A diferença fundamental entre Politeísmo e Monoteísmo
Todos sabem que, simplificadamente, a diferença entre monoteísmo e politeísmo se dá ao fato do politeísmo ser um sistema religioso que adota várias divindades, enquanto o monoteísmo se concentra em apenas uma única divindade criadora, onipotente e onisciente.
Mas há uma diferença mais fundamental entre esses dois sistemas religiosos.
O politeísmo funcionava com base na assimilação. O deus, uma entidade mítica e lendária, sempre específico para algum assunto, projetava o assunto visualmente, de forma simbólica. A pessoa olhava, adorava, venerava, amava aquela visão, e por afinidade de interesse, manifestava em si e em seu redor, pela lei da atração, as virtudes e realidade que cultuava no respectivo deus.
Semelhantes a eles (ídolos) sejam os que fazem, e todos os que neles confiam. Salmos 115
O monoteísmo funciona com base na concentração psíquica nesta potência mais profunda, imanente e transcendente, chamada Deus, sem forma, imaterial e invisível, mas de tal forma vital, que é criadora de todas as coisas. Em tese, quando alguém está em íntima comunhão com esta energia, sua vida se encaminha de forma melhor. (E não é só o Judaísmo que defende esta visão; a filosofia oriental Seicho-no-ie também defende algo muito parecido)
Não é difícil perceber que estes deuses antropomórficos míticos são lendas e, portanto, irreais, e que seu poder é simbólico e seu efeito, psíquico, de inspiração e espelhamento. Também não é difícil notar que a potência profunda entendida como um Deus único por algumas religiões, é uma realidade indiscutível, fonte criadora de tudo que há.
O erro das religiões monoteístas é não perceber que este deus profundo é complexamente grandioso para estar a serviço dos interesses de um povo tão primitivo, como era o povo hebreu a cerca de 2500 anos, e como ainda somos como humanidade.
O modo como os escribas antigos atribuíram as derrotas de Israel como um castigo divino pelo povo não seguir suas regras morais, evidencia para quem quiser ver que toda essa visão humana sobre este Deus era, e ainda é, absurdamente primitiva, quase comercial, um toma lá dá cá espiritual.
É óbvio que a força criadora do universo é uma força única, que a tudo permeia, e que transcende o mundo e as dimensões; é onipotente, porque é a origem de tudo, é onipresente porque está em tudo em que se auto-criou, e provavelmente onisciente, porque se nós, formiguinhas diante do universo, temos consciência, porque o todo de tudo não terá?
É inegável que este Deus único e onipotente existe, o que não é plausível é que ele seja tão acessível para satisfazer nossos pequenos desejos burgueses, mundanos e egoístas. Deus tem mais o que fazer.
É verdade que milagres acontecem. Mas eles acontecem mediante circunstâncias insondáveis de humildade e merecimento. Só Deus conhece o passado, o presente e o futuro, e só Ele pode ponderar o porquê de merecermos uma dádiva ou não.
Eis o porquê da “intercessão” católica. Por que os santos fazem milagres? Não são necessariamente os santos, nem necessariamente Deus sensibilizado pela intercessão burocrática de algum santo, e sim o próprio poder espiritual da pessoa – “A tua fé te salvou” – mais facilmente acessado através da figura humana, reconhecível e acessível, de um santo, muito mais do que a imaginação de um Deus invisível, sem forma, sem identidade, cujo próprio nome algumas religiões não permitem pronunciar.
A adoção de entidades e símbolos divinos mais reconhecíveis pode ser mais funcional para o manuseio do poder de realização pessoal que a bíblia chama de fé, e que os círculos esotéricos chamam de Lei da Atração.
E o Deus imanente único não ficará bravo conosco por isso. Porque também as entidades e símbolos divinos superiores vieram Dele.
Monoteísmo mesmo?
Mesmo as religiões ditas “monoteístas” admitem hordas de anjos e santos com poderes divinos.
Monoteísta, pero no mucho.
E ficam fazendo malabarismos para dizer que cultuar, adorar e venerar são coisas diferentes.
Monoteísmo condicional
A religião judaica é uma religião que define tantas regras, para tudo, que faz com que, de alguma forma, seus fiéis acabem incorrendo em algum “pecado”.
É como o Brasil, que cria tantas leis, que é difícil encontrar algum cidadão brasileiro que não esteja infringindo alguma lei.
O sentimento de culpa, no caso do judaísmo, é inevitável.
Há uma obstinação insana com infinitos detalhes irrelevantes.
Eu não consigo acreditar, por exemplo, que os judeus ainda não reconstruíram o terceiro Templo porque ele tem que ser erigido num único local, o Monte Moriá, porque foi ali, em tese, que certos fatos bíblicos importantes aconteceram.
Tantos lugares para construir o templo, mas não! tem que ser justamente naquele ponto, que por agora está sob domínio islâmico. Se for fácil, não tem graça.
A questão da adoração a um Deus invisível, oculto, sem forma, sem atributos, obriga a identificarem esse Deus de forma mental, o que inviabiliza a adoração ou comunhão, para uma maioria de pessoas cujo poder imaginativo é limitado.
A mente fica perdida, sem foco.
O judaísmo, na medida em que força o indivíduo a adorar um deus oculto, mais preocupado em manter o povo sob suas regras morais rígidas, fragiliza o poder espiritual individual, e de toda a comunidade.
Com tantas regras impossíveis de cumprir, a psique coletiva fica fragilizada, submersa numa culpa eterna, e começa a atrair “condenações”.
E acho que não tem povo que sofreu mais no mundo do que o hebreu/judeu.
Escravidão no Egito, cativeiro na Babilônia, Domínio e destruição por Roma, Diáspora, Perseguição, Holocausto… O fato é que a história do povo hebreu é a história do fracasso do monoteísmo puro como fonte de força espiritual.
Os hebreus históricos tiveram essa intuição de um Deus único, onipresente e onipotente, e acreditaram que se cultuassem somente este Deus, ele se importaria em servir aos interesses do povo hebreu. Não se importou, por diversas ocasiões. Mesmo que se alegue que o povo hebreu colapsou historicamente porque “desobedeceu” as leis morais de Yahoweh, isso só mostra que o monoteísmo é impraticável por seres de natureza corrupta como somos todos, em maior ou menor intensidade. Seriam os Judeus vítimas de seu próprio perfeccionismo moral inalcançável?
Hoje, para nós, é mais fácil compreendermos que tanto é verdade a existência de uma força profunda no universo, criadora e mantenedora de tudo que há, quanto o fato de que essa força é grandiosa demais para se ater á satisfação dos nossos desejos egoístas. Acreditar que Deus se importa com nossas necessidades é um modo demasiado infantil de lidar com o criador de toda a universalidade existente.
Ele até se importa, mas não com base nos nosso critérios e urgências.
Como pode?
Há um paradoxo aqui, porque, mesmo sendo um povo minúsculo, sem grande poder militar nos tempos antigos, e que nunca dominou grandes territórios, de carona com o Cristianismo, o judaísmo se espalhou e ditou a moral de todo o mundo ocidental.
Cristianismo
O cristianismo leva o indivíduo a adorar um deus em auto-sacrifício numa cruz, o que também não sintoniza os fiéis com vibrações muito elevadas.
É bem verdade que Cristo veio para perdoar os pecados da humanidade, mediante arrependimento.
Mas esta dádiva fundamental acabou relegada ao último plano, esquecida entre rituais, teologias e novas regras morais.
A obtusidade mental generalizada da humanidade impede a compreensão e vivência dos benefícios oferecidos através das mensagens dos grandes mestres.
Então, religiões com um fundamento puro acabam se tornando religiões de domínio social.
Junto ao islamismo, são religiões profundamente morais. O foco delas são as regras morais e teológicas. O contato com o místico fica restrito a pouquíssimos buscadores.
Paganismo
Grécia, Roma e outros Impérios prosperaram séculos com seus deuses míticos.
Mas não por causa deles, os “deuses” pagãos nunca fizeram nada, sempre foram símbolos que auxiliavam o povo a “sintonizar” mentalmente estados pessoais e situações almejadas.
Em 380 o imperador Teodósio promulga o edito de Tessalônica no qual reconhece o cristianismo como religião oficial do Império.
Em 476 Roma é invadida pelos bárbaros e cai definitivamente.
Roma não prosperou com Cristo.
1000 anos de idade média onde a Europa parou no tempo.
“Ah porque a Europa floresceu na idade média” Também né amigo, mil anos, uma hora as pessoas cansam e começam a fazer alguma coisa diferente.
A civilização só voltou a avançar novamente após o Renascimento… da visão clássica do mundo.
E com o Iluminismo, em que a Igreja perdia força e as pessoas se tornavam livres para raciocinar suas hipóteses sobre o mundo.
Dúvidas
Eu sempre falo que acho o Cristianismo uma religião belíssima em sua essência original.
Apesar de alegadas razões de interesse político, o Cristianismo se espalhou pelo mundo por causa de experiências místicas de muitos cristãos.
Paro o texto por aqui.
Ainda estou refletindo onde o Cristianismo se enquadra em meio a toda a vasta e diversificada espiritualidade humana.
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Imagem de AgnieszkaMonk
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