Talvez a lição de vida mais importante que devamos assimilar nesta nossa existência seja aprendermos a ENXERGAR a realidade; aprendermos a aceitar e a conviver com a realidade. Coisa que relutamos em fazer, uma vez que seguimos imersos numa bolha de fantasia a qual nos oculta as muitas circunstâncias nas quais a realidade do mundo se mostra dura, suja, implacável, impiedosa, fria… Todos somos dignos e temos direito de sermos amados, mas de modo geral, estamos aqui pra apanhar 🙂 Fique atento!
O problema começa quando todos nós passamos a ser bem ensinadinhos desde crianças a respeito de um mundo perfeitinho e ideal que existe não se sabe onde, ou quem sabe na Terra do Nunca – eis um nome muito adequado para o que nunca vai existir. Isto se dá através das historinhas infantis, contos de fadas e outras mentiras bonitinhas que nos contaram através dos desenhos animados e continuam nos contando diariamente através de novelas, romances, comédias românticas e outras histórias com finais felizes. E como não nos mostraram o outro lado da moeda, acreditamos… Acreditamos que o bem sempre vence o mal, que o bonito é bom e o feio é ruim, que ruim é o que faz o mal e bom é o que não faz nada, que existe um estado final e permanente de felicidade, que no fim tudo fica bem, que um final feliz entre um casal significa casamento e filhos, que o correto é sacrificar a si mesmo em prol de se fazer o bem aos outros, que mocinhos e princesas não peidam (somente os ogros, né, Shrek) e nunca vão ao banheiro, enfim.
Acreditamos em tudo isso para então vivermos dia após dia de nossa vida surpresos e decepcionados ao percebermos paulatinamente que nada daquilo que nos contaram e com que tanto sonhamos é verdade. A verdade da vida, vamos falar a verdade, é sem graça. Por isso tantos pagam caro para manterem-se iludidos. Das decepções que tive na vida, me saí com a seguinte conclusão: A vida é uma ilusão, e feliz daquele que pode viver iludido.
A angústia é o preço que se paga pela lucidez. (autor desconhecido)
Ora, mas quando rezamos o Pai Nosso, não dizemos em alto e bom som: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”?
Sim, porém quando a vida vai no sentido inverso das nossas ilusões, vontades e manias, todos choramos, não? Quem que está… errado, nós ou a vida?
Sob certo aspecto, Deus e Realidade são a mesma coisa. Devemos aceitá-los, devemos aprender a conviver com a vontade deles. E antes disso ainda, devemos aprender até mesmo a olhar para eles. Não é fácil. Difícil lidar com o orgulho ferido, isto é, com a constatação de que nem todas as nossas ideias loucas a respeito da vida, das pessoas e das coisas vão se realizar. Muito pouco delas vai, se é que alguma loucura sua vai se realizar, e o mais difícil – se manter. A vida tem seus caminhos e quase nunca são os que escolhemos por vontade.
(E não me pergunte até que ponto devemos tomar iniciativas na vida, e a partir de que ponto devemos nos deixar levar pela correnteza da vida. Realmente não sei. Só sei que de fato há esses dois momentos em nossa vida e eles estão sempre se alternando.)
Só sei que o sofrimento surge essencialmente a partir do momento em que abraçamos coisas que não são para nós.
Primeiro nos iludimos belos e faceiros, nos sentimos os tais, poderosos, convictos de que está tudo indo muito bem. Então ou você perde tudo bruscamente, ou então, talvez pior ainda, percebe que seus sonhos não são aquilo tudo que imaginava e se arrasta pela vida toda mantendo-os artificialmente, puramente por orgulho de não dar-se por vencido, de não admitir que errou.
Toda perda não é bem uma perda. É bem provável que muito antes de “perder”, você quis demais. Desculpa, mas talvez você não seja aquilo tudo, talvez não mereça tanto.
É a ilusão que causa o desgosto e o sofrimento, não a verdade. A cada decepção que você teve era a verdade lhe visitando. Sem graça sim, mas a verdade. A decepção é o que mais mata porque faz perder a vontade de viver. É a manifestação máxima do mimo – se não for como eu quero, então não brinco mais.
O perdão não existe, você não perdoa ninguém e NÃO TEM QUE perdoar ninguém. Existe APENAS o seu orgulho e a sua má vontade para largar a ilusão de que as pessoas devem ser como você quer. Quando finalmente entender que a vida, as pessoas e as coisas não têm que ser como você acha ou como você foi ensinado que deveriam ser, o sofrimento cessa. E você começa a enxergar os primeiros raios de luz… uma luz incômoda mas necessária. A luz da verdade!
Elton Pontes
15 de novembro de 2011 as 2:52
Gosto muito de seus pensamentos, são verdadeiros e simples de se entender. Parabéns