Pastéis e Recomeços – Crônica
Eu sou o doido dos pastéis e coxinhas.
Não posso ver uma lanchonete que paro para comer esses lanches tipicamente brasileiros.
Em Itajaí, onde vou a cada passo cuidar de um prédio de aluguéis, havia uma pastelaria excelente, no bairro São João.
Quem cuidava era uma Senhora, que aparentava ter passado dos 50 anos.
Os pastéis eram excelentes, e nos últimos tempos, lanche e café eram servidos em pratos e xícaras ornamentados, dando ao momento um ar de botequim dos anos 50.
Até que um dia, ao chegar lá, havia uns homens jogando sinuca numa sala posterior, um senhor de pé com uma pinga na mão, e um sujeito meio esquisito atendendo no balcão. Cheiro de cerveja secando vindo dos engradados de garrafas vazias. Havia um ar de boteco no espaço. Não gostei.
Pedi o pastel e café de sempre, mas o que recebi foi um pastel velho e mole, e um café morno. Comi com dificuldade.
Ao pagar, a esposa do senhor do balcão, de aspecto mais simpático também estava lá. Vi que iniciavam novas atividades no espaço.
Perguntei sobre a antiga dona do estabelecimento, se tinha vendido o ponto, e disseram que ela precisou se desfazer do negócio, porque estava com câncer e precisava se tratar.
Foi uma tristeza. Além de ver o local que melhor me atendia deixar de funcionar, a responsável pelos detalhes que tornavam o local especial, estava muito doente, a ponto de abandonar tudo para se cuidar.
E assim ficou.
Nas proximidades do meu predinho de kitnets, montaram uma pequena padaria, num prediozinho antigo de esquina há mais ou menos um ano, talvez um pouco menos. Já havia uma padaria ali muito antes, mas tinha fechado e o local vinha desocupado.
Era bom também, atendimento, lanches, espaço. Até o preço das coisas era bom, tudo muito barato. E talvez por isso mesmo, não sobreviveram.
Ô tristeza. Há um mês passei lá e já estava fechado.
Eu tenho mesmo um certo azar com isso. Eventualmente algum estabelecimento ou prestador de serviço com o qual me identifico acaba fechando, sumindo.
Mas logo depois, vi que estavam pintando a fachada novamente, e que no letreiro pintaram o mesmo nome daquela pastelaria do São João que eu frequentei muitas vezes.
Ontem, estava aberta. E fui lá comprar aquele lanchinho de sempre.
Eis que quem me atende, era aquela Senhora que havia ficado doente.
Ela me reconheceu. Trocamos algumas palavras.
Fiquei muito, muito, muito feliz de vê-la voltando às suas atividades novamente, agora até mais próximo do meu endereço na cidade.
Havia algo diferente nela. Naqueles tempos atrás, ela andava pra lá e pra cá trabalhando, parecia meio anestesiada, no automático.
Desta vez, ela parecia mais jovem, mais lúcida, mais presente.
Parecia estar realmente prestando atenção ao que fazia.
A inconsciência parece ser o mais imperdoável dos pecados.
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