Uma experiência pessoal sobre a diferença entre Patrimônio e Renda
Dias atrás escrevi sobre o auge financeiro que eventualmente chega a quem empreende.
Hoje venho escrever sobre a diferença entre ter um grande patrimônio, e ter uma grande renda, e porque ter uma grande renda a princípio parece melhor do que ter um grande patrimônio.
Já escrevi sob este prisma tempos atrás, mas aqui relato a experiência prática do porquê eu estava certo.
A partir de 2010 até 2012, eu alcancei uma BOA renda advinda do Google Adsense, consequência de um misto de mérito e sorte.
A partir de 2013, esta renda foi decaindo gradativamente, permanecendo razoável até 2017, descendo a um nível irrisório atualmente.
Por outro lado, agora recentemente, em 2021 recebi uma herança considerável. Um apartamento resultado de uma permuta que meu pai fez em dois terrenos na badalada Praia Brava de Itajaí.
E aqui começam N ponderações sobre o investimento em imóveis.
Já começa que precisei vender o apartamento num valor correspondente a menos de 70% do valor de tabela, me restando após corretagem, condomínios atrasados e outras despesas menores, 60% do valor.
Precisei? Sim, precisei, porque o tempo estava passando, os condomínios e IPTUs correndo juros, e como não sou nenhum banco pra financiar o apartamento para o comprador, precisei vender à vista, com este fabuloso desconto (para o comprador).
Na hora da transação efetiva de um imóvel, todos são bem menos “ricos” do que pensavam.
Mesmo assim, fiz bons negócios. Comprei um imóvel na praia de Perequê em Porto Belo e um terreno em Itapema.
3 anos depois, os valores desses imóveis dobraram.
E mesmo assim, até ano passado, com aluguéis que eu já tinha de um imóvel de Itajaí, da casinha geminada onde eu morava e mais 3 pequenos apartamentosno térreo desde imóvel no Perequê, eu ainda não conseguia receber de remuneração por este patrimônio relativamente grande, em valores atualizados, UM QUARTO do que eu ganhava em 2012.
Difícil de acreditar, não?
E aqui chego onde queria.
Alguns parentes dizem que estou rico. E eu aqui contando dinheiro para minhas necessidades mensais, sem conseguir sequer fazer uma viagem, e toda vida preso em reformas, manutenções, e problemas com inquilinos.
Desde passei a lidar com aluguéis, nunca mais tive paz.
Cheguei aqui para dizer que ter um grande patrimônio nem sempre quer dizer uma grande renda.
E que remunerar BEM patrimônio alocado em imóveis não é tão simples quanto se diz.
Veja bem, eu recebi a herança, e com uma experiência prévia no mercado financeiro, evidentemente não fui louco de arriscar um centavo em bolsa de valores, nem em renda fixa com seus rendimentos mensais pífios que mal compensam a inflação.
E somando-se ao fato de vivemos no Brasil, um país em que até o passado é incerto, me vi obrigado a reinvestir o dinheiro da venda do apartamento em outros imóveis. E como hoje sei bem, remunerar imóveis não é tão simples quanto parece. O aluguel é um rendimento proporcionalmente baixo em relação à totalidade do patrimônio (que, como vimos anteriormente, também é uma ilusão, pois na hora da efetivação da transação, os valores são bem menores do que os desejados). E você está o tempo todo arriscando a se deparar com vacância, reformas, manutenções e inadimplência.
Aluguel é um pé-no-saco.
Pronto, era isso que eu queria dizer.
Tanto é que de um ano pra cá, os 3 apartamentinhos térreos deste prédio no Perequê (onde moro no 2° andar), foram adaptados para locação diária pelo AirBNB.
Dá um pouco mais de trabalho, porém 90% menos incomodação com inquilino, e um rendimento, no inverno, baixa temporada, de 30 a 50% maior do que era a soma do aluguel normal.
Ai que saudade
Hoje, e só hoje, eu posso dizer, que preferia ter continuado desde 2012 com aquela renda maravilhosa caindo mensalmente diretamente do Google na minha conta, do que hoje ter esse patrimônio imóvel enorme, com exigências constantes – e cansativas – de administração e manutenção, para uma remuneração pífia.
O terreno foi o que eu comprei com o que restou do dinheiro após a aquisição deste imóvel no Perequê. Desde então, é gasto anual com IPTU, com o senhor que roça o mato a cada 3 meses, em junho gastei 1700 reais pra refazer a cerca que caiu, a cada 2 meses sou obrigado a ir lá com DOIS sacos de lixo pra retirar o lixo que os andarilhos soltam por lá, afinal vivemos neste país de gente amaldiçoada que ajudar, não ajuda, mas sabe sujar bastante. Você não sabe a delícia que é percorrer o terreno com o saco na mão ajuntando lixo. Tá lá o terreno, é uma benção, vale muito, mas até aqui, só despesa e humilhação.
O prédio do Perequê, onde moro, é o que está dando mais certo, graças ao AirBNB. Isso tirando as dezenas de manutenções que precisei fazer nesses 3 anos, pois embora fosse uma boa opção de compra, o prédio estava inacabado, e foi construído com umas ideias de jerico, nada a ver, e com uma mão-de-obra bem ruim, que precisaram ser corrigidas, ou contornadas. Só Deus e a esposa são testemunhas das encrencas que tive que resolver.
O prédio de Itajaí tá lá, rendendo uns aluguelzinho pequeno desde 2016. Toda semana, todo mês, tem uma treta grande: se não é vazamento de água em alguma torneira ou vaso sanitário que triplica a conta de água, é infiltração de água de cano que racha sozinho dentro da parede, infiltração da chuva, esgoto entupido. Ou é vizinhança que atravessava a rua pra jogar o lixo na minha lixeira pequena, que tive que mudar de lugar. Ou é inquilino fazendo festa e incomodando os outros, ou inquilino com cachorro barulhento que incomoda os outros, ou internet que falha. Um caos, um desgosto, que só mantenho porque precisava. Mas botei o prédio a venda, pra investir em outros quartos no AirBNB aqui e tentar remunerar melhor esse… patrimônio.
Veja bem, a partir de 2011 minha renda do adsense começou a crescer, comecei a ter uma vida melhorzinha, em 2012 comprei carro zero, viajei pra Buenos Aires, pra Montevideo/Colônia/Punta em 2015, e vivia uma boa vida desde então. Se aquela renda maravilhosa tivesse continuado, hoje minha vida estaria muito melhor, muito mais interessante, teria feito muito mais coisas que eu queria, em vez de ficar há 8 anos fazendo coisas sem graça como acabei de relatar pra manter um patrimônio que, é sim uma bênção, mas não me deixa “rico” como muitos julgam.
“A coisa mais importante que o dinheiro te proporciona é o aumento da capacidade de dizer NÃO.” Luiz Barsi Filho
Se aquela renda alta tivesse continuado, certamente não teria esse patrimônio enorme que tenho hoje, graças a uma herança, mas estaria formando algum tipo de patrimônio, mais direcionado aos meus interesses. Talvez tivesse estudado mais e melhor investimentos financeiros, e hoje tivesse uma vida mais livre e menos enraizada num lugar – o Perequê – que na verdade é um lugar que eu nem gosto. Só comprei este imóvel aqui e o terreno em Itapema meramente por uma questão racional de investimento. Neste sentido foram grandes acertos para o futuro, não me arrependo, mas gostaria de estar morando mesmo em Itajaí, cidade em que me criei e onde me sinto realmente em casa.
Reclamando de barriga cheia, você pode estar pensando.
Sim, e não.
Racionalizando a situação, e compartilhando minhas impressões, para que você, leitor(a) entenda que ter uma renda alta lhe dá mais liberdade e autonomia do que um grande patrimônio, cuja remuneração não é tão simples quanto parece. Porque se está imobilizado em propriedades imóveis, têm uma remuneração proporcionalmente baixa (0,3%), dá um trabalho desgraçado, mas sobrevive às inseguranças jurídicas deste país selvagem e à inflação. Se o patrimônio está em contas bancárias, é corroído pela inflação que precisa ser compensada por investimentos de renda fixa de no máximo 1% e que, muito além disso, exigem conhecimento e experiência para serem administrados ante à instabilidade política e econômica deste circ… digo, país.
Existem muitas, muitas pessoas ganhando pouco e querendo aprender sobre investimentos para “ganhar mais”.
Esse é um erro de premissa que pode atrasar muito a vida dessas pessoas.
Investimentos financeiros servem para preservar um patrimônio já acumulado. Como se vê neste texto, fruto de experiência própria que se alinha com a experiência de quem sabe o que diz, não é nada simples remunerar grandes patrimônios. É consenso que 1% ao mês já é uma boa taxa, e que é muito pouco se você considerar que terá que reinvestir 0,5% de volta meramente para manter seu poder de compra.
Jovem, se você quer ganhar mais, se quer ficar rico, esqueça investimentos por hora. EMPREENDA! Crie produtos, crie serviços, crie um negócio e ofereça algo pra sociedade e seja remunerado por isso. Quando você enfim alcançar uma alta renda, e passar a acumular o excedente, formando seu patrimônio, então sim, passe a se preocupar com investimentos, porque aí sim, você vai precisar deles.
Veja também
Também já escrevi sobre este tema, de outra forma, aqui:
Dá pra ganhar dinheiro com investimentos?
Aqui também: Texto sobre investimentos
Investimentos financeiros e inflação
Photo by Anjo Clacino on Unsplash
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