Neste link, a autora Regina Navarro expõe a seguinte situação de uma leitora, que pede ajuda à autora:
Tenho 43 anos, não trabalho e dependo totalmente do meu marido. Os filhos já estão grandes e gostaria muito de fazer alguma coisa para não ter que ficar pedindo dinheiro o tempo todo, até para as coisas mais simples. Às vezes temos brigas tão sérias que passamos vários dias sem nos falar. Quando isso acontece, ele retira o talão de cheques da conta conjunta, a chave do carro, e não me deixa dinheiro nem para o ônibus. Comecei a fazer umas camisetas pintadas, que agradaram bastante às minhas amigas. Uma delas me indicou a loja de um conhecido, que fez um pedido de 50 camisetas. Não sei o que aconteceu comigo. Fiquei paralisada. Não consigo ter ânimo nem para comprar a malha. Acho que agora não dá mais, já passou do dia combinado para a entrega. Como posso mudar isso na minha vida?
Situação triste. E que acontece muito por aí.
Primeiramente, deixemos muito claro que um marido que faz o que faz com a esposa, sabendo que ela depende totalmente do dinheiro dele, é um canalha. Ponto!
Mas ela também não é totalmente inocente nessa história. Sabemos que trabalhar é uma atividade que exige muito de todos nós. Exige tempo, dedicação, fé no que estamos fazendo. E todas essas exigências que o trabalho nos faz quase sempre ultrapassam a fronteira do sacrifício. Trabalhar é normalmente um ato de sacrifício que nos desgasta muito.
Já comentei aqui que certas pessoas não têm os recursos emocionais necessários para suportarem uma atividade laboral constante. Pelo que vejo, a mulher que pediu ajuda à Regina é uma dessas pessoas. Fugiu como pôde a vida toda. Abrigou-se nas asas do marido. Acomodou-se. Mas como sabemos, depender dos outros é perigoso. E ela vem sentindo esse perigo na medida em que tem ficado na mão a cada vez que briga com ele.
Sente que deveria fazer algo por si. Mas aos 43 anos ainda não fez nada… Será que não teve tempo? Será que não teve oportunidades? Certamente os teve, mas ignorou. Agora se vê diante da necessidade premente de começar a trabalhar. Pelo que ela relata, surgiu uma boa oportunidade.
Mas alegou desânimo. Junto ao desânimo, vejo também acomodação e preguiça. Porque, repito, sabemos que trabalhar não é fácil. Trabalhar exige empenho, esforço e sacrifícios. Se trabalhar fosse bom, não seria uma atividade remunerada.
O que vejo, é um padrão espiritual. O padrão do comodismo. É muito mais fácil para ela continuar dependendo do marido, que enfrenta o mundo para trazer o sustento da casa, do que enfrentar o mundo ela mesma, e sair de sua zona de conforto.
Daqui a pouco o marido falta, e ela não terá mais onde se amparar. Então não poderá nem dar-se ao luxo de sentir desânimo mais…
Na mesma página, mais abaixo, a leitora “JC” comenta o seguinte:
A única maneira de não precisar do dinheiro do marido seria trabalhar, agora, se a pessoa tem uma oportunidade de ter sua própria renda e faz corpo mole, fica difícil resolver…
Concordo integralmente com ela.
Ari
04 de março de 2014 as 13:57
Pra mim está muito claro um apego emocional ao marido. Toda a emoção negativa recente é capaz de paralisar uma pessoa, é capaz de tirar o foco dela. Por isso ela não conseguia se desprender, se emancipar. Não ter ânimo nem para comprar a malha.
É uma reação inconsciente automática. Pegue uma outra personalidade diferente desta, pode ser até uma que ame um pouco menos seu marido, conseguiria sem dúvida se emancipar do marido em tempo recorde. O amor muitas vezes pode ser um problema que atrapalha e muito. Mas é claro, não está descartada a hipótese de comodismo. Faz parte da complexidade.
Ronaud Pereira
06 de março de 2014 as 0:41
Pois é, Ari, é um ponto de vista válido o seu, embora eu ainda acredite mais no padrão espiritual da dependência e da acomodação. Enfim, estamos julgando de longe, só ela sabe o drama de ser o que ela é 😉