Uma reportagem n’O Globo trazia uma pesquisa mostrando o exato aspecto da vida moderna com o qual mais tenho bronca atualmente. É sobre “essa coisa” de assumirmos como verdade e real aquilo que vemos na televisão ou cinema, deixando que um ideal artístico quase sempre irreal preencha as lacunas da experiência que não adquirimos por não termos vivido o suficiente para aprendermos como são as coisas, em especial no caso dos jovens e adolescentes.
A pesquisa mostra o quanto os filmes impõe às pessoas um estereótipo do que deveria ser um relacionamento normal. Faz as pessoas esperarem por um tipo de relacionamento que não existe. E as leva a pôr demasiada expectativa no seu parceiro, enquanto este não passa de outro ser humano, tão incompleto e necessitado de melhoras interiores quanto qualquer outro.
É assim, todos nós temos ou podemos ter uma fonte de inspiração que vem do alto. Não no sentido divino, mas no sentido nobre. Não há nada de mal nos inspirarmos num ideal ou mito, contanto que jamais percamos de vista que um ideal é apenas uma idéia elevada e que todo ideal tem um quê de inalcançável. Não há nada de mais pensar como Louisa May Alcott:
Procuro mirar a Lua, se errar, posso acertar as estrelas.
Eu diria que um modo de vida assim não só é salutar como necessário.
No entanto nem sempre agimos assim em nossos relacionamentos. Esperamos pela alma gêmea que vai adivinhar nossos anseios e satisfazer nossas necessidades, nos completando em todos os aspectos. Mas este conceito de alma gêmea está mais para um serviçal do que um ser ideal para nós. Nos falta um senso de realidade que deixamos que a mídia nos tire através das doses cavalares da fantasia que nos expõe dia após dia. O ser humano já nasce completamente desprovido de noção alguma sobre as coisas da vida, e a mídia ao invés de colaborar para o progresso do bom senso, só faz piorá-lo.
Esqueça almas gêmeas, esqueça o amor romântico. Esqueça o encantamento eterno. Viva sua paixão com toda a intensidade possível, mas consciente de que se a chama não se apagar, vai enfraquecer. Porque isso é simplesmente normal, é da vida que seja assim. E se conseguirmos levar nosso relacionamento alimentando o carinho, a consideração, fundamentados numa forte amizade e cumplicidade, tenha certeza, terá conseguido um grande feito. Basta olhar para o lado e ver como são turbulentos os amores alheios.
Cito aqui Nelson Rodrigues, a quem até hoje não sabem se foi um gênio ou um tarado. Dado o realismo às vezes chocante e contundente de seu ponto de vista, fico com a primeira opção. Certa vez ele concluiu:
Como são ridículos os casais apaixonados.
O que você acha?
Pois é, mas a paixão é algo tão efêmero e tão intenso, que fica fácil entendê-la como um artifício da natureza para estimular a procriação humana. A vida vai muito além dos mimos entre os apaixonados. Alguns autores até tem a paixão como doença. Não há intensa paixão que sobreviva ao cotidiano de uma relação. Quando apaixonados, tendemos a colocar o ser amado num pedestal e querê-lo só para nós. Vemos somente o lado bom da pessoa, e acreditamos sabe-se lá por quê, que o indivíduo nos completará até a alma. Doce ilusão. Doce mesmo porque é a ilusão que todos querem viver, ou quase todos…
Futuramente em nossa vida, a experiência e o senso prático (se adquirirmos algum) nos mostrarão que o melhor caminho é tirarmos as expectativas do outro. E mais: nos mostrarão que a verdadeira felicidade só se alcança com o sentimento de completude que se consegue quando desenvolvemos a nós mesmos, trabalhando, estudando, aprendendo e crescendo, não só profissionalmente, mas pessoalmente, criando verdadeiros laços de amor e amizade. E não somente com uma pessoa, e sim, fraternalmente, com todos.
E o outro?
Que bom será CASO ele(a) cresça e progrida junto a nós, e nos acompanhe nesta maravilhosa trajetória que podemos fazer da vida, lado a lado, com companheirismo, ternura e um verdadeiro amor. Caso contrário, ficará para trás, e se formos bem resolvidos, não ficaremos esperando por quem ficou de não vir.
É a “vida como ela é”.
Eduardo
10 de janeiro de 2009 as 20:19
Eu gosto de comédias românticas.
Pronto, falei.
😛
Dimétrio
12 de janeiro de 2009 as 4:22
Como vai Ronaud, para mim o seu texto é muito realístico, ou seja, é mesmo uma dose de realidade.
De facto, a gente cria uma fantasia das pessoas, particularmente dos nossos parceiros.
Criiámos arquétipos de pessoas, imaginamos a pessoa que queremos e muitas vezes não conseguimos depreender que cada um é como é e até nós não somoa perfeitos. Na verdade, não sabemos o que queremos.
Muitas vezes, ao ,mínimo detalhe, ficamos decepcionados com a pessoa amada.
A felicidade deve e só pode ser alcançada se assumirmos que cada um tem susceptibilidade de errar.
A pessoa certa, das novelas e contos de fadas até pode existir, mas não é à primeira vista, esta pessoa surge da convivência, da troca de experiências e do conhecimento mútuo
“Errarre humanum est”!
ronaud
12 de janeiro de 2009 as 10:12
Eduardo
Eu também adoro tirar um tempinho e sonhar um pouco com as comédias. Mas só sonhar!
Dimétrio
De fato acredito que a pessoa certa é aquela que, através de suas diferenças, nos faz andar pra frente e crescermos como pessoa.
Georgina
10 de março de 2009 as 0:58
“Uma dose de realidade, por favor” Obrigada por oportunizar-me nesta leitura maravilhosa. No passado amei muito uma pessoa mas com tempo me apeguei a um ideal, a uma ilusão e não percebi e quando o sonho ac abou vivi uma grande frustração. Quero viver outro amor mas com uma boa dose de realidade.
Abraços Ronaud
Josy
27 de janeiro de 2010 as 15:26
As pessoas realmente esperam demais das outras, querem um relacionamento perfeito, um romance fantasia, daqueles que ouve -se música romantica como tema do casal, e depois deparando com a realidade “nua e crua” da vida a dois, da monotonia, do comodismo, o q leva a decepção e enfraquece o relacionamente de forma brutesca.
Agradeço por suas palavras, fique com Deus!!!
Fabiana
14 de maio de 2010 as 14:22
Interessantíssimo o seu texto!!!!!
Adorei!!
Virei por aqui mais vezes!rs
Até a próxima!!
thayna maia
30 de junho de 2010 as 19:19
nao emporta qem vc é so acredite nos seus sonhos!!
Rê
19 de julho de 2011 as 13:26
Mto bom esse texto. Tenho uma tendencia mto forte em criar expectativas, e querer que a outra pessoa seja do jeito que eu queria que fosse.
Por outro lado, quando penso que quem tem que ver por outro angulo sou eu, não posso com esse conceito usar essa frase sempre e apartir dela absolver todos os erros da pessoa que está comigo.
Certo?
Como saber se em determinada situação eu estou querendo impor um jeito meu de ver as coisas, ou estou com a razão e a pessoa deveria ser esforçar a mudar? Como saber ??
ronaud
20 de julho de 2011 as 0:32
Oi Rê, só agora vi esse seu terceiro comentário.
Entendi seu ponto de vista. Acho que o diálogo é o caminho. Devemos sempre estar dialogando com o outro. Tentando mostrar nossos pontos de vista e fazer o outro entendê-los. O outro por sua vez, sendo uma pessoa razoável, tenderá a expor seus próprios pontos de vista, e devemos ouví-los com abertura, até os dois chegarem a um acordo. Porém repetidos esses diálogos e vendo que a situação não muda, entendo que o afastamento pode ser a melhor decisão.
A questão é sempre o preço que estamos dispostos a pagar por companhia. Talvez o preço seja essa constante absolvição dos erros alheios. Companhia tem seus prós e contras e a solidão também tem seus prós e contras. E assim seguimos, ora do lado de cá, ora do lado de lá da balança 🙂
Particularmente, tenho pouca fé na capacidade de evolução e progresso íntimo do ser humano. Evolução, progresso e mudanças acontecem, porém quase sempre na base do choque e do trauma, ou seja, só crescemos com as grandes perdas da vida, do contrário, nos acomodamos. Então prefiro não esperar por essa boa vontade das pessoas. Acho que a pessoa sensata já vem de berço, ou é assim porque já passou por esses choques aos quais me refiro. Não costumo esperar que as pessoas mudem. Não tenho essa esperança. Ou aceito a pessoa com seus defeitos, porque eu também tenho meus infinitos defeitos, ou prefiro a distância. Na melhor das hipóteses, apenas brigo para que as coisas não passem do limite do suportável.