Do latim DAEMON, “espirito”, do Grego DAIMON, “divindade, poder divino, deus de menor importância, espírito-guia, deidade tutelar (às vezes podendo incluir espíritos dos mortos)”; do Indo-Europeu DAI-MON, “provedor, aquele que divide”, de uma base DA-, “repartir, dividir”.
A conotação negativa dessa palavra se prende aos primeiros textos cristãos, onde ela era usada para designar “um deus dos pagãos, um espírito impuro”. Não eram raras apropriações desse tipo, com a finalidade de combater as antigas religiões pagãs.
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No imaginário popular contemporâneo, profundamente influenciado pela religião cristã e por filmes holywoodianos, demônios são seres de natureza espiritual, de caráter maligno, que influenciam negativamente os atos das pessoas. Estão para o Diabo assim como os anjos estão para Deus.
Mas há alguns pontos desse tema que me gera certo questionamento.
Primeiro pela confusão que ele gera. Demônio, Lúcifer, Diabo e Satanás são termos que se confundem.
Partindo de uma visão espírita e ocultista, que me parecem as mais sóbrias e menos míticas, entidades como o Diabo / Satanás aparentemente não existem. Lúcifer era um anjo revoltado que, acredito eu, se existiu ou existe, a esta altura do campeonato, já deve ter se reconciliado com Deus.
Entidades espirituais figuradamente demoníacas certamente existem, mas não passam de espíritos humanos ainda muito involuídos.
Anjos e demônios
Há quem entenda que seres como anjos e demônios são entidades espirituais autônomas e conscientes, umas benévolas e outras, malévolas; verdadeiros exércitos a serviço de Deus e do Diabo brigando eternamente entre si.
Mas não creio que seja assim que funcione. Estes seres que chamamos de Anjos ou Demônios são uma visão antropomórfica de energias espirituais que atuam positiva ou negativamente, seja às ordens de uma divindade superior, ou, no caso dos demônios, às ordens do próprio caos individual do ser humano que o gerou.
Shmuel Lemle explica isso sob o viés cabalístico:
De fato, o ponto de vista cabalístico sobre anjos e demônios é muito mais lúcido e pragmático, e inclusive, menos amedrontador.
Demônios interiores
Todos nós usamos eventualmente expressões como “exorcizar meus demônios interiores” relacionadas a eventos intensos e significativos na vida, tais como grandes esforços físicos, grandes bebedeiras, intensos períodos de oração, meditação e retiro, entre outros.
A Bíblia afirma, muito curiosamente, que Jesus e seus apóstolos expulsavam vários e vários demônios de uma mesma pessoa. O que é um tanto hilário, mas é também revelador. Esses demônios são chamados, alternativamente, na Bíblia, como “espíritos maus”, termo que, contemporaneamente, o espiritismo também usa.
Mas não acredito muito nessa coisa espírita do encosto, ou seja, de espíritos desencarnados que ficam rodeando certas pessoas (ou certos lugares) e sugando-lhes as energias. Acho que esses espíritos desencarnados tem coisas mais interessantes para fazer do que ficar sugando energias de pessoas que já não tem muita energia, ou sozinhos em lugares sombrios e abandonados. Não digo que o fenômeno do encosto não existe; ele existe, mas muito menos do que se alega. Muito do que se alega por encosto (ou macumba) nada mais é do que desculpa para os próprios fracassos e insucessos.
Um ponto de vista sob o assunto poderia afirmar que nossos demônios interiores nada mais são que cascas espirituais criadas e alimentadas por nós mesmos e sob cujas influências vivemos dominados; seriam partes da nossa personalidade que pendem para o lado negativo; que sempre que podem, vão pelo caminho da mentira, da dúvida, da omissão, do medo e do ódio, da raiva e da ira, etc. Quem sabe esses demônios interiores nada mais sejam do que nossas crenças negativas, essas crenças limitantes tão intensamente combatidas por terapeutas contemporâneos. São partes agregadas à nossa mente inconsciente, surgidas gradualmente na medida em que a sociedade nos cobra posturas que não fazem parte da nossa natureza, ou quando a sociedade nos impõe medos e culpas. Cada personagem artificial que interpretamos na vida, desalinhado com nossa essência mais autêntica, é um demônio interior que alimentamos.
Esses demônios não são, portanto, entidades monstruosas e malignas que nos influenciam as ações a mando do coisa ruim; ou o que os ocultistas chamam de obsessores, algo como cascões espirituais que nos cercam a aura, viciam nossos atos e impedem que recebamos a luz e as boas vibrações do Criador. São mais certamente energias dispensadas com situações indesejadas que não fazem parte dos nossos planos e intenções, e pior… são criados e alimentados por nós mesmos na forma de crenças e pensamentos negativos.
Por isso a importância do “exorcismo” regular desses demônios, quando enfrentamos as situações sendo quem nós somos, aprimorando (e positivando) nossa visão de mundo, priorizando nossa paz espiritual e nossa harmonia emocional. Por isso tantas igrejas ainda continuam com a tarefa de expulsar demônios, que não são exatamente o que se pensa, mas continuam sendo tão reais e limitadores quanto eram à época de Jesus.
A notícia boa é que assim como os obsessores são criados por nós mesmos na forma de crenças negativas, também temos o poder de criar entidades benéficas, também conhecidas por anjos, na forma de crenças e visões positivas da vida, as quais, verdadeiramente como anjos, estão sempre abrindo caminhos e atraindo boas vibrações para a nossa vida.
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