Ali pelos idos de 2002, eu estava estacionado na frente do bloco administrativo da Univali – Campus de Itajaí, na Rua Uruguai.
Porta do motorista aberta, eu de pé, com os braços apoiados sobre o carro.
Aguardava uma namoradinha, aluna do Curso de Letras, para um dos nossos esparsos encontros.
No cd-player do carro, tocava esta música acima, num volume baixo.
De Mais Ninguém, de Marisa Monte/Arnaldo Antunes (e que acreditava ser de Paulinho da Viola), um chorinho cantado magistralmente por Marisa Monte, acompanhada do grupo Época de Ouro.
Enquanto a aguardava, um senhor se aproximou, para entrar no seu carro, estacionado ao lado do meu.
Magro, cabelos lisos, grisalhos, aparentava ser, ou algum professor, ou administrador da Univali.
Simpático, olhou para mim e, com palavras que já não lembro, me parabenizou pelo “bom gosto” musical.
Desde então, vinte e poucos anos se passaram, sempre que ouço esta música, melancólica sim, porém um retrato do sentimentalismo brasileiro, lembro daquele senhor.
Nunca mais o vi, não sei sequer o seu nome, entretanto, sua gentil aprovação musical ecoa até hoje na minha mente.
E ele nem sabe disso. Por causa dele, tenho o Chorinho como o mais autêntico estilo musical brasileiro.
E lamento ao perceber que os jovens brasileiros de hoje sequer sabem que existiu um estilo chamado chorinho.
Mas tudo bem.
Nós não temos a dimensão do poder de um elogio sincero, autêntico, feito no momento certo.
Que sejamos mais generosos em nossos elogios, especialmente com os jovens.
Esses elogios podem redirecionar certas posturas pelo resto da vida.
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