Resenhas divulgadas
Uma visão profundamente sagaz da alma e da condição feminina por um dos autores mais importantes da literatura mundial, num texto que deu origem a uma das mais famosas expressões de referência do universo feminino: “A balzaquiana”.
Nesta precoce análise das mazelas do matrimônio enquanto cerceamento da mulher — “Casada, ela deixa de se pertencer, é a rainha e a escrava do lar” — Balzac retrata o casamento como pilar da sociedade burguesa (agora pós-revolucionária, “o encanto do amor desapareceu em 1789”) na França. Embora intrinsecamente conservador — talvez por isso mesmo —, a imagem que o autor traz da situação de mulheres curvadas sob o peso de suas obrigações sociais e legais é digna de interesse social, histórico e psicológico. Ideologicamente, sabemos que Balzac respaldava o casamento, e esta obra tinha a função de um libelo contra a “leviandade da mulher”, dando origem a uma Julie remoída por abissais sentimentos de desejo e culpa, mas o próprio texto e os personagens se encarregam de traí-lo e fica-nos uma forte impressão de que Balzac o denuncia nas entrelinhas em suas estruturas mais fundamentais. Assim, são deliciosas, se não memoráveis, e um tanto inusitadas para a época, as páginas em que Balzac retrata com derrisão o homem casado, tome-se o marido de Julie, o insípido Victor d´Aiglemont, que parece não discernir com muita clareza entre seu cavalo e a mulher.
O que restou desta obra, para além de algumas falhas de construção (por exemplo, Balzac usa condessa por marquesa, ao descrever a tia de Julie, pois com a Restauração a marquesa recuperaria seu título, mas isso não fica suficientemente claro para o leitor e aparece como lapso do autor — propositadamente não foi corrigido nesta tradução), são trechos de um belo lirismo e forte inspiração sobre o amadurecimento da mulher (Balzac parece ao mesmo tempo lamentá-lo…), justamente sua passagem para a idade balzaquiana e para uma outra beleza, a da maturidade, para cuja construção o casamento seria um mal necessário: “A fisionomia da mulher só começa aos trinta anos“.
Vemos aqui um Balzac “em construção”, ora tecendo uma reveladora “análise psicológica”, ora se inclinando para o “folhetim desvairado”, e de uma riqueza notável ao abordar pontos essenciais de sua obra, como nota no prefácio de uma das edições do livro A Mulher de Trinta Anos, Philippe Berthier, um dos mais destacados estudiosos de Balzac na atualidade.
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A Mulher de Trinta Anos é, sem contestação, o livro mais famoso de Honoré de Balzac. Muitos leitores não lhe conhecem senão este único romance. No Brasil como em muitos outros países a “idade balzaquiana” tornou-se expressão consagrada até nos meios incultos.
- Editora: Martin Claret
- Autor: HONORÉ DE BALZAC
- Ano: 2002
- Número de páginas: 174
- Acabamento: Brochura
- Formato: Bolso
- Complemento: Nenhuma
Opinião sobre o livro A Mulher de Trinta Anos
A publicação deste post é tardia, como já comentado em resenhas anteriores, já que finalizei essa leitura a praticamente um ano.
As três resenhas divulgadas acima sobre o livro A Mulher de Trinta Anos dizem praticamente tudo sobre o mesmo.
Devo completar com minha leve frustração a respeito da grande expectativa que criei ao intentar conhecer o que as pessoas queriam dizer com os termos “Balzaquiana” ao referirem-se com ele às mulheres que passavam dos trinta anos de idade. Talvez por um despreparo meu mesmo, não encontrei nada demais.
Porém é verdade que o livro está repleto de algumas profundas análises sobre os anseios e a condição feminina que, é bem verdade, permeiam toda a vida de uma mulher. Particularmente, me encanto com os mistérios – e corro das neuras – femininas de todas as idades 🙂 Ainda a respeito do misterioso e indescritível universo feminino, lembro sempre da fala da personagem Rose dita ao fim do filme Titanic: “O coração de uma mulher é um oceano de segredos”. Bonito e verdadeiro!!!
De volta ao livro A Mulher de Trinta Anos, o texto apresenta uma linguagem mais antiga, semelhante ao Madame Bovary de Flaubert, até por ambos serem autores franceses. Vale dizer que o livro é antigo, entretanto com um tema atual. O espírito feminino será eterno enquanto as mulheres estiverem sobre este planeta e continuará impressionando e instigando homens reverentes por séculos ainda.
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