No Brasil, nós normalmente começamos nosso entendimento sobre política através da distinção inicial entre Esquerda e Direita.

Com o tempo, vamos descobrindo novas ideologias, como o Liberalismo, que pode ser de direita, no caso do liberalismo econômico, ou de esquerda, no caso do liberalismo social, cujas fronteiras com o próprio Progressismo não são muito claras. E vamos percebendo que até mesmo dentro desses amplos espectros de Esquerda e Direita há subdivisões.

Existe a esquerda comunista, no caso do PCdoB, existe a esquerda socialista, no caso do PSOL, existe a esquerda trabalhista, no caso do PCO e especialmente, do PT, cujas origens remontam ao trabalhismo inglês. Não parece a uma primeira vista, porém todos militam por visões ideológicas às vezes bem extremas, pelo quê poderíamos enquadrar alguns desses partidos como extrema-esquerda, termo pouquíssimo utilizado pela mídia brasileira.

No centro do espectro temos o PSDB com sua Social-Democracia. Temos o DEM – Democratas – “evolução” do antido PFL – Partido da Frente… veja só… Liberal.

A direita no Brasil não é muito bem representada por partidos. Temos vertentes conservadoras, nacionalistas e liberais. Atualmente, temos os Bolsonaristas, muitos deles em processo de divórcio com o PSL; muitos desses bolsonaristas – não todos – se enquadram no que poderíamos chamar de extrema-direita. Os Bolsonaristas costumam se auto-definir como conservadores. Temos também uma direita mais moderada, formada por dissidentes do bolsonarismo, os quais ainda não possuem uma representatividade partidária. São os que defendem a “Terceira Via”.

Porém tudo que foi dito acima, são rótulos. A realidade mostra-se mais complexa e dinâmica. E uma visão mais aguçada da situação mostra que não há exatamente uma Esquerda x Direita, e sim, quem está no Poder, e quem não está no poder e quer loucamente – custe o que custar – voltar ao poder.

Veja comigo

Trump e Bolsonaro, chamados conservadores, são os que mais defendem a manutenção e geração de empregos; são portanto, os verdadeiros trabalhistas da atualidade.

A Esquerda propaga a defesa dos pobres, e costuma chamar a elite financeira de “burgueses“. Utiliza, no entanto, as forças do Estado como instrumento para a promoção da “justiça social” e faz isso inchando o Estado de funcionários, formando um grande corpo de funcionalismo público, o qual ganha salários usualmente maiores do que a média, e que acabam se tornando, vejam só, uma elite burocrática. A Esquerda, que já foi apelidada até de Esquerda Caviar, e de Socialistas de iPhone, se tornou um grupo elitista. E jamais vai admitir.

Os Bolsonaristas denominam a si mesmos geralmente de conservadores, porém usam as cores da bandeira nacional, cantam o hino nacional, e chamam-se uns aos outros de Patriotas. Aguerridos e passionais – e às vezes grosseiros – os Bolsonaristas não são exatamente, ou somente, conservadores, eles são sobretudo Nacionalistas e parte deles, militaristas.

No Congresso Nacional, e também no Executivo, o atual pleito tenta, na medida do possível, com uma pandemia e um Maia no meio do caminho, implementar várias mudanças, reformas estruturais, e atender a pauta “conservadora” eleita em 2018. Sob este ponto de vista, os Conservadores são os verdadeiros Progressistas da atualidade, pois atuam por mudanças.

E veja só a ironia: Na guerra política, diante das mudanças promovidas – ou tentadas – pelo atual governo conservador, a Esquerda, cujos membros são comumente referidos como Progressistas, está utilizando-se intensivamente do expediente do STF para barrar toda e qualquer mudança. E às vezes, consegue. A Esquerda são os Conservadores da atualidade, cuja reatividade histérica a qualquer movimento do governo, lhes justificaria tranquilamente o adjetivo de reacionários.

Comunismo

Os conservadores brigam muito contra “o avanço do comunismo” no mundo. Eu entendo o que eles querem dizer, mas ao uso do termo comunismo hoje cabem muitas ponderações. Por comunismo, em seu sentido clássico, entendemos que os meios de produção – fábricas, indústrias etc – pertenceriam aos operários. Dizem eles: Se o trabalhador tudo produz, a ele tudo pertence. O comunismo seria um sistema preponderantemente material e financeiro. O comportamento e costumes das pessoas importa pouco dentro desta visão.

Mas aqui temos um problema: A China.

A China é reconhecida até mesmo pela mídia como um país declaradamente comunista. Só que não é. A China tem mais liberdade econômica do que o Brasil, o que explica inclusive o sucesso econômico dela, e nosso atraso permanente. A China é na verdade uma jabuticaba política. Economicamente é um país até mais capitalista do que o Brasil. Mas politicamente é de um autoritarismo total, com um controle absurdo da movimentação política e midiática no país.

Países como Cuba, Venezuela e Coréia do Norte são de fato comunistas, porque não há nesses países liberdade econômica, o que os faz sucumbirem à pobreza.

Os conservadores brasileiros temem que o Brasil se torne um país comunista. Se fosse comunista como a China, em tese, não seria de todo mal. Mas nosso país já é praticamente um país socialista, onde o Estado intervém demais na economia. E o ideal que nosso políticos de esquerda perseguem não é o exemplo chinês, e sim o cubano, venezuelano. Nossos esquerdistas ainda veem o capital e os empresários como seres do mal enviados do inferno. Visão retrógrada e em desalinho com a realidade.

O que os conservadores mais aguerridos chamam de comunismo, é na verdade o progressismo social, movimento profundamente coletivista, e cujos ideais ideológicos dominaram a mídia nas últimas décadas. Maioria dos jornalistas e intelectuais, além de acadêmicos das áreas de humanas e artistas são progressistas. O progressismo é um instrumento de atuação de grupos de poder, no Brasil, em especial, na forma de partidos. Os partidos politizam a miséria particular das pessoas – mulheres que sofrem com o machismo, negros que sofrem com o racismo, homossexuais que sofrem com a homofobia – de forma a fazerem-nas acreditar que, se votarem em tais partidos, seus problemas se resolverão.

Na minha opinião, os conservadores pecam pelo uso do termo, mas acertam na direção.

Salada Semântica

Em termos de natureza e de humanidade, nada fica parado. Sendo a política uma atividade humana, tal dinamismo lhe é natural. Tudo é um fluxo constante de acontecimentos. Este fluxo, no entanto, não acontece de uma semana para outra. Acontece ao longo de décadas – para mais de duas – e só pode ser observado mais claramente ainda bem depois de ocorrido. E a dificuldade de observar estes fenômenos me fazem questionar como é que, ainda assim, a sociedade tende mais para o progresso do que para o colapso.