Evolução presume inteligência.

Ninguém é evoluído e burro crédulo ao mesmo tempo. Um ser evoluído é um ser inteligente, não só no sentido de ter um bom conhecimento a respeito da vida e dos assuntos em geral, mas também de saber pensar pautando suas reflexões sobre os pilares da razão e do bom senso, o que também chamamos de sabedoria.

Se você quer evoluir, ou acredita que sua trajetória nesta vida mira a evolução espiritual, então vai ter que desenvolver sua inteligência. Não precisa se tornar um super intelectual, mas precisa convir que ninguém fica muito inteligente acreditando em besteiras. E aqui eu direciono a mensagem para o campo da espiritualidade.

Eu acredito que o universo e a existência humana são misteriosas demais para alguém afirmar categoricamente que certas possibilidades espirituais ou extra-terrenas não existem. É óbvio que existe algo mais.

Mas também entendo que temos pouquíssimas informações empíricas para afirmarmos categoricamente que certas possibilidades são absolutamente reais, tais como planeta Nibiru, inversão dos pólos, seres intra-terrenos, terapias quânticas, segredos nunca antes revelados, fins do mundo, etc.

Acredito que fenômenos espirituais, especialmente os mediúnicos, são incríveis e são uma ótima fonte de informação sobre essas dimensões que nos são inalcançáveis. Mas também é verdade que muitos médiuns canalizam seres inferiores ou comuns que pouco tem a dizer de relevante, ou que repetem o que já foi dito, ou que falam coisa com coisa sem o menor nexo.

Se um fenômeno espiritual incompreensível acontece, de fato ele é real, mas continua sendo incompreensível. Falar em línguas dentro de uma igreja, por exemplo, é interessante, mas não ajuda a esclarecer nada aos fiéis. As pessoas já não escutam direito o bom português, o que se dirá da língua dos anjos

Allan Kardec e sua inestimável prudência nos deixou claro que espíritos são seres humanos desencarnados ou em vias de reencarnar, e que portanto, um ser humano idiota depois que morre continua sendo um espírito idiota; ouvi-lo através de um médium continua sendo perda de tempo, porque ninguém se torna santo – ou evoluído – automaticamente, depois que desencarna. Conseguir canalizar um espírito desses, de forma mediúnica é de fato um fenômeno incrível, mas se excluirmos o deslumbramento com o fenômeno, pouco resta de relevante.

Qualquer mensagem que venha dessas dimensões inexcrutáveis da realidade, deve ser filtrada com a peneira da inteligência, e portanto, da razão e do pragmatismo. Quando você estiver diante de qualquer fato, fenômeno ou informação de origem espiritual, pergunte-se: Esta é uma manifestação inteligente? É razoável? O que esta informação me ajuda (ou aos outros) a esclarecer os aspectos nebulosos da (minha) vida? Ajuda a melhorar minimamente a minha vida?

Se ela mais confundir do que esclarecer, acredite, a fonte não é boa.

Por fim, finalizo minha reflexão com estas palavras de Alê Straub.

Se você começar a meditar, parabéns, vai te fazer bem, mas você não vai virar um ser humano desperto mais iluminado que os outros seres humanos por causa disso.

Nem se você mudar seu nome para Srila PrabhuBaby KrishnaGil.

Ah, também não adianta passar uma semana na Índia. Aliás, nem dois anos.

[…]

Falar de forma lenta e pausada, acentuando algumas sílabas, não faz qualquer besteira virar verdade e nem de você um filósofo. Nem se você for careca ou barbudo.

Alê Straub

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Ceticismo e sucesso pessoal

Você pode até dizer que não, mas no final das contas todos buscam reduzir o desconforto decorrente da existência. Estar vivo é desconfortável. Cá estamos nós, corpos vivos e delicados imersos em uma natureza bastante inóspita; precisamos comer, nos proteger do calor, do frio e da chuva.

Dá um trabalhão desgraçado se manter vivo num padrão mínimo de conforto.

Para fugir deste trabalho, uns optam por uma vida frugal, isto é, por necessitar o mínimo possível, para não ter de trabalhar para produzir, ou adquirir por meio da troca comercial, todas as tranqueiras que “precisam” para se manter confortáveis.

É o caso dos que seguem algum tipo de vida monástica.

Outros, a ampla maioria das pessoas, optam pela obtenção de algum tipo de poder pessoal. Poder material, poder sexual, prestígio, reconhecimento, influência, poderes estes que sempre são obtidos através daquele dinheirinho maneiro na conta bancária; o qual às vezes até quem curte uma pretensa vida monástica, não dispensa. Sabe como é né, não dá pra pagar as contas com meditações…

Quando o assunto é dinheiro, todos professam a mesma espiritualidade. E no final das contas, o que todo mundo quer, é dinheiro.

A maioria das pessoas busca esse dinheiro através de atividades práticas, produzindo itens, vendendo esses itens, ou resolvendo problemas. Outros, no entanto, buscam alcançar esta prosperidade através de… poderes ocultos cuja obtenção exige a adesão a certas crenças malucas.

Em algum ponto de suas vidas, passaram a acreditar que somente depois de obtiverem determinado conhecimento, passarem por determinadas iniciações, e alcançarem determinados status pessoais e espirituais, obterão por consequência a prosperidade que lhes resolverá a vida e lhes livrará dos problemas.

O que, lamento dizer, não vai acontecer.

Aceite. E perceba: As pessoas mais bem sucedidas, materialmente, costumam ser as mais céticas, pragmáticas e objetivas.

A busca por um poder oculto

Boa parte dos conhecimentos desse suposto ocultismo contemporâneo, conhecimentos já nem tão ocultos assim, visam atribuir ao estudioso determinados poderes de natureza mágica. Veja os atuais títulos de auto-ajuda: O poder do subconsciente, O poder do agora, O poder da paciência, O poder do hábito, O poder dos quietos, O poder da cabala, O Poder da Palavra, O poder de um sussurro (não estou brincando), etc. Não duvido da existência desses poderes, mas percebo que poucos conseguem manifestá-los de fato; porque percebo que poucos tem as verdadeiras habilidades para manifestá-los.

E como a maioria de seus estudiosos não conseguem manifestá-los, continuam estudando, porque acreditam que não conseguem manifestar esses poderes porque não estudaram o suficiente. Bem semelhante ao crente que acredita que não alcança o almejado milagre porque não tem fé o suficiente. E assim seguem nessa espiral sem fim de uma busca por um suposto poder que ninguém alcança, cada vez mais assíduos, na igreja e nas ofertas.

Os líderes que alardam que determinados conhecimentos, e determinadas buscas lhes garantirá determinados poderes, são justamente os que não têm poder algum e buscam esse poder lhes vendendo livros, cursos e terapias.

É como diz aquele cínico ditado: Quem sabe faz, quem não sabe, ensina.

O poder do Ceticismo

Também vivi uma busca particular nos anos de minha vida até hoje. Uma busca mais intelectual, voltada a questões sobre otimismo, pensamentos positivos, lei da atração, etc no sentido de que esta força pudesse contornar minhas limitações pessoais.

Mas hoje, estou desistindo. Estou entendendo que esperar que determinadas forças atuem para resolver nossos problemas é uma das fugas mais frustrantes que existem. A verdade é que a ampla maioria das vertentes religiosas e espirituais estimulam seus seguidores a esperar que as coisas aconteçam. Surge uma perigosa passividade no ato de confiar demais na fé. Parece óbvio, mas nem todos se dão conta que fé é para desejos impossíveis. Para desejos possíveis, é melhor ir lá e fazer.

Estou na verdade cada vez mais convencido (não é de hoje: 1 – 23456) que é o ceticismo e o pragmatismo que nos leva pra frente. Ceticismo não no sentido de descrença intransigente, e sim no sentido de uma crença minimamente prática, isto é, você acreditar naquilo que funciona. É você com você acreditando na sua força interna. É você mesmo enfrentando o que pode enfrentar, construindo o que pode construir, e aceitando os limites de sua existência.

Gasparetto fala isso da seguinte maneira e com certo humor:

Tradicionalmente, no espiritualismo, as pessoas costumam pôr Deus fora de si. Enquanto que, você vai conversar com um materialista, ele fala que é dentro dele, tudo é ele (soando muitas vezes convencido e egocêntrico). “É uma coisa em mim”, dizem. Enquanto o espiritualista tá dizendo que tá lá fora, o materialista tá dizendo que tá dentro: “É uma coisa em mim que me leva. É eu, tudo é eu.” Ele se soma (se identifica) com essa força.

A ideia deles (dos materialistas) é muito mais funcional, porque dá mais resultado. Enquanto que as escolas espiritualistas dizem que Deus está fora, que não tá com a pessoa. Até mesmo nas igrejas protestantes, eles colocam a cura no “Cristo Interior”. Jesus isso, Jesus aquilo, é até enfadonho, mas eles fazem esse trabalho de despertar essa consciência crística dentro da gente. Eles dão o nome de Cristo, Jesus, mas não interessa. Quando o indivíduo desperta para esta consciência, há uma transformação na vida dele. E é o que acontece nas igrejas.

[…]

Então essa coisa de decidir que Deus mora em mim, que essa coisa mora em mim. Ela é fundamental pro relacionamento que você tem com essas forças e com a movimentação dessas forças na sua vida.

Eu sempre fui além das religiões. Eu sempre quis entender o mecanismo da fé. Porque às vezes ela não funciona com espiritualistas, mas funciona com aquele materialista ou naquela igreja. O que acontece é que a gente se perde na forma, e cada religião tem a sua forma, mas a forma diz muito pouco o que é a essência.

É algo no indivíduo, que ao se posicionar de uma certa maneira, existe, mas ao se posicionar de outra maneira, não existe. VOCÊ, pára e analisa. Você tem formas de ser e de pensar sobre o assunto que te separam dessa força.

Então tem gente aí que não faz metade do que você faz em termos de exercícios espirituais, rezas e tá com a vida maravilhosa. Você acha que é o máximo com esse seu espiritualismo, mas e daí? Como tá o resultado disso no seu dia a dia?

Consegue menos, tá na luta com o dinheiro, com problemas familiares e amorosos, então que que tá faltando?

“Ah mas eu tenho muita fé!” Sim mas essa fé resolveu o que? Você tá aí mais ou menos e os outros tão lá (muito melhor)! Você devia ficar revoltada. Eu quero você inquieta. Quero você dando porrada na parede. Eu quero você ruim! Porque você está conformada.

Se você não descobrir esse mecanismo, (sua vida) não vai engrenar. Então pára de brigar com a vida, de brigar com a tua forma. […] Pára de rezar! Pára, não fica acendendo incenso! Pára de fazer meditação, para de fazer essas coisas todas que você faz, menina!

Pára!

Se lá dentro você não tem essa ligação, essa coesão com a coisa (Deus) em si, então não tem nada! Pára de acender vela pra santo (porque não resolve), esquece cartomante, numerologia.

Eu quero saber se tem essa coesão dentro de você (entre você e seu Deus interior). Isso funciona em qualquer um. Abra os olhos.

Não esqueça a forma (com a qual você trabalha sua fé), mas não esqueça também a essência, o sentimento de coesão e identificação entre você e Deus.

Transcrito (e resumido por mim) deste link (os parênteses são meus).

Não precisa dizer mais nada, não é?

😉

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O insustentável peso da existência