Todos nós sentimos medo da morte em maior ou menor intensidade.

Se não é medo, é uma apreensão pelo que poderá vir depois. Quem tem cu…lpa, tem medo.

Ou, a apreensão pelo fim definitivo; o des-existir

Simultaneamente, até mesmo no decorrer dos anos, lamentamos o passar implacável do tempo, e vemos com angústia as coisas passando e a realidade permanentemente mudando, comprovando o filósofo quando disse que a única coisa permanente é a mudança.

♪ Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia ♫

E acho que este é o medo mais autêntico em relação à morte. O medo da perda, sob a ilusão de que em algum momento tivemos alguma coisa sob nossa posse.

Nunca tivemos.

O fato é que não morremos somente lá, no final da vida física.

Nós morremos umas tantas vezes em vida.

Morre a criança para abrir caminho ao adolescente.

Morre o adolescente para ceder espaço ao adulto.

Morre o adulto para abrigar a (esperada) sabedoria da maturidade, mais ou menos lá para o início dos 40 anos.

Morre por fim o humano amadurecido e experiente para abrigar no corpo velho, a alma fatigada.

Você sabe, você já passou por isso.

Você não é mais aquela criança, não é mais aquele adolescente, e sendo agora um adulto jovem, ou maduro, sabe que está em processo de transformação para a próxima fase, esta que vem, gradativamente, dia após dia e, quando ao fim se olha pra trás, não se reconhece como se era há uma década.

Você já viu isso, nos outros.

Há 30, há 20, há 10 anos, as pessoas que você ama eram diferentes e, como eram, não existem mais, morreram. São também hoje outra pessoa, transformada, evoluída, depurada pelos anos vividos e, embora naturalmente, são hoje outra pessoa, às vezes irreconhecível.

Até que enfim, o corpo envelhecido e arruinado perde seu último fôlego, para, queiram os deuses, abrir caminho para a alma, agora mais leve e plena, em direção às maiores alturas da existência.