Ultimamente tenho publicado e escrito aqui alguns textos meus e de outras pessoas que atentam para a onipresente e ainda assim surpreendente passividade bovina com a qual o povo submete-se ao establishment e ao pão e circo lifestyle, enquanto os grandes continuam lá em cima, à vontade, tocando sua agenda de ganância.
Por um lado, toda essa conversa, que me é nova, sobretudo em seu aspecto mais profundo e desumano, parece concluir que: Há os fracos e oprimidos, e os fortes opressores e culpados por tudo ser como é, certo?
Não sei…
Tenho horror ao conceito de culpa. Os fortes opressores são responsáveis pela circunstância de dominação? (a qual não é atual) Sim, são! Mas são os únicos?
Creio que não.
Vejo de uma forma incisiva que o povo é tão “culpado” pela situação da qual faz parte, quanto os fortes. Sua “culpa” manifesta-se através de seu comodismo e desinteresse pelas grandes questões, e interesse egoísta pelas pequenas questões. Tal evento é de fácil identificação numa questão como a do bolsa-família, por exemplo: Este programa governamental é amplamente popular, todo governante agora se vê obrigado a “aprovar” e “continuar” tal ajuda. Mas a questão fundamental nisso, que seria o povo exigir uma educação de qualidade, não é tão exigida pelo mesmo povo que agora não aceita perder os incentivos de um bolsa-família. Sei que o assunto é discutível, mas serve para ilustrar que quando a coisa pega para o seu lado, sob o risco de perder suas “facilidades” e direitos adquiridos, o povo sabe defender seu lado muito bem.
Desconfio que teorias conspiratórias, por mais atraentes e lógicas que sejam, são só isso mesmo, teorias. Pois a conspiração é desnecessária. O povo conspira naturalmente contra si mesmo. Enquanto houver um povo minimamente satisfeito, de barriga cheia e novelas para assistir a noite, acomodado, alienado das questões mais importantes da sociedade, haverá o falso líder promovendo mais e mais o afundamento desse mesmo povo na inconsciência, bem como satisfazendo seus próprios e ilimitados interesses.
O que eu quero dizer é que a oportunidade faz o ladrão. Enquanto o pessoal aqui de baixo não se importar, o pessoal lá de cima vai roubar. Governo é consequência, não causa. Não adianta você ficar batendo o pezinho esperando que o pessoal de cima não roube, esse mundo ideal que você quer só existe na sua cabeça. Ele não existe e nunca vai existir realmente enquanto o povo, que realmente tem poder, preferir continuar lotando estádios de futebol e shows artísticos em vez de lotar o plenário de suas câmaras legislativas.
Mais e mais reforço minha crença de que cada um, e a coletividade por consequência, tem exatamente aquilo que merecem.
Nem mais, nem menos.
E quem consegue enxergar um pouquinho melhor a naturalidade de tudo isso, segue observando o cenário, tão aterrorizado quanto incompreendido (e xingado de reacionário).
Mariangela Barreto
21 de junho de 2010 as 15:05
Oi Ronaud,
Penso que a ocasião REVELA O LADRÃO.. simples assim!!!Acredito que existem pessoas idôneas e conscientes,. é dificil encontrar, mas existe.
Quanto a coletividade, vejamos.. sem educação de qualidade e reflexiva fica complicado. Querer discernimento e bom senso para quem segue, assimila as novelas da globo é exigir muito rsrsr.
Mas estamos avançando devagarzinho.. pequenos passos..
a internet como fonte de informação está dando oportunidade de ampliar o universo de contatos e conhecimentos.. enfim.. se cada um fizer sua parte e processar seu autoconhecimento, o todo(coletivo) pode lentamente melhorar o nível, é o que acho!!
Abraços
Mariangela
ronaud
21 de junho de 2010 as 15:34
Mariangela
Sim, que vai melhorando gradativamente, vai, só não sei se estaremos aqui pra ver o resultado rs.
Discernimento e bom senso resultam do interesse das pessoas em buscarem informações e conhecimento. É de interesse que tenho tentado falar… Deve (ou deveria, pelo menos) haver interesse por parte das pessoas em ampliarem sua visão de mundo através do conhecimento. Sempre lembro que meses atrás fui a um sebo e lá encontrei clássicos da literatura a 3 reais. Mais baratos que uma coca-cola. Mas ainda estavam lá, largados e ignorados. Convenhamos que, se há uma “culpa” por esta situação de desprezo ao bom conhecimento, não é só dos governantes ou da mídia.
Ou seja, quero dizer que, salvo raras excessões, o povo também não está nem aí para o seu crescimento pessoal e coletivo.
Carolina Scarpelini
21 de junho de 2010 as 19:19
No caso do Brasil, esse interesse pelo conhecimento é muito pouco estimulado.Por isso o tão importante papel de líderes(os verdadeiros), atitudes que acelerem esse processo, mas o quem vemos é o contrário. Com certeza, agora com a internet, esse processo será muito mais rápido, assim espero.
Mas é claro que com a ajuda de governantes interessados na real evolução de seu povo, aliado a ma mídia com o mesmo objetivo…..enfim, sabemos que nada disso é fácil, nada fácil…mas não é impossível!
O nosso povo sofre de uma alienação muito grande, em todos os setores, político, social,
cultural………………..
Abraço!!
Suzana Duraes
08 de julho de 2010 as 19:42
Ronaud,
concordo com você. O brasileiro se contenta com tão pouco! Às vezes me pergunto: o que faria esse povo sair dessa “zona de conforto”, e que conforto miserável, para ir em busca de uma condição de vida melhor, de melhor educação, saúde, segurança etc.etc.etc.
Sou professora e fico indignada com meu aluno quando ele reivindica o direito a aula vaga porque o professor chegou alguns minutos atrasados. Que mentalidade é essa? Se o direito dele é ter todas as aulas.
Quanto ao bolsa-família chega a ser engraçado. Os pais só comparecerem à escola quando o assunto principal gira em torno desta.
PS.
Gosto muito de seus textos.
Grande abraço
Eduardo Claret
26 de junho de 2011 as 21:05
Ronaud,
já faz um tempo que conheci seu site, e curti pra caramba, mas nunca fiz um comentário.
Eu iria comentar sobre o texto mas prefiro recomendar dois vídeos, não sei se você já assistiu, e depois que assistir espero que você reflita.
Segue os links: http://www.youtube.com/watch?v=1hgZKHkG120 e http://www.youtube.com/watch?v=6xhhk3mAX-o&
Abraço, até mais.
ronaud
27 de junho de 2011 as 2:17
Oi Eduardo, tudo bem?
Primeiramente obrigado por sua presença aqui. Segundamente rs devo dizer que gostei muito da fala do Eduardo Marinho. Realmente não o conhecia.
Só discordo um pouco dele quando ele toca no ponto de “culpar as vítimas”. Nesse ponto, insisto um pouco na idéia de que o povo conspira contra si mesmo. As pessoas de forma geral tem muita preguiça mental o que as deixa deprimentemente acomodadas. Gosto muito de usar um exemplo que eu mesmo vivi (https://www.ronaud.com/atitude/conformismo-vitimismo-desculpismo/): Certo dia encontrei num sebo daqui um livro excelente de La Bruyere por TRÊS reais, na época o mesmo preço de uma coca-cola. Agora me responda, o que o povo de forma geral prefere comprar? Uma coca, uma cerveja, alugar um filme hollywoodiano, ou comprar um livrinho da literatura clássica mundial no sebo (entre várias opções) que vai lhe abrir a mente? Aposto nas três primeiras opções. Agora me responda: A elite é, SOZINHA, culpada por isso?
Sei que o tema é discutível e não quero convencer ninguém, apenas estou expondo minha opinião.
Abraço!!!
Eduardo Claret
27 de junho de 2011 as 18:31
Ronaud,
tudo bem sim, espero que contigo também.
Li seu texto sobre a leitura no Brasil, e entendi seu ponto de vista. Isso eu até concordo, mas acredito que seja cultural. Da mesma maneira que aconteceu com o exemplo da senhora de 96 anos que não parou apesar da idade, acredito que em todo lugar do país isso acontece e não só numa determinada classe social. É só olhar para grupos pequenos de pessoas que se unem para tentar mudar a situação social que eles se encontram. Mas a grande parte da população, que pertence a uma classe social baixa, acaba sendo, como o próprio Eduardo Marinho diz, idiotizada ou ignorantizada.
Utilizando seu exemplo, como você espera que uma pessoa que não possui educação adequada, é quase que totalmente alienada, e que precisa “sobreviver” nesse meio todo conclua que o livro traz mais benefício? Pode acontecer sim, mas talvez se por um instante a gente se colocar no lugar desse povo podemos entender um pouco como culpá-los às vezes pode até parecer arrogante da nossa parte, pois não vivemos o dia-a-dia deles. Isso é o que eu imagino que o Eduardo tentou passar nos vídeos e no blog dele.
Penso que em todos os lugares há pessoas despreocupadas, sem interesse mesmo em mudar algo. Mas não acredito que grande parte da população pense assim e se conforme com isso, não consigo pensar sem considerar a situação que elas vivem e toda essa questão de “sobrevivência”.
Até por isso respondi recomendando os vídeos, que refletem o que eu penso.
Agradeço pelo espaço. Observando os textos e os comentários é meio raro encontrar um lugar onde a galera não entre em modo de combate cada vez que uma discussão se inicia.
Abraço.
ronaud
27 de junho de 2011 as 23:37
Ok, então não estamos falando do povo classe média, e sim do povo classe baixa miserável f*dida, certo? Entendi… Nesse caso é de se considerar que governos adotem uma postura mais ativa para tirá-los do buraco onde se encontram, o que tem sido feito e tem surtido bons resultados (bolsa-familia e cia).
O Eduardo Marinho fala bastante nesse ponto da empatia, que ouvi primeiramente com um outro blogueiro. Realmente, as pessoas de forma geral são muito egoístas e auto-centradas e não conseguem enxergar o outro como um semelhante que precisa de ajuda. Por um lado até me parece natural, não? Os seres humanos não se desenvolveram em tribos (grupos?) É tão errado assim seguir algo tão instintivo? É uma dificuldade da condição humana, eu creio. Se os mesmos “miseráveis” de hoje nascessem em berço esplêndido, tendo sido criados com base numa visão mais “rica”, digamos assim, acabariam agindo da mesma forma. Acho que só não age assim quem nasceu na pior e cresceu na vida. Este não esquece por onde passou.
Penso que se a intenção é encontrar “culpados”, o mais sensato é ser democrático 🙂 nessa distribuição de culpa. No caso da miséria, os ricos tem culpa sim porque para eles está tudo muito bom e enquanto ninguém barrar a estrada, eles vão continuar passando e não olhando para os lados. Mas não consigo deixar de notar que os pobres (ou miseráveis) também tem culpa, pelo comodismo, pela submissão, pela servilidade. Por que aceitar tanto? O mundo é do povo, oras. Basta o povo se rebelar que tudo muda. Não tem sido assim em cada revolução? E porque o povo espera tanto para se rebelar? Não sei, confesso que fico um pouco perdido num tema tão complexo. Encontrar regras e razões para o comportamento humano me parece beirar o contra-senso 🙂
Sobre seu último parágrafo, realmente não tenho obsessão por estar certo. Posso acreditar em alguns pontos de vista, como acredito, mas JAMAIS perco de vista que posso estar completamente errado 🙂
Um abraço!
debora
30 de junho de 2012 as 12:31
nossa agora sinti firmeza em alguem pois olhou com outros olhos,e pode perceber que ladroes nao sao so aqueleles que roubao mercado banco e sim aqueles que estao dizendo que estao cuidando do povo,esta de parabens estou contigo…..