Como quase todo mundo, me criei assistindo à Globo. Aos poucos, nos últimos anos, também como muitos, vim assistindo cada vez menos. Hoje passo semanas sem ter contato com o canal.
Mas eventualmente, seja numa sala de espera, seja uma sintonização bastante esporádica aqui em casa, eu me dou conta que a Globo sempre vendeu um Brasil imaginário, usualmente ambientado na Zona Sul Carioca, com personagens sempre iguais.
Personagens que não vejo por meses nas redes sociais, porque não os sigo, pois encontro assuntos mais interessantes para acompanhar, de repente, você sintoniza o canal, e lá estão eles: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zeca Pagodinho, Lázaro Ramos, Emicida, Sonia Bridge e algum atores globais que povoam as novelas e povoaram o imaginário do brasileiro por décadas.
Povoaram, porque até alguns anos atrás, a Globo era nossa janela para o mundo; era o monopólio da instrução de todo um povo. As redes sociais quebraram essa corrente, e nos mostram um mundo ainda mais diverso, repleto de muitos outros personagens, quase sempre muito mais interessantes e afinizados com nossos gostos.
Podem se passar dez anos sem assistir à Globo, mas basta uma passada de olhos e lá estará este Brasil irreal, fantasioso ~ que tem sim mazelas ~ mas que é muito feliz. Irremediavelmente feliz. Como aguentamos tanto?
Dias atrás, não sei por qual motivo, sintonizei na Globo, e passava um desses programas de amenidades, onde alguém estava assando um churrasco, numa churrasqueira enorme, cheio de jeitos e dicas gourmet, e duas ou três apresentadoras preenchiam o espaço falando trivialidades. A carne ficou pronta (deu vontade, confesso) e havia uma banda que começou a tocar uma dessas músicas antigas cariocas que só ouvimos na Globo, e todos começaram a dançar, encenando a mesma alegria teatral de sempre.
Ontem, a esposa sintonizou a Globo para assistir à abertura da Copa. Lá estava o apresentador Luís Roberto narrando o evento, falando sem parar, preenchendo os espaços de silêncio explicando coisas óbvias, quase como um professor primário, como se nós fôssemos incapazes de entender o que está acontecendo.
No twitter, por acaso, me apareceu este tweet do Galvão Bueno. Veja: 30 anos se passaram desde que me dou por gente e acompanho minimamente o futebol brasileiro, e cá está este senhor AINDA estimulando a xenofobia, uma rivalidade imbecil contra os argentinos, um povo culto e educado, nossos irmãos latino-americanos.
Logo eles que pregam o amor, a empatia, a diversidade.
Quem é que aguenta?
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