Em entrevista que concedeu ao site O Financista, Barsi conta em quais ações aplica, como escolhe as empresas para investir e por que prefere as ações do Banco do Brasil em vez de Itaú, a queridinha dos analistas de ações.
Luiz Barsi – Longe do senso comum, Barsi ama a ação do Banco do Brasil e torce o nariz para a do Itaú, a queridinha dos analistas. Um dos maiores investidores pessoa física da Bolsa de Valores de São Paulo(Bovespa), Luiz Barsi tem uma agenda simples. Todos os dias ele vai para o seu escritório, localizado no centro de São Paulo, onde fica das 10h às 14h. Nesse período, avalia se as cerca de 12 ações em que investe estão em um bom preço para comprar mais.
Luiz Barsi
O Financista: Em 2013, o senhor disse que estava torcendo para a próxima crise chegar. Com o Ibovespa na faixa dos 30 mil pontos, chegou esse momento?
Luiz Barsi: Está chegando. É muito difícil você avaliar o fundo do poço de um processo. Eu torço para as crises, não para as catástrofes. Eu torço para os movimentos de bolsa que proporcionam boas oportunidades de compras de ações. Infelizmente o Estado não tem condições de proporcionar uma aposentadoria digna para a nossa velhice, então eu criei a minha própria renda mensal para a velhice, baseada em ações que pagam bons dividendos.
O Financista: O senhor aplica em outros tipos de ativos, além da bolsa?
Barsi: Eu não aplico na bolsa, eu aplico em projetos. A bolsa é um instrumento que me permite participar desses projetos. Nesse preço próximo de R$ 12, a ação do Banco do Brasil é um excelente projeto, por exemplo. O meu programa [de investimentos] é um programa que qualquer um consegue alcançar, basta ter disciplina e paciência. Levamos 35 anos para se aposentar pelo sistema compulsório, se você ficar 35 anos comprando ações você fica milionário. É inevitável.
O Financista: Foi assim que o senhor ficou milionário? Ou o senhor tem patrimônio de família?
Barsi: Eu venho de uma família pobre. Eu administrei meus egos para fixar metas e ir conquistando-as. A minha estratégia é a de comprar um dividendo que qualifico como “dividendo mais eficiente”. E hoje o dividendo mais inteligente é o do Banco do Brasil, porque o seu yield [retorno] é de cerca de 15%. A renda fixa te proporciona tão somente a possibilidade de competir com esse retorno, ela não te dá a chance de, se o mercado melhorar, você dobrar ou triplicar os seus recursos.
O Financista: Então o senhor não tem nada de título público?
Barsi: Não. Por ser economista, eu tenho o hábito de no início do ano sempre medir o meu poder de compra e comparar no fim do exercício. E esse poder de compra geralmente sofre uma desvalorização de aproximadamente 25% no final do exercício. Então se você aplica em uma renda fixa que vai te dar 10% ou 12% líquido, na realidade você não aplicou em uma renda fixa, mas sim em uma perda fixa. Para mim, não existe renda fixa no Brasil. Enquanto o governo ludibriar a população com índices de correção que lhe convém, a renda fixa é uma fantasia da qual o cidadão brasileiro se regozija.
O Financista: Dentro desse programa, como o senhor escolhe em quais ações investir?
Barsi: O meu programa contempla a postura de comprar tudo aquilo que é um bom projeto e seguir adiante nele. Para avaliar se o negócio é bom ou não, tem que examinar a perenidade da empresa, o histórico de resultados, o histórico de distribuições e também a necessidade de se promover essas distribuições.
Por exemplo, se você perguntar para um analista ele não vai te recomendar a ação do Santander. Mas o banco pagou dividendos extraordinários, porque ele não paga para mim, mas para a Ana Botín, que é a dona do banco. O Santander tem uma base acionária, com aproximadamente 78% das ações em sua própria mão. Então quando ele vai distribuir um resultado ele pensa nele primeiro. Por isso eu examino como é composta a base acionária da empresa.
Também olho a relação entre preço e patrimônio. Ele não é determinante, mas tem o seu peso. A ação Banco do Brasil, por exemplo, custava cerca de R$ 11 em 2008, com uma relação de 1,32 vez. Ou seja, a ação valia mais do que o patrimônio do banco. Hoje, cotada a R$ 13,50, essa relação é de 0,47 vez. Isso com um dividend yield [retorno com dividendo] na casa dos 15%. Ou seja, uma grande oportunidade de compra, ainda mais atrativa que em 2008, quando a ação custava menos.
O Financista: O senhor usa algum tipo de análise, como a técnica ou fundamentalista?
Barsi: Não. Para adquirir um projeto e nele acondicionar o seu futuro é preciso avaliar uma série de circunstâncias. Um dos fatores mais importantes é avaliar a atividade da empresa, se ela é perene. Por exemplo: empresas de aviação. Há um histórico de mais de mil falidas pelo mundo. Então é uma empresa pouco perene. Tem uma série de outras atividades que também não se sustentam. Já o Banco do Brasil tem mais de 200 anos, não vá pensar que é só uma empresa estatal. A Klabin tem mais de 120 anos, assim como a Suzano.
O Financista: Então TAM e Gol nem pensar?
Barsi: Não, porque toda empresa de aviação nasce para quebrar. Eu não sou um sábio, apenas sou uma pessoa que respeita as estatísticas. O mesmo acontece com as empresas de eletrodomésticos, que se pegarmos o histórico do setor vamos ver que uma quantidade muito grande delas não se sustentou. Ultimamente temos visto alguns exemplos de empresas que se não se unissem teriam sucumbido.
O Financista: Por que esses negócios não são perenes?
Barsi: Acho que faz parte de uma conjuntura. Por exemplo, a empresa de aviação não controla seus pousos e decolagens, porque quem controla é uma empresa estatal, assim como o preço do combustível. São uma série de eventos contrários.
O Financista: Quais são as ações que o senhor tem em portfólio atualmente?
Barsi: Meus projetos não mudaram muito. Tenho Banco do Brasil, Santander, Ultrapar, Eternit, que já foi um grande negócio, mas continuo firme no projeto, porque acho que um dia os conselheiros vão ter pena da empresa e vão fazer algo por ela. Tenho também ações da Klabin, Suzano, Taesa, Cemig e Unipar Carbocloro. É esse portfolio que ajuda a manter minha generosa aposentadoria.
O Financista: Sempre com base naquele programa de dividendos inteligentes?
Barsi: Sempre com o mesmo princípio. Por exemplo, se comprarmos 40 mil ações do Banco do Brasil, o que dá uns R$ 530 mil com uma cotação de R$ 13,30, teríamos cerca de R$ 81 mil em juros e dividendos anuais. Isso equivale a uma renda mensal de R$ 6 mil. Além da possibilidade de a ação subir, uma vez que o histórico de preços da ação é superior a R$ 18.
O Financista: Entre as ações de bancos, os analistas têm como preferida as do Itaú, enquanto o senhor prefere BB. O Itaú não se encaixa no seu projeto?
Barsi: O Itaú não se encaixa no meu projeto porque ele não proporciona o dividend yield suficiente. O Itaú paga juros sobre capital próprio de forma mensal. É um juro que considero um ‘zero nada’, porque dá mais ou menos R$ 1,20, enquanto o BB paga R$ 2 por ação e a ação custa menos, então o yield é maior. O Bradesco é a mesma coisa. Agora, porque os fundos talvez recomendam Itaú? Porque eles têm uma posição grande. As fundações de previdência também, porque elas têm uma necessidade de recursos atuariais e é por esse motivo que o banco paga um dividendo mensal. Por isso há uma preferência por esses papéis.
O Financista: Não tem blue chips na sua carteira, como Petrobras e Vale. Elas não são bons projetos?
Barsi: Eu não gosto de comprar papéis que estão sujeitos a commodities.
O Financista: Mas estatal não tem problema?
Barsi: Não, empresa estatal tem garantia de não quebrar. E melhor se ela tem outras garantias, como um estatuto blindado. No Banco do Brasil nunca vai acontecer o que aconteceu com a Petrobras, por exemplo, porque a Petrobras é a casa de Irene. O estatuto da Petrobras não é um estatuto blindado, lá você pode colocar quantas pessoas você quiser como funcionário e diretor. Enquanto que para entrar no BB você precisa ter um concurso e há uma fiscalização. Na Petrobras você vai nomeando.
O Financista: Como o senhor avalia no curto prazo se a sua estratégia de longo prazo está dando certo?
Barsi: É por isso que compro ações perenes, porque não vou ficar com elas seis meses, mas um período grande. E compro a ação em um momento em que ela está me produzindo um resultado excelente. Vamos supor que a ação do Banco do Brasil suba, que ela vá de R$ 12 para R$ 50, ela passa a não ser uma boa opção. O caminho é comprar um papel que esteja dentro do conceito de pagar o melhor dividendo. Então se hoje você puder comprar 1 milhão de ações do BB, compre.
E a visão de longo prazo que o investidor brasileiro ainda não aprendeu é que em ações você ganha em função da quantidade de ações possuídas e não em valor aplicado. Por exemplo: se você tiver uma ação e o dividendo dela for R$ 1 você vai ganhar R$ 1. Se tiver 1 milhão de ações vai ganhar R$ 1 milhão. Com isso, com uma quantidade de recursos seria sempre conveniente comprar o maior número de ações possível. Mas a ação tem que estar em um preço que possibilite isso.
Você tem que torcer diferente. Quando você compra uma ação e tem a visão de que ela tem que melhorar de preço para você ganhar na valorização dela, você precisa alimentar a expectativa de que essa ação tem que subir de preço. Quando você compra para um programa de aposentadoria e você quer comprar a maior quantidade possível de ações, você tem que torcer para que o preço caia para que os seus recursos comprem mais ações. Eu só compro ação quando cai, porque quando cai há a possibilidade de comprar mais ações com o mesmo recurso.
O que eu faço é imitar o maior caçador de passarinho do mundo, o jacaré. Ele fica lá com a boca aberta esperando o passarinho vir comer no dente dele. Eu faço isso, eu recebo o recurso e fico esperando o bom momento.
O Financista: Então aquele mantra de compre na baixa e venda na alta não funciona bem assim?
Barsi: Esse é o mantra que a bolsa deseja para as pessoas, porque ela ganha emolumentos. Nem eu que tenho 50 anos de mercado sei quando vai ser a baixa e quando vai ser a alta, então as pessoas perdem os movimentos de baixa e alta, na esperança que sempre vai cair mais ou pouco, ou subir mais um pouco. Outra que coisa que acontece no Brasil são os futurólogos fantásticos do Banco do Brasil, Itaú, Credit Suisse e Morgan Stanley. Todos eles projetam preços fantasmagóricos. Isso acaba minando a vontade do indivíduo, porque o brasileiro costuma ser um comprador de imagem, não de perspectiva de resultado. Aí o analista diz que o papel vai subir, mas não explica por quê. O cidadão compra e perde dinheiro. Isso aconteceu com várias ações. Pergunta para mim se alguma vez eu comprei alguma ação do Eike Batista? Não.
O Financista: Quanto o seu portfólio rendeu no ano passado?
Barsi: Eu não fico medindo. Se tem uma coisa que você acaba exorcizando são as altas e baixas do mercado. O meu patrimônio às vezes cai R$ 200 milhões e às vezes sobe R$ 300 milhões. Mas como eu não vou vender, para mim o que vale é o que eu recebo de dividendos.
O Financista: E eles foram bons em 2015?
Barsi: Eles são bons nos últimos 25 anos.
Seu estilo de vida em nada lembra o de uma pessoa que fez fortuna aplicando em ações. Ele vai e volta do seu escritório de metrô e acha bom não ter que pagar nada, já que é um senhor de mais de 70 anos. “Eu não ando de metrô, eu passeio, porque se está lotado eu pego no sentido contrário para voltar sentado”, conta.
A estratégia para pegar lugar no transporte público é igual à de qualquer cidadão comum, mas quando o assunto é aposentadoria Barsi segue à risca, há mais de 40 anos, o seu programa de investimentos, que ele explica com a maior paciência, para quem perguntar.
“Criei minha própria renda mensal para a velhice, baseada em ações que pagam bons dividendos”, afirma. Segundo ele, qualquer um pode fazer o mesmo: basta ter disciplina e paciência. Disciplina para todo mês aplicar um dinheiro na bolsa. E paciência para esperar o momento certo de comprar uma ação e esperar o seu retorno.
Fonte: O Financista (o site não existe mais)
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