Há alguns anos, publiquei aqui um texto de outra autora, que comentava sobre o complexo do povo escolhido. Falava sobre certos grupos espiritualistas ou religiosos que se acham os preferidos de Deus, o que revela completa falta de noção, por parte dessas pessoas, do quanto a espiritualidade é universal, amoral e acolhedora. O povo que mais disseminou esse conceito de povo escolhido foram os hebreus. Os cristãos, posteriormente, surfaram na mesma onda.
O primeiro passo para se desvencilhar dessa cegueira espiritual e alcançar um nível melhor de lucidez é entender que a Bíblia ( assim como outros livros religiosos ) trata de um deus cujos valores morais refletem os valores do povo que a escreveu, no caso, os hebreus. O deus bíblico, em especial do antigo testamento, é um deus que pensa como os hebreus pensavam.
Se nós nos identificamos com a Bíblia, nós na verdade nos identificamos com o modo como os hebreus pensavam, e com todo o sistema moral deles, ainda que pensemos que estamos identificados com Deus. A lucidez chega quando paramos de acreditar que Deus pensa como nós gostaríamos que ele pensasse. Ora, Deus está infinitamente além dos nossos draminhas morais. Pensa comigo: O Ser que representa o princípio criador de um universo infinito com bilhões de galáxias não deixaria sua mensagem em livros antigos, mal escritos e contraditórios. Ele pode mais, e ele é infinitamente mais que um livro antigo.
A imagem abaixo, encontrada por coincidência enquanto este texto vinha sendo redigido, demonstra melhor que, se Deus existe, ele tem mais o que fazer:
(A imagem não é de minha autoria e discordo do termo “idiota”)
Ora, a Bíblia, em especial o antigo testamento, traz em si o modo como os hebreus gostariam que Deus fosse. Um povo pobre, desorganizado, mulherengo, corrupto, e que se deu mal muitas vezes (um suposto dilúvio, exílio no Egito, cativeiro na Babilônia, dominação por Roma, destruição de templos, holocausto nazista) entendia que tinha um Deus temperamental, difícil de agradar, e que castigava muito, por qualquer deslize.
A Bíblia traz grandes verdades espirituais sim, e eu mesmo gosto de MUITAS passagens bíblicas, mas nunca perco de vista que estão longe de encerrar todo o mistério da existência em algumas centenas de páginas. É sinal de lucidez distinguir, na Bíblia, as verdades espirituais, do sistema moral hebreu do primeiro testamento, e cristão, do segundo. Aliás, lucidez é, antes de tudo, saber e conseguir distinguir uma verdade espiritual universal e imutável (que são poucas) de uma regra moral, local e temporária (que são muitas, e diferentes, local e temporalmente).
Por fim, é bom nunca perder de vista que ao levar toda a Bíblia ao pé da letra, você, que vive em pleno século XXI está retrocedendo sua visão de mundo para a mesma visão que tinham as pessoas que viviam por volta de 3000 anos atrás, perdidas no deserto, em completa miséria espiritual, moral e material.
Humildade intelectual
Eu realmente não saberia afirmar qual é a verdade verdadeira da vida. Trago comigo algumas vagas hipóteses e uma única certeza:
Essa que religiosos fanáticos dizem ser a verdade, e que brigam por ela, e se exaltam para defendê-la, também está longe de ser a verdade última da existência.
Acho prudente e sinal de humildade intelectual nunca perder de vista que a mente humana é pequena demais para compreender o imenso oceano de mistério que a circunda.
Rosemile Alencar
20 de maio de 2015 as 16:05
=)
Ronaud Pereira
20 de maio de 2015 as 18:48
😉
Lúcia
13 de abril de 2022 as 20:33
“Ora, a Bíblia, em especial o antigo testamento, traz em si o modo como os hebreus gostariam que Deus fosse.” Com todo o respeito, a sua afirmação não tem nexo nenhum. Leia bem o Antigo Testamento e depois falamos.