Nesse novo paradigma online, contemporâneo, em que pode-se viver trabalhando através da internet, sozinho, em casa, onde somos de tudo um pouco e nada por completo (e quem se sente completo?), nossa anonímia torna-se um obstáculo à curiosidade alheia. Às vezes (e ainda bem que só às vezes) sinto falta de um status qualquer que me conferisse algum prestígio ou reconhecimento. Nesses dez anos de atuação profissional transitando entre o design gráfico, o web-design e mais recentemente a escrita, já aprendi tantos conceitos, tantas técnicas, tanto conhecimento, já uma boa experiência, e até uma razoável remuneração, mas uma característica permanece e me incomoda: o anonimato, a indiferença dos próximos, porque não veem nada, não sabem nada de mim. Nesta minha vida profissional totalmente digital sou o que? Web-designer? Blogueiro? Editor de sites? Escritor? (de um… BLOG??? Não… ).
Talvez um mero questionador… E quem se importa? E no quê o reconhecimento alheio vai realmente me ajudar? Para massagear o ego? Cruzes…
Percebeu? Sinto falta de coisas que eu mesmo condeno. Meu nome poderia ser contradição e meu sobrenome não sei o que eu quero 😉
Ainda assim há ocasiões em que questiono essa postura tão livre assim. Porque a impressão que dá é estou seguindo na contramão do mundo. Um mundo que valoriza e se pauta pelas aparências, em que a maioria busca algo que lhes agregue algum valor de fora, como sobrenomes, profissões, contatos *importantes*, carros, roupas, etc. Ter e parecer é o foco. Ser fica para depois. Por mais que eu tenha plena consciência de que o caminho que escolhi não poderia ser mais autêntico e coerente com uma realidade a qual não consigo fingir que não existe e a qual vivo tentando transmitir aos leitores desse site, em certos momentos rola aquela sensação de que se optou pelo caminho errado, sabe…
Daí me pergunto: Será que todo esse povo está mesmo perdido e só uma minoria está se encontrando? Será que essa minoria não está equivocada revivendo o sonho hippie – o e-hippie?
Acho que não.
Essa minoria realmente parece ter se encontrado, mesmo sem aparecer tanto – ou talvez justamente por não aparecer tanto, tendo conseguido mais tempo para olhar para si.
Mas como a Eliane Brum relatou em seu texto, também entra em conflito com o status quo, o que me dá a certeza de que por mais que não digam, essa minoria também tem suas dúvidas.
Tenho tido a impressão, ultimamente, que temos intimamente uma certa necessidade de nos apoiarmos em coisas externas que nos coloquem pra cima para não nos sentirmos tão despercebidos. Quem sabe, ver e ser visto seja algum instinto nosso. Quem sabe nos sentirmos superior aos outros, mesmo que sob algum critério duvidoso, e mesmo que sob forma ilusória, não seja questão de autoestima e saúde mental? 😉 Praticamente todos com quem converso me fazem deparar com as referências de valor: “Ah porque meu primo é médico”, “Ah porque meu irmão mora nos EUA”, “Ah porque meu pai é dono disso e mais aquilo”, “Ah porque meu filho estuda direito”, “Ah porque fulano meu amigo é funcionário público”, “Ah porque meu vizinho é primo do presidente”, Poxa!!! Seus parentes e vizinhos até podem ser alguma coisa, mas vocês são tão medíocres quanto eu.
Ter que ouvir em toda conversa possível, que o interlocutor é, de alguma forma, melhor e superior que você cansa.
Gente carente que precisa de aplauso o tempo todo cansa.
Manter essa humildade por muito tempo cansa.
(Veja bem. Tô longe, muito longe de ser alguém humilde. Porém penso que todos nós temos todas as virtudes e defeitos, só que essas virtudes e defeitos estão distribuídos em diferentes áreas da vida. Por exemplo, todos temos uma super paciência para determinadas tarefas ou circunstâncias, e uma suprema impaciência para outras, de modo que me parece que todos temos também uma super humildade para certas situações, e um supremo orgulho para outras. Ou existe alguém que seja 100% orgulhoso e outro que seja 100% humilde? Acho que não…)
Pois por outro lado, também sabemos que mesmo quem ostenta títulos e sustenta uma posição de “prestígio” na sociedade é tão humano quanto nós, cheio de dúvidas e inseguranças e, não duvido nem um pouco, loucos por uma vida mais simples como a vida de uma maioria como nós mesmos.
Das características mais humanas, quem sabe “não saber o que se quer” seja a mais popular 😉 ou quem sabe ainda sua variação direta “querer o que não se tem”.
Reflito pra cá e pra lá, e volto sempre ao mesmo ponto em que concluo que viver é estar mesmo sob constante tensão. Se tenho uma vida simples, invejo a vida sofisticada dos grandes e, se chego a ser grande, sentirei falta do descompromisso da gente simples.
Complicado, hein?
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