Incoerência
Falaram muito semanas atrás sobre a entrevista da Marília Gabriela ao conhecido e polêmico pastor evangélico Silas Malafaia. Um dos temas da conversa foi se a quantia exorbitante de dinheiro que os pastores arrecadam não seria algo herético.
Não tenho A MENOR implicação com gente rica, muito pelo contrário. Acho a prosperidade um negócio fantástico e que todos a merecem.
Mas a questão dos pastores milionários é complicada não pela prosperidade que alcançaram, já que foi com a doação ~ voluntária e espontânea ~ dos fiéis. E sim porque eles pregam e seguem um ícone religiosos que era sobretudo, despojado, sóbrio e moderado. Jesus, ao que consta nos relatos bíblicos, não dava a mínima para bens materiais, e chegou a tocar o terror num templo onde praticavam negócios.
Então, não é que alguns pastores sejam heréticos, ou ambiciosos ou bandidos, como gostam de lhes referenciar.
São apenas incoerentes.
***
Quem me conhece sabe que questiono MUITO toda e qualquer instituição cristã.
Embora reconheça que elas têm sua utilidade na sociedade, as igrejas católicas e evangélicas têm muito o que ser questionado, tanto em seus atos quanto em suas ideologias.
Mas nunca questiono Jesus, ou a versão de sua vida relatada nos quatro evangelhos.
O pouco que se sabe de Jesus nos mostra um homem que teve uma vida belíssima e corajosa.
Jesus é na verdade o único “cristão” cujas ideias eu respeito.
No que toca à ideologia que seguem todos os outros cristãos que vieram depois dele, supostamente proposta por Cristo, eu respeito muito pouco.
Quase nada.
Porque entenderam tudo errado.
E além de terem interpretado as palavras de Jesus de modo bastante pessoal e, naturalmente, equivocado, ainda inventaram toda uma aura em torno do mestre, que ele próprio evitava. Complicaram o que era simples.
Já aconteceu muito de, durante conversas a respeito desse tema, eu conseguir questionar atos de cristãos com base justamente na vida e no exemplo de… adivinha?
Sim, do próprio: Jesus.
E não é nada difícil questionar isso tudo, não estou me orgulhando disso, porque não é difícil encontrar por aí:
– Gente gananciosa, que adora a um sujeito que viveu sem nada.
– Gente intolerante que rejeita o diferente, mas que adora a um sujeito que acolhia a todos: pobres, doentes, prostitutas. (Ou você acha que Jesus andava com gente bonita igual a você?)
– Gente que afirma que ele é o único senhor e salvador, quando ele JAMAIS pronunciou tais palavras a respeito de si mesmo, e, humilde como era, se sentiria PÉSSIMO sob este título bastante hierárquico, quase militar.
Porque uma habilidade muito própria dos cristãos é adorar a figura mística de Jesus, alardear suas palavras aos quatro ventos, mas seguir o exemplo dele de forma absoluta e precisamente INVERSA.
Mas se eu falo, o pessoal não gosta, acha ruim. Para eles, há uma total conexão entre as igrejas, suas pregações e a vida do Cristo.
Não, não há.
Ele foi basicamente um sujeito que deu a própria vida para percebermos a importância de olharmos ao outro com um olhar mais humano, isto é, mais tolerante e compreensivo.
Enfim.
Não tenho qualquer sensibilidade espiritual, mas posso ver a reação de Jesus a todo esse fiasco que foi a trajetória cristã nos últimos 2000 anos.
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