A maioria de nós, gente comum que trabalha em indústrias ou no comércio para viver, nunca deve ter conhecido um intelectual. Normalmente eles estão nas Universidades ensinando ou nos bares próximos discutindo suas teorias de como mudar o mundo. E, verdade seja dita, normalmente não estamos nem um pouco preocupados com as teorias deles.
Esse mundo da intelectualidade também não faz parte da minha vida. Os únicos tipos de literatura com os quais me agrado se referem a filosofia, sempre a mais prática possível, e espiritualidade. Algo sobre relacionamentos. Pouca coisa além disso.
Mas aqui na internet, acabamos conhecendo diversas coisas sem as quais vivíamos muito bem, e com as quais acabamos nos surpreendendo e refletindo bastante 😉
Para mim, uma dessas coisas diz respeito à divisão política entre a Direita e a Esquerda, já comentada aqui algumas vezes. Clique e veja alguns textos: 1, 2, 3, 4, 5.
Resumindo, em política, a Direita se compõe dos conservadores, capitalistas, que apostam na ideia de meritocracia. Querem conservar tudo como está, para continuar com sua situação bem posicionada, social e financeiramente (que os esquerdistas chamam de privilégios). Conservadores e reacionários são outros nomes que esse grupo recebe. Já a Esquerda se compõe do pessoal que questiona esse esquema todo, como o poder dos capitalistas, a suposta opressão que o povo recebe deles, e propõe diversas mudanças sociais, recebendo portanto, a denominação de socialistas e, ultimamente, progressistas.
Tudo que falei no parágrafo anterior se configura numa enorme generalização, porque a escala desse espectro é bastante graduada. Passa longe do oito ou oitenta, com o que lidamos melhor.
Embora não seja um estudioso dedicado a este assunto (e nem queira ser), o pouco que sei do pensamento de Esquerda me provoca vários questionamentos, principalmente nas questões de dinheiro. Dentre tais questionamentos, cito a visão PREPONDERANTEMENTE negativa que eles têm do dinheiro e de seus detentores, os chamados burgueses; a visão vitimista que eles têm do povo, ou proletariado; e a insistência pela defesa de um sistema – o comunismo – que só gerou ditaduras onde quer que tenham sido implantados.
É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola… Roberto Campos
Tem me surpreendido muito perceber que a maioria dos intelectuais nas universidades brasileiras adotam a visão progressista como visão de mundo, isto é, o pensamento cujo ideal de progresso propõe mudanças baseadas na visão socialista. E tratam com bastante desdém os poucos intelectuais cuja linha de pensamento segue pela Direita. Brincam que intelectual de direita é como cristão paleontólogo: não existe 🙂 Sobre o jornalista Leandro Narloch, que escreveu o ponderado Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, concluem: “jornalista dando uma de historiador“, como se rótulos garantissem a qualidade do conteúdo.
Há quem afirme que essa divisão entre Esquerda e Direita não exista. Eu mesmo pensava assim. E no Brasil, em especial, ela é bastante questionável, já que essa salada de partidos que compõe o cenário político nacional diz muito menos sobre ideologias políticas do que sobre grupos que negociam poder. Ideologicamente, de fato existe uma linha de pensamento de Esquerda, e outra de Direita, mas na prática, o que encontramos são grupos de Oposição (fora do poder) contra os da Situação (no poder).
Quando a esquerda já governa há tempos, ela começa a parecer-se a qualquer coisa. Yuri Herrera
De modo geral, e ideologicamente, enxergo que a Esquerda existe de fato como um grupo auto-denominado “de Esquerda”, que se alheia ao restante, e segue ideais socialistas. Porém é justamente essa mesma Esquerda que mais se refere ao pessoal da Direita, quase sempre através de xingamentos 😉 Só que o pessoal da Esquerda não percebe que a Direita na verdade é constituída pela maioria do povo, em especial as classes alta e média, e principalmente, que esse enorme contingente de gente mal sabe a diferença entre Esquerda e Direita política, e não costuma referir a si mesmo como Direita.
Como esse enorme grupo está mais preocupado com o que vai comprar no shopping logo mais do que com a fome no Brasil, ele também pouco pára pra pensar nos problemas sociais do país ou do mundo, e muito menos em soluções para eles. E os poucos intelectuais que abraçam essa tarefa, ficarão bastante desconfortáveis em dizerem-se “intelectuais de direita”.
Porque à Direita está associado o pior do pensamento (des)humano: a rejeição ao aborto, o racismo, o machismo, a homofobia, ideias teocráticas e moralistas, etc. Ou seja, nenhum intelectual de direita será plenamente de Direita, porque ser de Direita pressupõe como naturais todas essas posturas, mas qualquer sujeito esclarecido se posicionará contra elas.
É o que me faz crer que “intelectual de esquerda” beira o pleonasmo.
Jesus era de Esquerda?
É impressionante a semelhança entre o cristianismo e o comunismo, tanto pela aversão ao acúmulo de riqueza material, quanto pelo aspecto de ideal quase religioso, muito presente no segundo. É o que me faz não conseguir compreender por que o comunismo esteja associado à Esquerda do espectro político e o cristianismo aos grupos políticos de Direita, se ambos defendem visões de mundo essencialmente muito parecidas.
Geoffrey Blainey, em Uma Breve História do Cristianismo, tenta explicar:
“Em teologia e em política, porém, posições que estejam a 10 graus de diferença podem parecer, aos olhos de adversários, estar a 90 graus”
Eu diria: a 180 graus.
* Pra você que não lembra: Pleonasmo é o nome que se dá a expressões como subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, monopólio exclusivo etc.
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