Muito se tem falado em física quântica nos últimos anos. E muito se fala em física quântica como base para conceitos místicos e esotéricos. Já vi gente dizendo que “acredita em física quântica”, o que deixa qualquer cientista horrorizado.

A colunista do Terra Esotérico chegou a escrever essa pérola: “Hoje a física quântica comprova a existência de Deus, da reencarnação e dos muitos estados de alteração de consciência que entramos nos momentos que praticamos a meditação.”

NÃÃÃÃÃÃÃOOOOO! Onde é que ela viu essas “comprovações” todas?

Física quântica não é religião, nem crença, é CIÊNCIA. E portanto, não se acredita, se constata.

Como já falado aqui, em outros textos, eu também creio na possibilidade de alguns conceitos místicos, como por exemplo, a lei da atração. Porém tenho plena consciência que essa “lei” é um conceito espiritual, e por mais que constatemos seus efeitos em nossa vida, a lei da atração não foi provada cientificamente. E sei também que a física quântica não tem absolutamente nada a ver, AINDA, com a lei da atração nem provê qualquer base para a mesma.

O que acontece é que certos comportamentos observados em algumas partículas a nível sub-atômico são de fato inusitados e fogem completamente da lógica a qual estamos habituados no dia a dia. E esses comportamentos bizarros e inusitados abriram MUITOS precedentes para muitas e muitas especulações quanto às possibilidades e implicações desses comportamentos microscópicos, quando cogitados seus possíveis efeitos, no nível macroscópico. Foi desses precedentes que muitos líderes místicos se valeram para aludir que temas como a lei da atração “tem base científica”. Talvez por entusiasmo, talvez por falta de paciência (afinal a ciência caminha a passos lentos), talvez por oportunismo, o fato é que alardam a lei da atração como uma lei natural e comprovada cientificamente. Infelizmente, isso ainda não é realidade, muito embora os precedentes estejam aí e continuem sendo estudados por cientistas como Amit Goswami, de cujo livro A física da alma, estou lendo.

No início deste livro, o autor traça um panorama breve dos principais conceitos quânticos, cuja natureza, você verá abaixo, é mesmo bizarra, ilógica – ou é uma lógica mais complexa do que nossa lógica cotidiana – e nos mostra que ninguém precisa de ficção científica (estou brincando), a natureza já é, por excelência, extremamente ousada nesse quesito 😉 Preste especial atenção aos termos em negrito:

Incerteza

• A mecânica quântica é um cálculo de probabilidades que nos permite analisar a probabilidade de cada possibilidade em dada situação dinâmica. A probabilidade gera a incerteza. Não podemos mais conhecer o paradeiro de um objeto com certeza. O movimento de objetos quânticos está sempre envolvido pela incerteza.

Superposição

• O que significa dizer que a matéria tem natureza de onda e, por isso, pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo? Se isso parece paradoxal, o paradoxo se resolve quando se percebe que as ondas da matéria são ondas de possibilidades (tecnicamente representadas por funções matemáticas chamadas “funções de onda“); elas estão em dois lugares (ou mais) ao mesmo tempo apenas em possibilidade, apenas como a superposição das duas (ou mais) possibilidades.

• Objetos quânticos existem como superposição de possibilidades até que nossa observação cause a realidade da potencialidade, gerando um evento real e localizado dentre os diversos eventos possíveis. Se uma possibilidade em particular tem uma grande chance de se tornar real, graças à observação, então a onda de possibilidade também é forte; quando a onda é fraca, é pequena a probabilidade de que sua possibilidade correspondente se torne real. Um exemplo ajuda a esclarecer a questão. Suponha que liberamos um elétron dentro de um recinto. Em instantes, a onda do elétron se espalha pelo lugar. Agora, suponha que montamos uma rede de detectores de elétrons, chamados contadores Geiger, nesse recinto. Será que todos os contadores acusam alguma coisa? Não. Só um dos contadores detecta o evento. Conclusão? Antes da observação, o elétron efetivamente se espalhou pelo cômodo, mas apenas como uma onda de possibilidade. E a observação fez com que a onda de possibilidade se tornasse um evento real.

Salto quântico

• Objetos quânticos podem dar um salto descontínuo — agora ele está aqui, depois ali; esse salto é chamado de salto quântico. Um átomo emite luz quando um elétron dá esse salto quântico de um estado energético atómico superior para um inferior. É possível observar a natureza radical desse salto quântico se o visualizarmos como o elétron que pula de uma órbita superior, em torno do núcleo atómico, para outra inferior, sem viajar pelo espaço entre as órbitas. De modo análogo, a causação descendente é descontínua sob todos os aspectos possíveis: causalmente (não podemos atribuir a ela uma causa precisa), mecanicamente (não podemos criar um modelo matemático para ela), algoritmicamente (a matemática não se aplica a ela) e logicamente (sua lógica é circular: o observador é essencial para que ocorra o colapso, mas tal observador é apenas possibilidade antes da ocorrência do colapso)

Não-localidade

• Sabe-se, experimentalmente, que objetos quânticos, quando correlacionados de modo adequado, influenciam-se mutuamente de forma não local, ou seja, sem sinais pelo espaço e sem que decorra um tempo finito. Portanto, objetos quânticos correlacionados devem estar interligados em um domínio que transcende o tempo e o espaço. Não-localidade implica transcendência. Decorre disso que todas as ondas quânticas de possibilidade situem-se em um domínio que transcende tempo e espaço, ao qual vamos chamar de domínio da potencialidade transcendente, usando uma expressão de Aristóteles, adaptada por Werner Heisenberg.

Causação ascendente e Descendente

• Antes de a física quântica ser compreendida adequadamente, uma metafísica materialista dominava a ciência — particulas elementares formam átomos, átomos formam moléculas, moléculas formam células, inclusive os neurônios, neurônios formam o cérebro e o cérebro forma a consciência.Essa teoria da causação é chamada de teoria da causação ascendente: a causa vai das partículas elementares, ou micro, até a consciência e o cérebro, macro. Não existe poder causal em qualquer entidade do mundo, exceto nas interações entrepartículas elementares. Mas, se nós mesmos nada somos senão possibilidades materiais, como nossa observação pode reduzir ondas de possibilidade? A interação de possibilidade com possibilidade só gera possibilidades mais complexas, nunca uma realidade. Assim, se só existisse a causação ascendente no mundo, o colapso quântico seria um paradoxo. Na interpretação correta e livre de paradoxos da física quântica, a causação ascendente só é capaz de produzir ondas materiais de possibilidade para a escolha da consciência (não material), e a consciência tem o poder supremo, chamado de causação descendente, de criar a realidade manifestada por meio da livre escolha dentre as possibilidades oferecidas. A consciência não é mais vista como um epifenômeno do cérebro, mas como a base da existência, na qual todas as possibilidades materiais, inclusive o cérebro, estão incrustadas.

(Não entendeu direito? Não mandei faltar aquelas aulas “chatas” de química e física pra ficar de algazarra no pátio do colégio 😉 )

A magia quântica

Conceitos como superposição de múltiplas possibilidades colapsadas por um observador consciente, saltos de um lugar a outro sem viajar pelo espaço entre os pontos, influência a distância sem sinais que viajem carregando informações, enfim convenhamos, são conceitos tentadores quanto à associação entre essas características sub-atômicas – porém reais – e esses mesmos efeitos constatados no nivel macroscópico, como livre-arbítrio ou lei da atração (superposição de possibilidades), criatividade súbita (salto quântico), telepatia (influência à distância sem sinais – não localidade).

Existe uma probabilidade que tais conceitos se relacionem? Sim, existe. Já estão relacionados? Não, ainda não.

Muito embora a ciência “empaque” quando confronta o mundo subjetivo e pessoal, dada a impossibilidade de medições no reino da consciência, o futuro, tenho uma certeza particular, ainda nos trará boas surpresas. Contudo, é bom sempre estarmos a par do que realmente acontece e do que ainda não aconteceu, para não falarmos bobagens como dizer que “acreditamos em física quântica” 😉