.
Sei lá, viu… também já acreditei que o amor era mais descartável, que poderia ser com qualquer pessoa; meus textos antigos falam disso. Mas hoje, a vida me mostrou que não é bem assim!
Obrigado por seu comentário!
Um abraço!!!
Ronaud Pereira
08 de janeiro de 2015 as 13:14
Esse assunto realmente me chama a atenção e acho que vale a pena fazer um outro comentário: Precisamos admitir que há dois tipos de pessoas: As práticas (grupo dentro do qual vc e a Regina estão) e as idealistas (grupo dentro do qual eu me incluo).
Os práticos são… práticos!!! rs Não esperam demais da vida e qualquer coisa (ou pessoa) minimamente decente está bom. Os idealistas não aceitam nada mais que o melhor. E depois que conhecem “o melhor” nunca mais aceitam qualquer coisa (é um jeito de se valorizar) e são capazes de morrer em nome da birra por seu grande amor não ter dado certo.
É coisa pra se pensar…
Um abraço
😉