Esta é a terceira parte de uma série de textos sobre design. Leia: a primeira – a segunda

Dias atrás, escrevi sobre minhas percepções nada otimistas a respeito do que vejo (e ouço) da realidade prática do design. Relendo-os agora senti que poderia esclarecer alguns pontos.

Na prática, a teoria é outra

Nas faculdades, evidentemente, pouco se fala sobre os problemas da atuação profissional, e quando se fala, meio que não queremos saber. Lá você ouve que “design deve fazer isso, o design deve resolver aquilo” e acaba com a noção de que o design é a salvação do mundo. Na teoria é lindo, mas na prática, a teoria é outra. Primeiro que o público consumidor, ou seja, o empresário médio, mal sabe “o que é design”, por mais que os designers gritem aos quatro ventos que design não é só algo “bonitinho”. O design gráfico encontra sim alguns problemas que não são encontrados em outras áreas semelhantes.

Na publicidade por exemplo. A profissão também tem os seus problemas, e passa por uma crise aguda no momento, com o advento da internet e seus novos paradigmas de comunicação, contudo, muito ao contrário da síntese dos meus dois textos anteriores, em que reclamo do fato de o designer quase sempre lidar com clientes que mal compreendem o que estão contratando, na publicidade, todo cliente sabe a importância da publicidade e propaganda para o seu negócio e sabe que boa publicidade é CARO. Ponto!

Outro ponto que vale ressaltar em relação aos meus textos é que discorro preponderantemente sobre o design gráfico e seu segmento online, o web-design. As realidades dos designers de produto, em seus inúmeros segmentos, bem como a realidade dos designers de interiores, devem ser bem outras. Não posso falar porque desconheço tais cotidianos, contudo, são áreas que exigem maior especialização prática. Não se compete com “sobrinhos”, ou essa tendência é seguramente menor. No caso do design gráfico, o que estraga a profissão é a extrema facilidade com que as pessoas não qualificadas conseguem mexer num programa gráfico, e enfim, essa história você já conhece.

O webdesign em si, área na qual tenho maior conhecimento e experiência, apesar de apresentar sim alguns problemas também próprios do design, enfim, é um segmento que tendia, até 2010, a ocorrer menos competição desleal porque é uma área que exige um conhecimento técnico cada vez mais aprofundado, como linguagens de programação, usabilidade, SEO. A diferença entre um trabalho profissional e um amador naquela época já era muito nítida. Coisa que não era em 2002, quando comecei. E os clientes de forma geral já deixaram de encomendar sites porque “todo mundo tem”, e sim porque já perceberam que um site lhes ajuda a aproximarem-se de seus clientes como uma forma excelente e barata de… publicidade.

Porém, mesmo assim, atualmente, este segmento web vem sofrendo forte concorrência de sistemas automatizados, especialmente da Wix, empresa que cai pesado em cima de publicidade. Uma vez no site da wix, os próprios clientes podem montar seu site a um custo mínimo. Sendo assim, resta aos web-designers a sorte de assumir grandes projetos e sites de grandes empresas.

Lembrando que mesmo dentro do design gráfico há segmentos diferentes. Tudo a que me referi diz respeito ao segmento mais “popularzinho” de logos, identidades visuais, folders, etc. Mas há outros segmentos nos quais a realidade possa ser melhor, como diagramação, vídeo, 3D, e pode-se também trabalhar nos departamentos de comunicação, publicidade, propaganda e marketing de empresas industriais, de serviços, do setor público e em ongs.

Não basta amar o design e ser competente em suas atividades; é preciso alguma visão de onde se quer estar, e alguma sorte também, para conseguir uma colocação profissional considerável.

Show me the money

No quesito dinheiro, vale para o ramo do design e seus muitos segmentos, a mesma regra que vale para qualquer outro ramo profissional: Ou você sabe vender e se torna dono de empresa ou autônomo, e consegue uma renda razoável para se tocar a vida, ou, se você se vê trabalhando como funcionário, melhor escolher outra profissão; especialmente no Brasil, escolha uma profissão com a qual você consiga tornar-se um funcionário público.

Finalizo com uma última observação com a qual respondi a um comentário no segundo texto. Tudo que escrevi nos textos anteriores são percepções MINHAS, muito embora haja vários links ao final do segundo texto que corroboram minha visão.

De todo modo, espero mesmo que as pessoas que discordem de mim e consigam ganhar rios de dinheiro fazendo design gráfico 😉

***

Veja um quarto texto que mostra a dura realidade prática do design.