Sexualidade é um tema que vem me despertando sempre mais interesse.
Quando vi este livro na vitrine da livraria, senti um forte impulso para compra-lo. E foi ótimo porque ele veio demonstrar e reforçar algo que já vinha desconfiando desde o sucesso do livro 50 tons de cinza: que a sexualidade é complexa demais para ser definida ou parametrizada pela experiência, quase sempre limitadíssima, de poucas pessoas.
É impressionante como mais pessoas do que imaginamos têm problemas de ordem sexual e mal sabem o que fazer para solucioná-lo. Tenho visto a sexualidade ultimamente como um dos grandes dramas humanos.
As Sessões fala da trajetória da Terapeuta do Sexo Cheryl T. Cohen Greene. Intercalando algumas passagens pessoais com a descrição de várias sessões realizadas com seus clientes, é emocionante e rico.
Mostra o drama de deficientes físicos que encontram dificuldade – para muitos a impossibilidade – de terem uma vida sexual; de homens que sofrem da temida impotência sexual; de pessoas comuns perturbadas pela fortíssima repressão religiosa; de outras pessoas que não conseguem se comunicar com seus parceiros nem para resolver pequenas questões; de um caso inacreditável de um senhor de 70 anos ainda virgem, enfim.
Além de todo esse aparentemente bizarro repertório de casos, porém todos muito mais comuns do que podemos imaginar, a autora retrata também suas dificuldades de lidar com a culpa que sentia enquanto ainda adolescente pela sexualidade aflorada e o desejo incontrolável de vivenciá-la. Culpa esta motivada pela repressão de uma família e comunidade profundamente católicas. É lamentável o quanto essa repressão destruía a vida sexual das pessoas e notável o quanto a autora teve de se impor para superá-la.
Superação que nunca foi completa, pois percebe-se fortemente o profundo ressentimento que Cheryl manteve pelo tratamento recebido da família praticamente por toda a vida. Essa passagem da vida da autora me lembrou uma observação que já tinha firmada por aqui: do quanto a opinião dos nossos pais pode moldar o nosso destino. E que o maior presente que os pais podem dar aos seus filhos, depois da vida em si, é a aceitação, o apoio e a torcida sincera, independente do caminho escolhido.
(Acho que a busca por aprovação da autora por parte de seus pais era algo que ela poderia prescindir. Sou da opinião de que se estamos numa forte indisposição de opiniões com alguém, seja da família, seja de quem for, o melhor é o afastamento e o esquecimento. Deixe a pessoa pensar como pensa, afaste-se e continue pensando como você pensa. Há bastante espaço no mundo para todos e vejo como uma profunda perda de tempo e energia ficar mendigando aprovação. Ninguém tem a obrigação de conviver com quem o coloca pra baixo diariamente, numa degradante sensação de que se está errado, ou no caminho errado, mesmo que seja pai, mãe, irmão, etc. Porque no final tudo não passa de uma briguinha para ver quem está certo.)
O livro As Sessões me impressionou em muitos aspectos. Primeiramente, por visualizar nas palavras de alguém fortemente presente no segmento o quanto a sexualidade configura-se como um problema na vida de boa parte da população, sendo o motivo principal a desinformação. Mesmo hoje em dia, apesar das coisas virem melhorando, e de toda a informação disponível, o sexo ainda é um aterrorizante tabu.
Segundamente 😉 o livro impressionou por ver reafirmado algo que também já tinha uma forte noção, que sexo é 100% mental. Problemas sexuais são, na maioria dos casos, problemas psicológicos. O corpo, mesmo com toda sua complexidade, ainda assim não me parece mais do que um instrumento, que depende integralmente de uma mente sã para funcionar. E este é o trabalho da Terapeuta do Sexo: restabelecer o equilíbrio mental do paciente em relação à sua sexualidade, e posteriormente, a conexão entre a mente e o corpo.
Outro aspecto que me impressiona, pelo qual creio que TODOS NÓS passamos, e que também tem a ver com a questão psicológica da sexualidade, são os nossos complexos. Colocamos na cabeça que algo em nós é indigno de apreciação, e ficamos martelando nisso por anos, quem sabe a vida inteira. E essa rejeição vai crescendo e se tornando um monstro interior. E no fim das contas, tudo não passa de um equívoco de percepção. E um equívoco muitas vezes birrento: Adotamos um tal padrão de beleza, e além de não nos aceitarmos tão diferentes do padrão adotado, NÃO ACEITAMOS que nossas diferenças podem ser exatamente o que mais pode atrair outra pessoa.
Enfim, recomendo fortemente esta leitura a quem tiver interesse pelo tema. Pode-se não ter qualquer problema sexual, mas a simples constatação de até onde esses problemas podem ir, e do quão limitantes podem ser, já nos proporciona uma certa gratidão por termos a chance de experimentar uma das maiores, senão a maior delícia da vida: o tal do sexo!
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