Durante 2009 e começo de 2010, comentava bastante aqui sobre livros e sobre o mercado de ações.
Para um iniciante, tive uma experiência bem positiva na Bovespa. Em parte por grande disponibilidade em arriscar, em parte por ter consumido uns 15 livros sobre educação financeira até então e, é claro, em grande parte por sorte. Consegui triplicar o montante inicial em um ano e meio. Para quem tinha entrado inicialmente em janeiro de 2009 na bolsa com uma parte de minhas economias plenamente disposto a perder tudo para aprender, convenhamos, foi uma experiência bem positiva.
Então estava precisando muito comprar a casa própria, e retirei o que ganhei na bolsa para dar de entrada num terreno. E atualmente estou em processo de obter o financiamento da Caixa Econômica para pagar o terreno e bancar um casebre nos fundos dele adquirir uma casinha geminada 🙂
Hoje até teria disponibilidade de entrar na bolsa novamente com uma quantia semelhante para iniciar uma nova trajetória, mas confesso, estou completamente desmotivado pra tal, e explico:
Bolsa consome. Bolsa desgasta. Bolsa suga a sua alma.
Percebi que não tenho o perfil psicológico adequado para operar no home-broker. O HB torna tudo muito fácil. Em poucos clique você coloca dinheiro no meio do fuzuê e simplesmente não sabe o que pode acontecer, então lá estará você (eu!) todo santo dia conferindo se a cotação de sua ação está subindo ou caindo. E, para cada dia de alta, são dez dias de estagnação. E você precisando de dinheiro pra já. E antes de você pegar uma explosão daquela que deixa até o hardy dando pulos de alegria, vem aquela maré lenta, letárgica, agonizante, descendo gradativamente, pouquinho por dia. E a cada centavo pra baixo me corroía o estômago.
Até que um dia o negócio vira, explode pra cima e você bate a cabeça no teto de tanto pular de alegria, e estufa o peito e bate forte dizendo: Eu sou foda, eu sou o cara, chupa Buffett!
O negócio é emocional demais, não se chega aos 50 anos de idade são, vivendo essa tensão diariamente.
Outro aspecto que vale a pena ser citado é que operar o HB é algo desprovido de propósito. Ali você não está fazendo bem pra ninguém (nem mau), não está agregando valor para a sociedade (apenas para as corretoras) e não está aprendendo nada de relevante para a sua vida. Me pareceu uma tarefa bem vazia.
E o pior de tudo é que na Bolsa você não tem qualquer controle sobre nada. Se o negócio sobe ou desce ou inverte você não consegue prever até quando aquilo vai continuar, menos ainda quando vai começar. Investir na bolsa no curto prazo vai significar muitas vezes alongar esse prazo para de repente apenas recuperar o que perdeu. Você fica muito a mercê das marés e dos fluxos espontâneos de dinheiro e, como toda dependência, não é nada legal. Robert Kiyosaki comenta em seu livro Inteligência Financeira sobre essa ausência de controle nos investimentos em ações, justificando a preferência por investimentos imobiliários.
Acho que pra toda tese haverá razões contra e pró, então vamos escolhendo aquelas com as quais nos identificamos mais.
Enfim, a bolsa de valores é algo fantástico. Entrei, aprendi muito e gostei. Morria de inveja dos milhões que via uma só pessoa negociando em poucos segundos, enquanto eu tava ali com meus minguados reais economizados. E mesmo com pouco dinheiro tive uma experiência bem… emocionante 🙂
Porém estou começando a concluir que ela não é pra gente temperamental, obcecada e controladora como eu, que tem pouco dinheiro e precisa agir no curto prazo para ganhar mais. Ainda acho que como investimento, naturalmente para quem tem bastante dinheiro e está familiarizado com a análise dos fundamentos econômicos das empresas, a bolsa de valores é melhor que imóveis, quando se está ciente do que se está fazendo.
Mas essa resistência natural que sinto para voltar, demonstra claramente que a bolsa não é pra quem tem pouco dinheiro para investir e não pode esperar.