Reeditando e ampliando texto de maio de 2010:
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Pensadores políticos têm certa dificuldade de ponderar que essa noção de direita x esquerda, depende unicamente da predisposição íntima do indivíduo:
Se ele TEM dinheiro, ou mais, se ele SABE ganhar dinheiro, se ele GOSTA de ganhar dinheiro e não se importa com a ideia de perder dedicar boa parte de seu tempo de vida para o ganho desse dinheiro, é lógico que será de direita, muito provavelmente conservador, com medo de que mudanças o façam perder seu patrimônio conquistado, sendo capaz de apelar à falta de escrúpulos para manter tudo exatamente como está.
Se ele NÃO TEM dinheiro, ou NÃO SABE ganhar dinheiro, ou NÃO GOSTA de dinheiro e não tem predisposição para as exigências de uma vida empresarial, necessária para se ganhar dinheiro, será de esquerda. E por considerar que essa busca louca por dinheiro (muitas vezes através de métodos ilícitos) não faz parte da natureza humana, acreditará ser absolutamente normal que os “muito ricos”, para eles, privilegiados, dividam parte de sua riqueza com os “menos favorecidos”. Até porque para boa parte dos esquerdistas, todo rico é bandido e inescrupuloso, sem exceção, e ao dividir seus lucros com os mais fracos, estaria apenas devolvendo o que tirou deles sob uma suposta exploração. Esperam assim que o governo assuma um posicionamento robinwoodiano, tirando dos ricos malvados para dar aos pobres coitados, fornecendo-lhes onde morar, o que comer, o que vestir.
Simples!
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A verdade é que, ao menos no Brasil, essa distinção é mais bandeira do que ideologia. Aqui é mais razoável se referir aos grupos políticos como Situação e Oposição. Porque também os valores de ambos os lados de certa forma se aproximaram bastante nas últimas décadas. Graças à própria Esquerda, a Direita atualizou seu discurso, humanizando-o. É bem verdade que há uma minoria de direitistas escrotos que são contra o aborto, contra homossexuais, teocráticos, etc. Mas qualquer político que quiser ser levado a sério não pode mais se dar o direito de ostentar essas opiniões.
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Eu achava que isso de direita e esquerda política não existia. Depois, com o tempo, acompanhando alguns pensadores políticos, entendi que essa divisão existe sim. Com um detalhe: A maioria das pessoas é de direita, e não sabe que é de direita. Praticamente toda a classe média, com todo o seu preconceito e com sua ideia de que é absolutamente normal passar a vida inteira trabalhando em troca de dinheiro, é de direita. São pessoas que simplesmente não se importam com essas questões políticas e seguem satisfeitas com o modo como a vida segue. Por outro lado, todo esquerdista sabe que é de esquerda, normalmente por uma postura naturalmente engajada e consciente das falhas da sociedade, e de um idealismo incurável que os motiva a lutar por melhorias.
Esquerda e Direita existem? A resposta mais razoável me parece que talvez a direita exista, talvez não. Mas a esquerda existe de fato e é constituída por pessoas que se recusam a participar do esquema geral das coisas porque discordam desse esquema e pretendem melhorá-lo.
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Na minha opinião, opinião de um observador descompromissado, a direita falha porque se aliena demais das questões humanas, tanto porque está concentrada em ganhar mais dinheiro, como porque não se importa tanto assim com a questão humana. Já a esquerda falha porque vê a busca por dinheiro como a raiz de todos os males da sociedade e vê os pobres como vítimas e coitadinhos.
À direita falta mais empatia com seus semelhantes, isto é, mais humanidade; à esquerda falta uma visão mais lúcida da natureza humana e do capitalismo.
Nem conservadores, nem humoristas acreditam que o homem é bom. Mas os esquerdistas acreditam.
P. J. O´Rourke
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Mas a grande verdade nisso tudo, e não falo aqui de forma demagógica, é que um precisa do outro. O capital, aqui representado pela direita e o povo, aqui representado pela esquerda, precisam um do outro. Essas teorias excludentes nas quais pensa-se que só a direita está certa (e só ela deveria existir) ou que só a esquerda está certa (e só ela deveria existir) propiciariam uma implosão instantânea da sociedade.
É nesse conflito de opostos que a sociedade segue em meio a um desequilíbrio equilibrado e permanentemente improvisado.
Francisco Borges Pereira
26 de setembro de 2010 as 7:46
Ronaud,
Este assunto da direita e esquerda é fascinante! Vivemos num mundo dinâmico e as idéias estão mais que nunca se reciclando. O que se disse é que o individuo da direita é aquele “dono da bola” e que o da esquerda, um “Zé Mané” qualquer… Isso pode soar verdadeiro, mas não é. Ninguém tem dinheiro porque sabe ganhar e quando o individuo nasce ele pode ter qualquer tendência. Dependerá de como for a sua criação… Um exemplo disto encontramos na política: na “esquerda” temos empresários bem sucedidos, mas com idéias. Ideologia sim; pode ser um marco divisório para o assunto!
FBP
ronaud
26 de setembro de 2010 as 13:29
Francisco, obrigado pelo comentário, mas…
“Ninguém tem dinheiro porque sabe ganhar”
Então as fortunas são criadas por acaso? Depende de quem criou os “afortunados”? Desculpe, mas acho que não! 🙂
Com base no discurso do materialismo filosófico (este sistema corrente que “acredita” que tudo acontece com base no acaso), você está certíssimo. Mas não vejo o mundo com esses olhos. Não sou um materialista (filosófico) Acredito muito no poder do indivíduo de se construir e modificar o seu arredor.
Acredito que na “esquerda” temos empresários bem sucedidos que estão ali fazendo a mesma coisa que fariam na “direita”: Financiando as atividades políticas com vistas a facilitar a continuidade de suas atividades depois. O jogo é sempre o mesmo e quem manda nele, politicamente, é o dinheiro.
Ps.: Quem usou termos como “donos da bola” e “Zé mane” não fui eu. Não estou julgando ninguém. Cada um é o que é, e, que bom que há espíritos que já tenham desenvolvido um domínio de si e de sua força de vontade para criar empregos para a massa. E que bom que há a “massa” de gente que produz tudo que precisamos para uma vida mais confortável. Reitero que uns precisam dos outros e não há “um melhor” nessa história.